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Plantio do camu-camu começa a se expandir pelo país

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Camila Cotta e Ubirajara Jr.
25 de Out de 2002

O fruto silvestre, originário da região amazônica, contém mais vitamina C que a laranja e a acerola

Ainda pouco conhecido e difundido entre a população, o camu-camu (Myrciaria dubia), nativa da Amazônia peruana e brasileira, é um fruto que desperta o interesse de um número cada vez maior de pesquisadores. Vermelho arroxeado, do tamanho de uma cereja, de casca mais resistente que a acerola, lembrando a jabuticaba, o camu-camu é apontado como uma das mais importantes fonte de vitamina. Sua concentração de vitamina C é cem vezes maior que a laranja e quatro vezes mais que a acerola (até 5 mil miligramas por 100 gramas da fruta). Na região norte, os caboclos consomem a fruta como tira-gosto ou a usam como isca para peixes.
Além da vitamina C ele contém outros antioxidantes, como as antocianinas, e elevado teor de potássio, o que sugere sua indicação para hipertensos porque proporciona um melhor balanceamento de sais no organismo, principalmente do cloreto de sódio (sal de cozinha). Da família Myrtaceae (Mirtáceas), o camu-camu é uma espécie silvestre encontrada nos igapós, ou seja, às margens dos rios e lagos de água preta, na região amazônica. Sua presença já foi registrada na região central do Pará, no Amazonas, em Rondônia, em Roraima e no Maranhão, e até na região pré-amazônica do Tocantins. Mas, as maiores ocorrências estão na Amazônia peruana.
A denominação camu-camu é usada mais no Peru. No Brasil, a fruta recebe vários nomes sendo o mais comum caçari, na região amazônica. Em Rondônia é conhecido como araçá-d´água, araçá-azedo, e no Maranhão crista de galo. Ele tem um enorme potencial econômico, segundo técnicos agrícolas peruanos. Maior até que muitas frutas regionais com mais larga tradição. Pelo alto teor de acidez e pelo sabor acentuadamente azedo, praticamente não é consumida "in natura", mas a polpa do fruto é aproveitada em forma de sucos, sorvetes, vinhos, licores, geléias, doces e para conferir sabor a tortas e outras sobremesas.
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já conseguiram produzir um suco desidratado e microencapsulado de sabor refrescante. O objetivo do estudo, coordenado pela professora Hilary Castle de Menezes, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (Fea), foi aprimorar as condições de extração do suco, obter um processo de microencapsulação do pó resultante da desidratação do suco e avaliar sua estabilidade durante um prazo de validade de 120 dias. Hilary explica que "a microencapsulação consiste em recobrir partículas sólidas com uma fina camada de material encapsulante, como a maltodextrina e a goma arábica. Assim, o núcleo envolto fica estável e protegido contra a deterioração, em condições de ser comercializado".
Técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) procedem há mais de um ano com uma série de experimentos para viabilizar comercialmente o cultivo do camu-camu, já que a espécie ainda não foi domesticada. A pesquisa consiste em coletar acessos (material de várias localidades) para testar a adaptação do plantio da fruta em terra firme.
Segundo o pesquisador Kaoro Yuyama, do Inpa, as vantagens do plantio em terra firme são muitas. Por ser uma espécie selvagem é preciso caminhar muito para colher os frutos e em muitas ocasiões os que são encontrados não estão totalmente maduros. Outro entrave é que na maioria das vezes parte do arbusto encontra-se submerso e como o nível da água dos rios sobe e desce com constância em algumas oportunidades a colheita é praticamente impossível.
Yuyama acrescenta que o plantio em terra firme, em solos adubados com boa drenagem tem se mostrado promissor e economicamente viável. Esse conjunto de fatores possibilita também a colheita do fruto o ano inteiro e ainda promove a adaptação do camu-camu para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste o que em termos de produção passa a ser significativo.
O pesquisador Jefferson Felipe da Silva, da Embrapa Amazônia Ocidental, compartilha da mesma opinião. Ele garante que o plantio em terra firme não altera em nada as características da fruta, pois o teor de ácido ascórbico (vitamina C) permanece intacto. A única modificação é fisiológica, pois o crescimento é mais lento.
Na região sudeste, mais precisamente em São Paulo, no Vale do Ribeira, o plantio de camu-camu tem se mostrado promissor em cultivo fora das várzeas. Por se tratar de uma região de mangues, com clima quente e úmido, semelhante ao da amazônia, houve uma ótima adaptação da planta, embora, atestem os técnicos, os frutos apresentem menos vitamina C (cerca da metade do encontrado na planta nativa). Mas para que o Brasil comece a comercializar o camu-camu tanto internamente como para o mercado internacional ainda é necessária a expansão das áreas de plantio.
Devido às condições climáticas, a biodiversidade e a megadiversidades de seus solos, o Peru é o maior exportador do camu-camu, tendo como cliente prioritário o Japão. Os Estados Unidos também já importaram a fruta da América do Sul para produzir tabletes de vitamina C natural como o nome comercial de "camu-plus". Nesse país também já foi lançado em cápsulas, como fonte de vitamina C. Os frutos congelados são importados do Brasil e vendidos em forma de suco desidratado e embutido em cápsulas iguais as utilizadas em diversos tipos de fármacos alopáticos ou fitoterápicos.
Um estudo da Universidad de La Molina, no Peru, mostrou que o camu-camu é um produto com excelentes propriedades organolépticas (aquelas demonstratadas por uma substância e que impressiona um ou mais sentidos) e nutritivas que permitem diversas formas de consumo da fruta fresca, da polpa congelada, de sucos concentrados, pré-desidratados e multivitamínicos. De acordo com o Instituto Nacional de Investigação Agrária (Inia) do Peru, o fruto tem um importante papel na pauta econômica do país.

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