FSP, Ciencia, p.A16
29 de Nov de 2005
Canadense pede "ação mais ampla" em encontro sobre aquecimento global
Pobres querem dinheiro para manter floresta de pé
DA REDAÇÃO
A COP-11 (Décima Primeira Conferência das Partes) da Convenção do Clima da ONU começou ontem em Montréal, no Canadá, com o país-anfitrião pedindo uma ação mais ampla contra o aquecimento global.
"Vamos mirar uma abordagem mais eficaz, mais inclusiva e de longo prazo contra a mudança climática", disse o ministro do Ambiente canadense, Stéphane Dion, na abertura da conferência, que reunirá cerca de 10 mil representantes de 189 países até o dia 9 de dezembro. "É preciso mais ação agora", afirmou.
Por "abordagem inclusiva" Dion quis dizer que a guerra diplomática a ser travada em Montréal nos próximos dias tem o objetivo de trazer para as negociações de um novo acordo contra o efeito estufa (já que o Protocolo de Kyoto expira em 2012) dois grupos de países: um formado pelos Estados Unidos, maior emissor mundial de gases-estufa, e outro liderado por Índia, China e Brasil. Os EUA de George W. Bush se retiraram de Kyoto em 2001. Os gigantes do Terceiro Mundo não são obrigados a reduzir suas emissões por Kyoto, mas deverão ter de fazê-lo no futuro.
É do Terceiro Mundo que vem a principal novidade da COP-11. Amanhã, um bloco de nações em desenvolvimento liderado por Costa Rica e Papua Nova Guiné deve fazer uma proposta radical à conferência: eles querem receber dinheiro para preservar as florestas tropicais.
O grupo, autodenominado Coalizão das Florestas Tropicais, argumenta que o resto do mundo está se beneficiando da riqueza natural das florestas -inclusive de seu papel como agentes reguladores do clima- sem dividir os custos. Uma forma de corrigir esse desequilíbrio seria fazer com que a manutenção das florestas, o chamado desmatamento evitado, pudesse gerar créditos de carbono negociáveis internacionalmente.
O Protocolo de Kyoto, único acordo internacional existente para reduzir as emissões de gases-estufa como o dióxido de carbono, já permite, por meio do chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que países pobres vendam créditos às nações com metas de redução a cumprir. O desmatamento evitado, no entanto, está fora do esquema.
"O objetivo é alinhar os interessas das nações florestadas em desenvolvimento com os das nações industriais -com as últimas fornecendo mercados para créditos de carbono e produtos florestais", disse Sir Michael Somare, premiê papuano. "Se nós, as nações com florestas, reduzirmos nossas emissões de gases-estufa, deveríamos ser compensados por essas reduções", afirmou.
O Brasil, país que tem no desmatamento a fonte de dois terços de suas emissões -mas que sempre evitou tratar do tema no âmbito de Kyoto-, deve pegar carona na iniciativa da coalizão para propor também que a redução do desmatamento seja compensada de alguma forma num esquema pós-Kyoto. Mas sem metas obrigatórias de redução.
"O fato de Papua ter colocado [o assunto] na pauta abre o processo de discussão", disse à Folha o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco. "Interessa apoio para o conceito de que a redução do desmatamento faça parte da Convenção [do Clima]- sem reabrir Kyoto."
Com "The Independent" e agências internacionais
Bush não honra promessa do pai, diz inglês
Steve Connor
DO "INDEPENDENT
O aquecimento global pode ser comparado na sua escala destrutiva aos efeitos das armas de destruição em massa, afirma o principal cientista do Reino Unido. Lorde May de Oxford, presidente da Royal Society (principal sociedade científica européia), disse que a devastação causada pelo furacão Katrina é um exemplo de evento extremo que as mudanças climáticas podem causar.
No seu discurso de despedida como presidente da Royal Society, coincidindo com a COP-11, em Montréal, hoje, lorde May deve criticar o presidente dos EUA, George W. Bush, por ter falhado em honrar os compromissos feitos por seu pai em 1992 ao assinar a Convenção do Clima da ONU.
May diz que Bush até mesmo deixou de mencionar a mudança climática, os gases de efeito estufa e o aquecimento global em seu discurso de 2.700 palavras sobre energia proferido logo depois do encontro do G8 (grupo dos sete países mais ricos e a Rússia) em Gleneagles, Escócia -durante o qual o premiê britânico Tony Blair tentou, sem sucesso, fazer Bush reconhecer que o aquecimento global é um problema.
"Em resumo, temos aqui um clássico exemplo do paradoxo da cooperação... a ciência nos diz claramente que nós precisamos agir agora para reduzir as descargas de gases-estufa, mas a menos que todos os países ajam igualmente, os virtuosos ficarão em desvantagem econômica e todos sofrerão as conseqüências da inação."
FSP, 29/11/2005, p. A16
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