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Polícia tenta identificar milícia que age no Pará

FSP, Brasil, p. A11
25 de Out de 2007

Polícia tenta identificar milícia que age no Pará
A autodenominada "Liga dos Camponeses Pobres" ameaçou fazendeiros e lavradores
Superintendente do Incra de Marabá, Raimundo Oliveira, diz que movimento surgiu no sul do Estado e exige a desapropriação de fazenda

Sílvia Freire
Da agência Folha

A Polícia Civil do Pará identificou uma milícia atuando no sudeste do Estado. Uma equipe da delegacia de Redenção (916 km de Belém) encontrou pessoas armadas e encapuzadas na entrada de uma fazenda em Santa Maria das Barreiras (PA).
O delegado Neldo Sena Ribeiro disse que o levantamento preliminar feito por policiais civis não conseguiu identificar a quem o grupo armado está ligado -se a fazendeiros ou se a pequenos agricultores.
No final de setembro, fazendeiros e funcionários de propriedades rurais de Santa Maria das Barreiras, vizinho a Redenção, relataram em boletins de ocorrência que grupos armados e encapuzados invadiram propriedades, mantiveram os trabalhadores sob ameaça e roubaram carros e armas dos seguranças. "Todas as hipóteses têm de ser levantadas. Mas essa milícia armada foi identificada", disse o delegado. "Não deu para identificar [a quem elas estão ligadas], pois foi um levantamento prévio."
Os policiais foram a campo na semana passada. Em relatório, eles dizem que na entrada da fazenda Colorado foram recebidos por oito pessoas que tinham motos e estavam armadas e encapuzadas. Elas perguntaram o que os policiais faziam no local e se eram conhecidos do dono da fazenda.
Perto da fazenda Manain os policiais relatam que um motorista que presta serviço de transporte disse ter sido abordado por um grupo armado quando levava mantimentos até a fazenda e que foi obrigado a se deitar no chão.
Em um dos boletins de ocorrência, o proprietário da fazenda Ninho da Garça, Tarcísio Lemos Andrade, diz que no último dia 22 de setembro foi abordado na fazenda por cerca de 50 homens armados que disseram fazer parte da Liga dos Camponeses Pobres e ter interesse na desapropriação da área. O fazendeiro disse ter ficado por 13 horas sob ameaça dos invasores. No mesmo dia, ele relata que o grupo invadiu a fazenda Soledade. A reportagem não conseguiu achar o fazendeiro.
Em outro boletim, um trabalhador da fazenda Manain diz que foi rendido por integrantes armados da Liga dos Camponeses Pobres e que foi levado com funcionários e seguranças da fazenda para a sede da propriedade, onde foram ameaçados.
A reportagem não conseguiu falar com nenhum representante da Liga. Segundo o superintendente do Incra de Marabá (PA), Raimundo Oliveira, o movimento está se organizando no sul do Estado e reivindica a desapropriação da fazenda Forquilha, da qual foram desmembradas informalmente as fazendas Manain, Ninho da Garça e Soledade, entre outras. Ele, no entanto, disse não ter sido informado dos ataques.
A promotora Rosângela Hartmann determinou que a Polícia Civil instaurasse inquérito policial para apurar possível ocorrência de crime comum. "Entendo que se trata de prática de crime comum, previsto no Código Penal, e não de ação de movimento agrário."
Anteontem, uma liderança da Fetaf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar) foi morto em uma emboscada em Dom Eliseu (PA). O movimento acusa fazendeiros de estarem por trás da morte.

FSP, 25/10/2007, Brasil, p. A11

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