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Ponto crítico: O uso de transgênicos deve ser liberado?

CB, Política, p. 3
Autor: BORLAUG, Norman; LONDRES, Flávia
12 de Fev de 2004

Ponto crítico: O uso de transgênicos deve ser liberado?

Sim

Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz de 1970, professor de Engenharia Genética de Alimentos na Universidade do Texas, cientista genético e especialista na área florestal.

Os ambientalistas não conhecem de perto o problema da fome, da miséria que mata crianças pelo mundo subdesenvolvido. Os estudos sobre os organismos geneticamente modificados demonstram segurança e eficácia produtiva. Nos Estados Unidos e na Argentina, o milho e a soja transgênica são utilizados há mais de cinco anos e não existem provas de que esses alimentos tenham causado problemas à saúde humana, de animais ou ao meio ambiente. Risco de acontecer problemas sempre existe. Quem persegue um procedimento científico ideal, sem riscos, acaba não fazendo nada.

Não acredito serem necessários estudos prévios de impacto ambiental. Só atrasa o processo. Isso é coisa de purista, de gente que está acomodada na situação atual. A ciência ficaria estagnada se seguisse esse caminho. Quando inventaram a vacina contra a varíola, achavam que ela poderia deformar as crianças. Hoje nós contabilizamos todos os benefícios que essa vacina trouxe para a saúde pública mundial.

O Brasil, se impor regras muito duras à pesquisa e comercialização de transgênicos, vai ficar para trás em termos econômicos, tecnológicos e, sobretudo, nas iniciativas de combate à fome. Não há dúvidas de que os transgênicos aumentam a produtividade e evitam o uso de pesticidas. É uma hipocrisia lutar contra isso, até porque a soja transgênica já entrou contrabandeada pelo Sul do país vinda da Argentina. O governo tem que regular a produção para garantir a segurança necessária à população. Isso é o que importa.

Nos Estados Unidos, nós não nos preocupamos com rotulagem de transgênicos nos alimentos porque temos a certeza de que tudo está regularizado. Acho essa história de rotulagem uma bobagem. Quem fica vendo esses malditos rótulos?

Não

Flávia Londres, engenheira agrônoma, técnica da ONG Assessoria em Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (ASPTA) e coordenadora do Movimento por um Brasil Livre de Transgênicos.

Sou contra a liberação, pelo menos até que sejam feitos estudos que comprovem que não há perigos para a saúde humana e para o meio ambiente. Não somos contra os transgênicos, mas até agora os riscos não foram avaliados. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Food and Drug Administration (FDA) liberou o plantio e comercialização de produtos geneticamente modificados apenas com base em análises apresentadas pelas próprias empresas de transgênicos. A agência reguladora americana não fez nem solicitou estudos para comprovar esses testes. Só existem até agora sete estudos experimentais com cobaias para avaliar os efeitos de transgênicos no organismo. E todos eles apontam para a necessidade de análises adicionais antes de uma conclusão.

Mas estudos feitos na Irlanda com ratos que consumiram batatas transgênicas apontaram problemas de desenvolvimento cerebral, gastro-intestinais e perda de peso. Não significa que esses problemas ocorrerão com o ser humano. Na verdade, os riscos para a saúde humana são imprevisíveis simplesmente porque não foram feitos estudos aprofundados sobre o tema. O que temos por enquanto são indícios que precisam ser esclarecidos. O Laboratório de York, na Inglaterra, demonstrou em um estudo que os índices de alergia a soja aumentaram em 50% nos anos de 1997 e 1998, justamente quando se iniciou a comercialização de soja transgênica no país. E para o meio ambiente há sinais ainda mais fortes.

Está claro, por exemplo, que o milho transgênico contamina a plantação convencional, a ponto de colocá-la em risco. Foi o que aconteceu no México. No Canadá, a canola transgênica tornou-se uma praga, resistente aos herbicidas modernos. Não somos contra os transgênicos. Não descartamos o potencial tecnológico. Mas até o momento não existe segurança na utilização.

CB, 12/02/2004, Política, p.3

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