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POLÍCIA USA A VIOLÊNCIA CONTRA ÍNDIOS XOKLENG

Cimi
15 de Mar de 2001

Os Xokleng da área indígena La Klãnõ, denunciam uso de violência e truculência pela Polícia Militar (PM) de Santa Catarina. Na manhã do dia 12 de março 35 policiais militares, acompanhados de quatro funcionários da madeireira Manoel Marchetti Ltda invadiram a área indígena, no município José Boiteux. Sob o argumento de cumprir liminar em ação de
manutenção de posse em favor da madeireira, os militares atacaram índios que transitavam em estradas no interior da terra indígena. Oito Xokleng foram feridos. Seis foram algemados e sofreram violência física ao serem levados para a delegacia onde ficaram detidos por algumas horas e depois liberados após abertura de inquérito. Os índios responsabilizam o Ministério da Justiça pela violência. Em função de pressão de políticos
e empresários regionais o governo federal protela desde dezembro do ano passado a publicação da portaria que declara e demarca os novos limites da terra indígena. A madeireira Manoel Marchetti se aproveita desta morosidade.

A liminar foi concedida pela juíza estadual, da Comarca de Ibirama, Iraci Satomi Schioquetti em favor da madeireira Manoel Marchetti que reclama direitos sobre a terra que invadiu. A empresa acusa os índios de retirada de madeira. A decisão da juíza estadual é irregular, já que cabe apenas à Justiça Federal decidir sobre questões que envolvam terras indígenas. Segundo denunciam os índios, a liminar foi cumprida sem que Funai ou as lideranças indígenas fossem notificadas da decisão.

Os Xokleng contam que um grupo de indígenas se deslocava em um caminhão, do interior de suas terras para a cidade de José Boiteux, para fazer compras, quando foram recebidos a bala por policiais e funcionários da empresa madeireira Manoel Marchetti. A ambulância da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que estava sendo dirigida pelo cacique regional da aldeia Bugio, Basílio Priprá, também foi interceptada pelos policiais e ficou retida das 10 da manhã até as quatro horas da tarde. O cacique transportava pessoas doentes para o hospital da mesma cidade. Os índios foram surrados pela PM e ficaram privados de atendimento médico e alimentação. Entre os doentes, uma mulher, que viajava com seu
recém-nascido de apenas seis dias, desmaiou ao ver seu irmão e mãe serem agredidos. Uma indígena idosa foi agredida a coronhadas na cabeça, um idoso recebeu disparo de balas de borracha e um paraplégico foi violentamente agredido com a própria muleta. O cacique foi algemado e obrigado a permanecer no local sem poder reagir.

Além destas agressões, os policiais perseguiram as pessoas até suas casas, invadiram as residências e ameaçaram as crianças que foram obrigadas a se refugiarem no mato. Durante a perseguição os policiais disparam tiros para o alto e em direção às pessoas, ameaçaram empurrar o veículo com os doentes numa ribanceira e diziam palavrões contra a
comunidade indígena.

Os Xokleng declararam "guerra". Informaram que não pretendem desistir da demarcação da terra, fizeram manifestações cobrando do governo estadual explicações sobre a violência. Os índios viajarão a Brasília para pressionar o Ministério da Justiça a decidir sobre a questão. Contra a demarcação da terra indígena estão mais de 300 famílias de agricultores,
o governo do estado, três prefeituras municipais, oito empresas madeireiras e duas Organizações Não Governamentais ambientalistas. Os Xokleng lutam pela demarcação de 37.108 hectares, identificados pela Funai em novembro de 1999.

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