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Por água abaixo

FSP, Editoriais, p. A2
10 de Dez de 2014

Por água abaixo
Chuvas aquém da média não criam dificuldades só para o abastecimento urbano; geração de eletricidade também suscita preocupação

Novembro foi o mais frustrante dos meses. Trouxe chuvas, verdade, mas abaixo da média sobre os reservatórios de que grandes centros do Sudeste dependem para obter tanto água quanto eletricidade.
Na região metropolitana de São Paulo, é natural que as atenções se voltem para o estado das represas que abastecem a população.
A mistura cáustica de estiagem recorde com a falta de planejamento da Sabesp e a dissimulação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) corroeu a confiança nas autoridades. Com as torneiras perto de secar, o cidadão não tem ideia do que o poder público fará caso o pior cenário se materialize.
Não bastasse a insegurança hídrica, a baixa pluviosidade oferece também motivos fortes para preocupação com a energia elétrica. Nada ainda que sugira estar próxima uma crise do porte do apagão de 2001, mas tampouco longe o bastante dessa perspectiva para pôr o alarme de lado.
Considerado só o aspecto dos reservatórios, a situação em realidade se mostra pior que a de 2001. A precipitação do mês passado ficou quase um terço abaixo da média dos últimos 80 anos. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o volume de água estocado no Sudeste no final de novembro equivale a meros 16% do potencial de geração, contra 22% no mesmo mês do ano do apagão.
O problema atual só não é comparável ao de 2001 porque o país hoje conta com um parque de usinas termelétricas para suprir o deficit de hidreletricidade. No entanto, o custo da energia de fonte térmica é muito maior, o que onera distribuidores e consumidores.
Dois outros fatores se somam aos preços para agravar a apreensão com o setor elétrico.
O primeiro são os atrasos nas obras de linhas de transmissão, fundamentais para canalizar a energia de novas usinas e para robustecer o sistema --quanto mais interligado ele for, mais flexível se torna a gestão das cargas pelo ONS. Apenas 82 dos 388 projetos em curso têm os cronogramas em dia, e 27 estão adiantados.
O outro fator é a eficiência energética. O Brasil desperdiça 10% de sua eletricidade. Ganhos significativos poderiam vir com a troca de equipamentos domésticos e a readequação de projetos industriais.
Entretanto, relatório do Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável noticiado pelo jornal "Valor Econômico" dá conta de que o país só usa 30% do potencial para reduzir o consumo de energia. Há R$ 400 milhões em linhas de crédito para isso, mas elas são pouco utilizadas.
Como no caso da água para abastecimento, o setor energético precisa se ocupar mais com a gestão da demanda e menos com obras cujo gigantismo serve mais às empreiteiras do que para resolver necessidades prementes da população.

FSP, 10/12/2014, Editoriais, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/199366-por-agua-abaixo.shtml

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