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PLANTAS VIRAM COSMÉTICOS PARA EXPORTAÇÃO

OESP, Economia, p. B1
23 de Ago de 2020

PLANTAS VIRAM COSMÉTICOS PARA EXPORTAÇÃO

A pandemia atrasou os planos da Biozer, mas embarques já estão acertados para os Estados Unidos, Europa e Dubai

Texto: Cleide Silva

Cosméticos 100% naturais produzidos em Manaus começarão a ser exportados para Estados Unidos, Dubai e Europa ainda este ano. Os embarques só não ocorreram ainda porque a pandemia da covid-19 atrapalhou os planos da startup Biozer, que utiliza óleos extraídos de árvores e plantas da Amazônia na produção de óleos fitoterápicos, cremes e, em breve, gel, espuma para limpeza facial e suplemento alimentar feito de frutas da região amazônica.

O primeiro embarque para os EUA estava previsto para abril, mas foi travado pela quarentena. A Biozer já tem o selo Halal, certificação que a credencia a exportar para o mercado árabe e está perto de obter o selo francês Ecocert, que abre portas na Europa para produtos orgânicos. Contatos para exportação estão em andamento.

Antes uma empresa de pesquisa e desenvolvimento criada em 2008 pelo biólogo Carlos de Souza Pinheiro, funcionário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Biozer entrou para uma incubadora de startups há três anos, quando seu filho Danniel assumiu o negócio.

Formado em biotecnologia, Danniel, hoje com 26 anos, se incomodava com o fato de a Amazônia ser fornecedora de matéria-prima e não ter uma fábrica de cosméticos naturais. Em parceria com o gaúcho Domingos Amaral - administrador de 53 anos que buscava um projeto para investir -, ele transformou em produtos os ativos da floresta que o pai pesquisa.

No Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), ligado à Federação das Indústrias do Amazonas, os sócios começaram a produzir essências de óleos de copaíba, andiroba, açaí, guaraná, tucumã e outros frutos locais fornecidos por cooperativas de extrativistas do interior do Estado.

Na sequência vieram argilas para máscaras faciais e corporais com óleos que potencializam seus efeitos. Os sócios criaram a marca Simbioze Amazônica para seus produtos naturais, veganos e sustentáveis. "Tem muito produto que usa selo verde, mas quando é feita a leitura da composição percebe-se que tem extrato e produtos químicos que agridem a pele", afirma Danniel. "Queremos levar produtos premium para o Brasil e o mundo com o mesmo óleo que o caboclo e o índio usam há centenas de anos, sem nenhum aditivo", acrescenta Amaral.

CADEIA DE FORNECIMENTO
A primeira dificuldade do processo foi encontrar insumos de qualidade e rastreabilidade. Com ajuda de entidades ambientais e cooperativas, eles criaram um projeto de capacitação dos extrativistas para garantir o padrão do óleo necessário para o processo industrial.

O preço do óleo é definido pelas cooperativas de acordo com o volume da safra. "O preço é o mesmo que pagaríamos se o óleo viesse de São Paulo, ou seja, agregamos valor na extração, pois não há atravessadores", informa Amaral.

Hoje a empresa tem três linhas de produtos de óleos fitoterápicos e hidratantes de andiroba, breu branco, castanha, copaíba, patauá, pracaxi e priprioca, e argila para máscaras faciais e corporais de argila branca, cupuaçu, açaí e guaraná. Em setembro será lançada uma quarta linha, com gel, gel esfoliante e espuma de limpeza. Batizada de Energetic Face, a linha "vai unir a força do açaí e os benefícios da copaíba", afirma Amaral.

FRUTAS ENCAPSULADAS
No próximo ano chegará outro produto inovador, que são suplementos alimentares de frutas desidratadas. As cápsulas serão feitas de açaí, guaraná e camucamu, "fruta que tem 30 vezes mais vitamina C do que a laranja", explica Danniel. Os itens da marca são vendidos pela internet, em lojas de produtos naturais e para clínicas estéticas.

Os sócios têm planos para uma fábrica maior, que deve multiplicar por dez a capacidade atual, de 4 mil unidades diárias. Esse projeto está orçado em R$ 8 milhões e, diz Amaral, já há fundos interessados no negócio. Até agora foram investidos R$ 1,2 milhão na startup, sem contar o aporte que veio pelo PPBio, programa governamental que dá incentivos fiscais para quem investe em P&D.

A Biozer mantém programa de ajuda à comunidades para restaurar áreas degradadas e escolheu como mascote o sauim-de-coleira, sagui endêmico de Manaus em risco de extinção. Ele se alimenta de frutos silvestres que estão desaparecendo com o avanço da zona urbana. "Buscamos formas de fomentar o reflorestamento da alimentação dele para que possa sobreviver em outras áreas", diz Amaral.

OESP, 23/08/2020, Economia, p. B1

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