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Por segundo, 4 mil litros de esgoto

OESP, Metrópole, p. C3
31 de Mar de 2006

Por segundo, 4 mil litros de esgoto
Para especialista, Estado deveria priorizar tratamento em lugar de pensar em bombear água para a Billings

Bárbara Souza

A pequena contribuição natural de nascentes e córregos e a vazão limitada tornaram o Pinheiros um rio quase morto. Para piorar, ele recebe 4 mil litros de esgoto por segundo, lançados por 300 mil residências. A cor mais escura que a do Tietê é resultado da grande quantidade de detritos, aliada à ínfima vazão de 10 metros cúbicos por segundo ao longo dos seus 23 quilômetros.

Mesmo assim o governo do Estado quer reverter a água do rio para a Represa Billings. "O governo deixa de investir no manancial, importante para o abastecimento, e investe em outra coisa, que não vai resolver o problema", afirma o planejador ambiental Renato Tagnin, professor do Centro Universitário Senac e um dos coordenadores do Projeto Billings.

Tagnin elogia a técnica de flotação proposta para o Pinheiros, mas diz que ela é usada para tratar volumes pequenos. "Além disso, o tratamento do rio deve ser feito depois que todos os esgotos forem conectados. Não podemos correr o risco de receber essa água na Billings." Ele acredita que há outros interesses em jogo além da questão do abastecimento.

A reversão do rio permitirá aumentar a produção de energia da Usina Henry Borden, mas o promotor de Meio Ambiente Geraldo Rangel acredita que isso não justifica a adoção da flotação. "É besteira pensar em geração de energia, porque há excesso de oferta no País", diz Rangel, que fez uma pauta de exigências com mais de 70 páginas para o Estado cumprir antes de iniciar os testes.

O governo aposta tudo no projeto. "A idéia é devolver à cidade um dos rios mais importantes do Estado", diz o diretor de Geração da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), Antonio Bolognese.

Tão importante quanto o Tietê na capital, só que mais poluído, o Pinheiros tem sido, desde os anos 30, um depósito de lixo. Só recentemente vem recebendo tratamento mínimo para despoluição. "Coletar esgoto já é um avanço, mas não é suficiente", diz João Francisco Soares, especialista em engenharia ambiental e sanitária do Instituto de Engenharia.

Soares é favorável ao início dos testes e diz que a comunidade acadêmica está ansiosa para saber os resultados. "Para ter o relatório (de impacto ambiental), é fundamental que sejam feitos os testes." Mas ele lembra que, mesmo com as duas obras, o rio vai continuar sofrendo com a poluição difusa. São tiradas anualmente 4 mil toneladas de garrafas plásticas do seu leito.

Grupo Estado faz campanhas pelos rios da cidade

O Grupo Estado vem levantando bandeiras pelos Rios Pinheiros e Tietê. A primeira campanha, da 'Rádio Eldorado', foi em 1991, pela despoluição do Tietê. Começou com um programa produzido com a 'BBC' de Londres. Simultaneamente, dois repórteres navegaram pelo despoluído Tâmisa e Tietê. Ouvintes indignados fizeram o maior abaixo- assinado da América Latina por uma causa ambiental, com mais de 1,2 milhão de assinaturas. Pelo Rio Pinheiros, o 'Jornal da Tarde' iniciou o Projeto Pomar, de recuperação da vegetação das margens, em parceria com o governo.

OESP, 31/03/2006, Metrópole, p. C3

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