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Polícia Federal tenta libertar reféns em Altamira

O Liberal-Belém-PA
Autor: Carlos Mendes
24 de Mar de 2003

Cinco policiais federais comandados por um delegado e dois agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai) chegaram ontem à aldeia Cajueiro e começaram a negociar a libertação de 15 reféns, entre estes duas crianças, capturados em três barcos há uma semana por cerca de 40 guerreiros armados quando conduziam comida, bebidas, combustível e armas para mais de 300 garimpeiros que vivem há mais de dez anos no Garimpo da Madalena, uma área localizada dentro da reserva Curuaia.

As primeiras informações davam conta que os índios estariam dispostos a só libertar os reféns depois que os garimpeiros deixarem suas terras. Segundo o cacique Joaquim Curuaia, os índios perderam a paciência depois de constatar que o tráfico de drogas e a entrada de armas como espingardas e revólveres dentro do garimpo são os responsáveis pela violência contra a comunidade indígena.

Dois anos atrás, um índio foi morto por garimpeiros, mas até hoje a Polícia Civil de Altamira não tomou qualquer providência para punir os responsáveis pelo crime. Os policiais federais foram para a aldeia com a missão de resgatar os reféns e ao mesmo tempo encaminhar uma solução pacífica para o problema.

Segundo Joaquim Curuaia, os garimpeiros estão acabando com os rios da região e matando os peixes, alimento básico dos índios. O mercúrio utilizado para depurar o ouro é jogado sem nenhum controle nos rios, poluindo tudo. A Policia Federal acredita que as negociações serão tensas e demoradas, mas esperar deixar a aldeia com os reféns libertados.

Mercúrio - Há 21 anos na ilegalidade o garimpo da Madalena já depositou no leito do Rio Curuá cerca de 25 toneladas de mercúrio fruto da atividade garimpeira na região do Entre Rios, conhecida como Terra do Meio, onde está a Reserva Indígena dos Curuaya, no Vale do Xingu, a 380 km da cidade de Altamira, município na região oeste do Pará, a 900 km de Belém. Cerca de 400 garimpeiros utilizando mais de 50 balsas e dragas garimpam o leito do Curuá e os barrancos próximos as margens do Rio Curuá, em frente a aldeia dos Curuaya, que participam dos "lucros" da extração do ouro. O garimpo da Madalena tem 40 caixas em forma de cachoeira espalhadas ao longo do rio onde são depositados e lavados o cascalho extraído do fundo do rio.

Durante a lavagem parte dos sedimentos retirado do leio do rio retorna mas, com um novo componente: mercúrio (azougue) na linguagem dos garimpeiros. Para cada caixa são utilizados em média por caixa, diariamente, cerca 10 quilos de mercúrio, que são contrabandeados do México e do Iraque.

Contamina - Alguns ambientalistas que estudam a região acreditam que a maioria dos peixes e boa parte da cadeia alimentar aquática esteve comprometida pela presença de metais pesados. A produção de ouro e outros minerais extraídos na região do Xingu, não tem controle nenhum dos órgãos governamentais e não se sabe quanto de receita o país perde.

Os descaminhos do ouro no Xingu são semelhante ao da província aurífera da região do Tapajós. São contrabandeados para fora do Estado do Pará através do Estado de Mato Grosso, chegam até o Estado de São Paulo e tomam a forma de "legalidade" para serem vendidos ao exterior.

Na região, índios e garimpeiros vivem em conflito permanente, onde impera prostituição, tráfico de drogas, contrabando de mercúrio, entre outras coisas. Os 20 pistoleiros que vigiam a área são comandados por Beroco, Ouriçado, Saracura e Nem contratados pelo proprietário do garimpo o senhor Paulo Freitas, que mantém sociedade com os caciques da aldeia dos Curuaya.

Falsidade - A região do Entre Rios é uma faixa de terra onde ocorre o encontro dos tributários do Rio Xingu (1.400 km), os rios Iriri (800km) e Curuá (600km), com pistas de pouso para pequenas aeronaves. No local está instalado o projeto da Fundação Rondon Projetos Ecológicos, do empresário Cecílio Rego de Almeida, a 40 km da área do garimpo da Madalena, a jusante do Rio Curuá.

O Estado e a União Federal afirmam que a empresa de Cecílio Almeida adquiriu ilegalmente as terras, aproveutando-se de certidões falsas emitidas pelo Cartório Moreira, de Altamira. Na semana passada, quatro procuradores pediram ao juiz de Santarém, Nelson Loureiro, o cancelamento do registro, transcrições e averbações naquele cartório.

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