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Plantio de soja invade reserva

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Ana Drumond
29 de Jul de 2003

Lideranças indígenas do Parque Nacional do Xingu denunciam o avanço das lavouras de soja nos limites da reserva criada em 1961. As comunidades das 14 etnias convivem com o temor da contaminação por agrotóxicos das águas de diversos rios que deságuam no Xingu, responsáveis pela sobrevivência de aproximadamente quatro mil pessoas.

O índio Alupá Kaiabi, da diretoria da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX), revela que a presença das lavouras foi registrada ano passado e, desde então, vem ampliando em extensão. "No início deste ano, teve um desmatamento muito, mas muito grande mesmo aqui por perto", revela, ao se dizer impossibilitado de quantificar a área devastada para o plantio do grão.

Segundo Alupá Kaiabi, até então, o desmatamento na região era comum para a atividade pecuária. Ele avalia a entrada da sojicultura como uma prática que deva obedecer critérios capazes de assegurar o direito à terra aos índios, de forma não predatória. Afirma que as grandes fazendas estão localizadas nas cabeceiras de rios como o Arraia, Baturi, Culueni, Curiservo e Suyá Missu.

"Quando chove, a água da chuva arrasta todos os produtos químicos para as águas dos rios, que acabam formando o Xingu. Os venenos vão todos para a reserva", contextualiza. Já existem propriedades encostadas nos limites da reserva, contrariando a legislação.

As lideranças indígenas estão se mobilizando para se manifestar em reunião ordinária a ser realizada em setembro, no posto Diauarune, no baixo Xingu. Acreditam que, se for feito um estudo da qualidade da água, a contaminação será verificada. Estará também na pauta do debate a fiscalização da reserva, que é de responsabilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), mas deficitária por falta de estrutura.

"São os próprios índios que fiscalizam. A Funai está com os veículos parados, sem manutenção", critica o índio, que denuncia ainda turistas que visitam a região para a prática da pesca, em pacotes contratados em pousadas, mas não cuidam de seus resíduos. "É comum ver garrafas de refrigerante, boiando no rio Xingu".

A proximidade das plantações de soja com os limites do Parque foi denunciada por lideranças indígenas ao deputado federal Carlos Abicalil (PT) que, recentemente, discursou sobre o problema na tribuna da Câmara dos Deputados.

O parlamentar frisa que a preocupação dos índios está relacionada à sobrevivência diante do comprometimento das águas e outros recursos naturais fundamentais para o equilíbrio de todo o ecossistema.

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