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Por Belo Monte, vale até passar por cima das leis. Inclusive as da matemática

Amazônia - www.amazonia.org.br
31 de Mai de 2010

Para construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, vale tudo: conceder uma licença que desconsidera os estudo técnicos feitos pelo próprio instituto, fazer um leilão de fachada que durou sete minutos, e por aí vai.

As leis ambientais e de licenciamento e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) foram desrespeitadas para gerar "progresso" ao País. A novidade é que, além de tudo isso, agora são violadas as leis da matemática para mostrar que Belo Monte "nem causa tanto impacto assim".

Foi isso o que fez o professor da Unicamp, Rogério Cezar de Cerqueira Leite, em artigo na Folha de S. Paulo do dia 19 de maio. Segundo ele, os 500 km² de florestas que Belo Monte vai desmatar não são nada, afinal é a "mesma área que, em média, tem sido desmatada a cada dois dias nesses últimos anos, devido ao comércio de madeiras e à invasão da soja e do gado na Amazônia".

O professor da UnB Ivan de Toledo Camargo foi além. Disse, em reportagem da Agência Brasil do dia 27 de maio, que "Belo Monte equivale a menos do que é desmatado diariamente na Amazônia. Nos últimos anos, em média, todo dia são pelo menos 500 quilômetros quadrados a menos de florestas".

Da onde saíram esses números, é um mistério. Se todo dia 500 km² fossem derrubados, o desmatamento anual da floresta seria de aproximadamente 180 mil km² (ou 90 mil km², se fossem 500 km² a cada dois dias). Médias muito menores que essa já justificaram protestos, polêmicas intermináveis entre governos, e até um editorial do NYT propondo a internacionalização da Amazônia!

Vejamos quais são os números reais. De acordo com o Inpe, instituto que faz o monitoramento oficial do desmatamento da Amazônia, em 2009, o total anual desmatado foi de 7,4 mil km². Em 2008, esse número foi um pouco maior: 12,9 mil km².

Já o Imazon, instituto que faz um monitoramento independente, registrou uma quantidade de devastação menor, porque usa uma metodologia diferente, distinguindo o que é desmatamento e o que é degradação. Segundo o Imazon, foram 1,7 mil km² desmatados em 2009 e 5 mil km² em 2008.

Tanto os números oficiais quanto os do Imazon são altos e alarmantes, sem dúvida. Ainda assim, passam longe das estimativas dos professores e da devastação que será causada pela usina.

Em junho de 2009, mês do verão amazônico que teve uma das maiores taxas de desmatamento no ano, perdemos 580 km² de florestas. Então, uma comparação mais justa seria a de que Belo Monte vai desmatar a mesma área de florestas que madeireiros e pecuaristas derrubaram em um mês inteiro da época do ano em que a devastação da Amazônia é mais intensa.

Caso se prefira a comparação diária, podemos dizer que foram desmatados 20 km² de florestas por dia em 2009. Traduzindo, Belo Monte vai desmatar 25 vezes mais do que a média diária de desmatamento da Amazônia em 2009. E mesmo a média da década, que teve anos com taxas altíssimas de desmatamento, como 2003 e 2004, é de 50 km² por dia, dez vezes menos do que Belo Monte vai desmatar.

Isso para falar só do desmatamento oficial que será causado pela formação do lago da usina. Além disso, as expectativas são de que uma obra como Belo Monte, no coração da Amazônia, estimule ainda mais o desmatamento causado pelos pecuaristas e madeireiros citados por Cerqueira Leite.

Será que professores de duas das melhores universidades do país não souberam fazer conta? Pouco provável. O que provavelmente está em curso é uma estratégia de subdimensionar e minimizar os impactos de uma obra tão polêmica como Belo Monte, para, quem sabe, torná-la aceitável aos olhos da população.

http://www.amazonia.org.br/opiniao/editorial_detail.cfm

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