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Policia vai indiciar braco direito de Dorothy

OESP, Nacional, p.A10
03 de Mar de 2005

Polícia vai indiciar braço direito de Dorothy
Funcionário de madeireira acusa técnico agrícola de ameaçá-lo de morte
Lourival Sant'Anna
Enviado especial
A Polícia Civil de Anapu vai indiciar hoje o técnico agrícola Geraldo Magela de Almeida Filho, braço direito da irmã Dorothy Stang nos assentamentos, e José Rodrigues Silva, o Zé Dentista, um pioneiro da ocupação da área próxima de onde a missionária foi morta há duas semanas. Os dois foram acusados por Lourival Gomes do Nascimento, ajudante de tratorista da madeireira L. Ungaratti, de o terem ameaçado de morte. O delegado Marcelo Ferreira de Souza Luz suspeita do envolvimento deles no assassinato do colono Adalberto Xavier Leal, ocorrido 16 horas depois da morte de Dorothy, no dia 12.
Lourival contou ao Estado que às 13 horas daquele dia estava descansando num barracão na fazenda do madeireiro Luís Ungaratti quando chegaram 12 homens armados de espingardas e revólveres, liderados por Magela e Zé Dentista. Apontando-lhe as armas, o grupo teria obrigado Lourival a caminhar 6 quilômetros para mostrar onde ficava o outro barraco da fazenda. Havia dois funcionários em cada barraco. Os quatro foram expulsos da fazenda, que fica a 5 quilômetros da entrada do projeto de Assentamento Esperança, onde a irmã Dorothy havia sido morta pela manhã.
De acordo com Lourival, Magela lhe teria dito: "Quando tu chegar na cidade, não abre o bico porque senão Anapu vai ficar pequeno para ti." Lourival, no entanto, registrou queixa na delegacia da cidade. Em seguida, sua mulher, grávida de quatro meses, foi abordada na rua por um motociclista não identificado, que lhe teria dito: "Você vai ficar viúva." A mulher e os três filhos do casal já deixaram Anapu. Lourival, de 32 anos, não saiu mais à rua, e também se prepara para se mudar da cidade.
ALCANCE
"Não tenho conhecimento disso", reagiu o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, Francisco de Assis dos Santos Souza, o Chiquinho do PT, também muito ligado a Magela. "Não está ao meu alcance." O Estado não conseguiu falar ontem com Geraldo Magela. Sua irmã, Dilanir, que vive em Altamira, disse que ele passaria a noite no sítio dos pais, que fica a 50 quilômetros de Anapu, às margens da Transamazônica. A localidade não tem telefone. Magela está na lista dos beneficiados pelo Programa Estadual de Proteção a Defensores dos Direitos Humanos Ameaçados, que ainda está sendo implantado. Quando está em Anapu, ele fica numa escola que serve de base para o contingente do Exército enviado à cidade depois do assassinato de Dorothy.
Zé Dentista disse que não conhece Lourival de nome, mas negou que tenha ameaçado alguém de morte. "Isso não aconteceu, ele está mentindo", assegurou Zé Dentista, cujo lote de 100 hectares fica de frente para a fazenda de Ungaratti. "Queria que ele viesse provar isso na minha cara." Zé Dentista afirmou que o máximo que pode ter feito com funcionários da madeireira foi avisar: "Sai, se não você morre. Vocês se retirem."
O delegado de Anapu vê uma possível relação entre o episódio da ameaça aos funcionários da madeireira e o assassinato de Adalberto, conhecido como Cabeludo, ocorrido às 23 horas do mesmo dia 12. Segundo relatos de Ana Maria Rodrigues Silva, viúva de Adalberto, e de Manoel da Silva Moraes, que dormia na choupana onde ocorreu o assassinato e saiu às pressas quando os matadores chegaram, eles eram também um grupo de homens armados, com características semelhantes aos que ameaçaram Lourival, embora nenhum tenha sido identificado. Manoel contou à polícia que eles tinham vindo atrás de objetos que Adalberto teria retirado de um barracão do capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ter contratado os pistoleiros que mataram a irmã Dorothy. Adalberto estava trabalhando para ele naqueles dias.
Magela é considerado uma "cria" da irmã Dorothy. Por intermédio de sua associação de conservação e exploração de recursos florestais (Asceefa), que ele criou sob orientação da missionária, Magela obtinha recursos do Incra para gerir os Planos de Desenvolvimento Sustentável implantados por Dorothy. Quando chegou à região, em 1982, a missionária americana se instalou numa casa perto de onde mora a família de Magela.
Ao lado do sítio do pai dele, Dorothy comprou um terreno e o dividiu ao meio. De um lado, fez um cemitério, onde dizia que queria ser enterrada. A outra parte ela deu para Geraldo e seu irmão Giovane morarem e montarem sítio.

OESP, 03/03/2005, p. A10

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