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Por causa da escassez de agua, China volta a era das bacias

OESP, Cidades, p.C4
16 de Mar de 2004

Por causa da escassez de água, China volta à era das bacias
PAULO VICENTINI Especial para o Estado
PEQUIM - A falta de água na China atinge o cotidiano de 400 milhões de pessoas em 460 cidades e ameaça o ritmo de crescimento e industrialização do país. Especialistas apontam como principais fatores da crise o desequilíbrio natural dos recursos hídricos, o agravamento dos seculares problemas ambientais durante o período maoísta e a velocidade do crescimento econômico decorrente do processo de abertura e reforma, inaugurado em 1978.
Na capital, a escassez de água se reflete nos preços, cortes de fornecimento e nas rigorosas medidas para contenção do consumo. O custo de um metro cúbico (mil litros) é de 4 yuans (US$ 0,48) e influencia tanto o orçamento familiar quanto a qualidade da prestação de serviços em Pequim. Bares e restaurantes evitam lavar louça em água corrente, valendo-se ainda das velhas e gigantes bacias de plástico.
A cidade enfrenta há cinco anos a pior seca de sua história. O consumo de água foi limitado a 300 m3 por pessoa por dia. Desvios de água de outras províncias são freqüentes.
Desde 2003, estão em andamento obras para a transposição de parte da vazão fluvial (960 bilhões de m3 anuais), para socorrer as reservas do norte, com investimentos anuais de US$ 580 milhões e a criação de 1,8 milhão de empregos.
O país tem 1,292 bilhão de habitantes e crescimento demográfico de 1%. As taxas de crescimento econômico são altas: nos últimos 25 anos, tiveram média de 9%.
Poluição - O subdiretor da Administração Estatal de Meio Ambiente, Pan Yue, alerta: "A China enfrentará uma grave escassez de recursos naturais se forem mantidos os atuais índices de crescimento e de contaminação ambiental."
Há 50 mil rios na China. Embora o país detenha a sexta reserva mundial de água doce, com 2,8 trilhões de m3, ou 6,8% das reservas mundiais, ocupa o 880.o lugar na distribuição per capita (2.500 m3).
O ministério dos Recursos Hidráulicos estima que o déficit de água no norte e noroeste do país esteja entre 15 e 21 bilhões de m3, podendo alcançar 28 bilhões em 2010 e 39 bilhões de m3 em 2030. A escassez levou o governo a anunciar a redução da taxa de crescimento para 7% em 2004.
Segundo o cientista Niu Weiyuan, da Academia de Ciências da China, a média de crescimento entre 1985 e 2000, de 8,7%, cai para 6,5%, se considerados custos sociais e ambientais. "Grande parte do crescimento chinês foi obtido a partir da exploração de recursos e de interesses que deveriam ter pertencido a nossos filhos."
A seca atinge a cidade de Tianjin e as províncias de Hebei, Shandong, Henan, Guangdong e Jiangsu. No centro e oeste, ela assola Sichuan, Shaanxi, Shanxi e Gansu, e as regiões autônomas do Xinjiang, da Mongólia e de Ningxia.

OESP, 16/03/2004, p. C4

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