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Poluição e mudanças climáticas

CB, Opinião, p. 23
Autor: BARROS, Ruy de Goes Leite de
27 de Set de 2006

Poluição e mudanças climáticas

Ruy de Goes Leite de Barros
Diretor do Programa de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

Na semana passada comemoramos o Dia Internacional da Cidade Sem Meu Carro, movimento que propõe uma reflexão sobre como conviver com o transporte individual, que marcou a identidade do século passado, transformando-se em símbolo de autonomia e status.

Na mesma semana um fato veio colaborar para essa reflexão: o processo aberto pelo governo da Califórnia contra as montadoras de veículos automotores em razão da contribuição dos mesmos para o aquecimento global. A decisão abre a discussão de alguns aspectos interessantes.

Primeiro, evidencia a crescente adesão informal dos americanos ao Protocolo de Kyoto. Apesar da negativa do governo Bush em assinar o Protocolo, uma coalizão de estados e municípios americanos vêm adotando medidas visando à redução de emissões de gases de efeito estufa. Hoje, cerca de 40% dos cidadãos daquele país moram em municípios que adotam medidas para reduzir essas emissões, um dado animador para aqueles que em todo o mundo defendem medidas severas para se conter o aquecimento global.

Segundo, problematiza o papel do setor de transportes, responsável por cerca de 30% das emissões globais. Nisso, o Brasil encontra-se em situação privilegiada por contar com o programa de uso de biocombustíveis mais avançado do mundo. Temos 30 anos de experiência com etanol, para cujo suprimento contamos com robusta estrutura agrária e industrial, e iniciamos promissor programa de uso do biodiesel. Com isso, reduzimos a queima de combustíveis fósseis e o conseqüente aumento das emissões de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa.

Os automóveis emitem diversos poluentes prejudiciais à saúde além do dióxido de carbono. No Brasil, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) apresenta-se como um bem-sucedido exemplo de soma de esforços do governo e iniciativa privada. As medidas adotadas pela indústria automobilística como adoção de injeção eletrônica e o uso de catalisadores diminuiu significativamente as emissões. Em seus 20 anos de funcionamento, o Proconve fez com que os automóveis produzidos hoje emitam 99% menos de monóxido de carbono e 80% menos material particulado que um veículo similar produzido antes do programa.

Finalmente, nestes dias em que se observa, por um lado, o aumento do consumo de petróleo e seus derivados e, por outro, uma crescente escassez desse combustível, associada com problemas geopolíticos e restrições a seu uso devido ao aquecimento global, questionar o uso indiscriminado do transporte individual é extremamente saudável. Pensar em soluções para isso pressupõe o incentivo ao transporte coletivo de boa qualidade, ciclovias e, sempre que possível, deslocamentos a pé. Mas passa também, enquanto ainda dependemos dos automóveis, pelo aperfeiçoamento constante dos novos modelos, que devem buscar melhor eficiência quanto ao consumo de combustível e à diminuição progressiva nas emissões de dióxido de carbono e dos outros gases prejudiciais à saúde. Nisso, o Brasil tem a oportunidade e a responsabilidade de liderar internacionalmente a produção e o uso de biocombustíveis, podendo vir a ser não somente um exportador de etanol e biodiesel, mas também de tecnologias de processo e produto.

CB, 27/09/2006, Opinião, p. 23

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