VOLTAR

Polícia Federal prende caingangues

Zero Hora-Porto Alegre-RS
Autor: VIVIAN EICHLER
14 de Ago de 2002

Apesar de ação policial, os índios voltaram a bloquear RS-324, prejudicando o trânsito

Uma operação de 12 agentes da Polícia Federal (PF) de Passo Fundo e cem policiais militares resultou ontem na prisão de cinco caingangues que lideravam o bloqueio da RS-324, em Planalto, no norte do Estado.

Após uma manhã de resistência ao mandado de desobstrução da rodovia, expedido pela Justiça estadual, a estrada foi parcialmente liberada com a intervenção policial. Posteriormente, os índios voltaram a bloquear o tráfego em três pontos da rodovia.

Os protestos tiveram início na quinta-feira, com o atropelamento e a morte de uma caingangue de 13 anos. O acidente foi o segundo atropelamento fatal este ano na rodovia. Os índios pedem a construção de uma "indiovia", caminho paralelo ao asfalto para pedestres.

No mandado enviado à PF, o juiz de Planalto, Gilberto Pinto da Fontoura, afirmava que ele próprio teria sido impedido de deixar a cidade. Desde o início da manhã, a PF e a BM retiraram paus, pedras e galhos da rodovia, que cruza um parque florestal e a Aldeia de Pinhalzinho, no Toldo Indígena de Nonoai.

Homens e mulheres caingangues passaram a ameaçar a BM e a PF com foice, paus e pedras e tentaram cercar os agentes. Mesmo com o ambiente tenso durante toda a manhã, não houve confronto físico.

Além do cacique José Orestes Nascimento, 52 anos, foram presos o filho dele Gelson Nascimento, 29 anos, o capitão da Aldeia Pinhalzinho, Valdir Veloso, 36, e outros dois indígenas, Valério Nascimento, 40, e João Portela, 32. Eles haviam sido convencidos pela PF a deixar o local dos protestos e ir até o Posto Indígena da aldeia para conversar. Lá, foram surpreendidos com voz de prisão em flagrante por desacato, desobediência, favorecimento pessoal, formação de quadrilha, apologia a fato criminoso, arremesso de projetil em veículos e por incitar publicamente a prática de crime. Os líderes resistiram à prisão e tentaram fugir. Os indígenas foram levados ao Presídio Regional de Passo Fundo.

Segundo a PF, os indígenas atiraram pedras em carros e caminhões e, durante o bloqueio, cobraram pedágio para permitir o tráfego pela rodovia. Segundo testemunhas, eles cobrariam R$ 15 por automóvel e R$ 1 por pessoa.

O administrador regional da Funai, em Chapecó, Antônio Marini, criticou a ação da PF:

- Os índios foram para um local achando que fariam uma negociação. Quando chegaram lá, a PF deu voz de prisão. Prender o cacique para eles significa prender um chefe de Estado.

Após a retirada dos policiais, os indígenas voltaram a interromper o trânsito em três pontos: no km 47, no km 37 e no km 34. Só passam veículos de transporte escolar e ambulâncias. À tarde, o juiz de Planalto enviou um ofício ao comando-geral da Brigada Militar solicitando patrulhamento da rodovia e reforço do policiamento na cidade.

- O protesto ultrapassou as raias da legitimidade - argumentou o juiz.

O comandante Regional da BM de Passo Fundo, coronel Jorge Miguel Barcellos, disse que reforçou com 12 homens a segurança de Planalto, especialmente para o juiz e sua família.

- Vamos aguardar orientação do comando-geral da Brigada sobre nova ação de retirada dos indígenas da rodovia - disse Barcellos.

Em reunião ontem à tarde, o Movimento de Resistência Indígena decidiu intensificar a retomada de terra em 15 áreas no Estado.

A Polícia Rodoviária Estadual orienta os motoristas a desviar por Rio dos Índios.

CONTRAPONTO
O que diz José Orestes do Nascimento, cacique de Toldo Nonai:

"Não tenho conhecimento se era exigido dinheiro do pessoal. Hoje (ontem), nós fizemos de tudo para não dar confronto. Esperamos os representantes do Estado, mas ninguém falou comigo. Desde o início do protesto, dissemos que só queríamos diálogo."

O que diz a assessoria de imprensa do Daer:

"O diretor-geral Hideraldo Caron só irá se manifestar quando o caso estiver resolvido. O Daer ingressou com um pedido de suplementação orçamentária de R$ 251 mil na Assembléia para construir o caminho lateral à rodovia."

O que diz a PF:

Segundo a PF, o pedido aos índios para conversar no posto da Funai na reserva era para que não houvesse confronto na hora da prisão.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.