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Pontos iluminados na floresta tropical

OESP, Geral, p.A11
Autor: KELLY, Brian;LONDON, Mark
23 de Abr de 2004

Pontos iluminados na floresta tropical
BRIAN KELLY e MARK LONDON The New York Times
WASHINGTON - O grito de guerra "Salve a Amazônia!" voltou a soar este mês quando o governo brasileiro informou que o desmatamento da floresta tropical atingiu níveis quase recordes - com uma área maior que o Estado americano de New Jersey desaparecendo no ano passado.
No Dia da Terra, ontem, grupos ambientalistas globais encheram suas páginas na internet com as usuais previsões de quanto vai demorar para todas as árvores da região desaparecerem (de 20 a 50 anos).
Recentemente, o governo brasileiro anunciou mais outra iniciativa para combater o problema com seriedade. Mas a notícia foi bem recebida por outros que também se preocupam bastante com o ambiente. A maioria deles vive de fato na Amazônia.
As razões do aumento do desmatamento são muito mais complicadas do que costumavam ser e a solução para salvar a floresta tropical pode ser mais desenvolvimento, não menos.
Os fatos mudaram, como descobrimos viajando milhares de quilômetros pela Amazônia neste ano. Outrora o uso e o abuso da região foram sinônimos. Em vários casos, o melhor desenvolvimento era não haver nenhum desenvolvimento: havia poucos usos alternativos da floresta que justificassem sua destruição.
Não é mais assim. Pecuaristas e agricultores brasileiros com conhecimento técnico criaram grandes e lucrativas fazendas de gado e soja. Algodão, milho e arroz, alternados adequadamente, prosperam no solo delicado. No ano passado, o Brasil superou os EUA nas exportações de soja.
Os fatos no solo dão todos os indícios de que a Amazônia pode ser usada para objetivos múltiplos. Talvez entre 60% e 70% do território - até 2,6 milhões de km2 - devam permanecer intocados, deixados de lado porque o solo é pobre demais ou a biodiversidade, rica demais.
O resto, porém, pode ser usado. Há muito na região: uma nova e promissora fronteira agrícola, depósitos gigantes de ferro e bauxita, criação de peixes, energia hidrelétrica e até algumas reservas de petróleo e gás natural.
Tomar uma posição de isolamento é ignorar a realidade e tornar impossível o trabalho com aqueles que têm o capital para fazer mudanças produtivas no meio ambiente. Apesar de discussões recentes entre as organizações de ajuda, o setor privado e o governo brasileiro sobre novos desenvolvimentos da malha rodoviária terem sido promissoras, muito do debate continua preso a velhas mitologias.
Banco Mundial e União Européia, por exemplo, são concentrados em preservação ou, às vezes, em "desenvolvimento sustentado", termo tão aberto a interpretações quanto a não ter sentido. Além disso, os governos ocidentais demoraram a ajudar o Brasil numa área importante: policiamento. O País tem leis ambientais progressistas, mas não dispõe de fontes para garantir que sejam seguidas. O desenvolvimento é caótico.
Há muito tempo, os brasileiros debatem sobre como lidar com a Amazônia e ficam na defensiva quando discutem o assunto com estrangeiros. Ao mesmo tempo, têm uma argumentação.
Os europeus e americanos "gritam quando cortamos uma árvore, mas não gritam quando uma criança morre ou não recebe educação", diz Blairo Maggi, grande produtor de soja e governador de Mato Grosso. "Se querem nos ajudar, então que nos ajudem a nos ajudar." E o que dizer para as famílias de colonos que abrem caminho pela selva desmatando e queimando em busca de vida melhor? Que a fronteira está fechada? Que eles devem voltar para as favelas do Rio e São Paulo? A verdadeira novidade sobre a Amazônia é que as novidades não são de todo más. A região tem potencial para ser o próximo celeiro do mundo - e pode continuar sendo a mais importante floresta tropical virgem da Terra.
Para que isso ocorra, porém, é preciso que as pessoas se atualizem sobre a região, entrando em sintonia não de forma idealizada, mas com realismo.

OESP, 23/04/2004, p. A11

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