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Plantas para resistir ao calor

OESP, Agrícola, p. 11
27 de Ago de 2008

Plantas para resistir ao calor
Pesquisa trabalha no desenvolvimento de variedades que produzam bem sob stress hídrico e alta temperatura

Tânia Rabello e Fernanda Yoneya

A pesquisa brasileira já vem trabalhando no desenvolvimento de plantas preparadas para suportar altas temperaturas e falta de água, num cenário de aquecimento global. E já há resultados. Desenvolvidas no Iapar, algumas variedades de feijão reverteram o quadro de perdas provocadas por excesso de calor na época da floração no Paraná e, mais do que isso, tornaram viável o cultivo de feijão preto (variedade de climas amenos) do Sul ao Nordeste do País.

Segundo explica a pesquisadora do Iapar Vania Moda, o feijão preto IPR uirapuru, lançado em 2001, tolera mais o calor do que outras variedades deste grupo. "Os feijões antes plantados perdiam entre 50% e 60% das flores por causa do calor. A uirapuru perde apenas 20%", orgulha-se Vânia.

E já há variedades superiores à uirapuru, como a IPR tiziu e a IPR gralha, lançadas em 2007, mais produtivas e com índice de perda de flores de 15%. No grupo carioca, a IPR tangará será lançada este ano, com boa resistência ao calor.

"Quando desenvolvemos essas variedades, já foi pensando no aquecimento global", diz Vânia. "A cada ano observávamos perdas maiores nas lavouras por causa do calor", diz. "Isso em plantio irrigado, cultivado no período correto e com todos os cuidados de manejo."

NO CAFÉ

O foco das pesquisas com o café tem mudado. Se antes o desenvolvimento de variedades se voltava para materiais resistentes a doenças ou com maior potencial produtivo, hoje, diante do aumento global da temperatura, as atenções se voltam para o estudo de plantas mais tolerantes ao calor, diz o pesquisador Luiz Carlos Fazuoli, do Instituto Agronômico (IAC-Apta), "já que o café é tido como a cultura mais afetada pela elevação de temperatura".

Há, no País, 4,3 bilhões de cafeeiros da variedade arábica - de climas mais amenos - e 1,9 bilhão de cafeeiros da variedade robusta - de clima mais quente e úmido. Assim, o programa de melhoramento genético do IAC possui trabalhos em que características do robusta são transferidas para o arábica, como resistência a doenças e pragas, vigor, produção, rusticidade, melhor sistema radicular e, sobretudo, tolerância a altas temperaturas. "Várias progênies têm tolerado temperaturas mais altas e poderão ser usadas em novos plantios, substituindo o arábica em regiões mais quentes", diz Fazuoli.

A pesquisas prosseguem para o material ser também menos exigente em água. "Trabalhos recentes têm mostrado que o arábica catuaí vai muito bem em regiões baixas e quentes, com temperaturas médias acima de 23 graus, mas exige irrigação", diz, destacando que outras espécies, como o Coffea dewevrei, C. congensis e C. racemosa também estão sendo usadas, visando à seleção de variedades mais tolerantes ao calor e à seca. "O ideal é chegar a um material resistente a altas temperaturas e que não necessite de tanta água, o que deve levar, pelo menos, cinco anos."

INFORMAÇÕES: Embrapa, www.cnptia.embrapa.br

Manejo da plantação também é essencial

Tânia Rabello e Fernanda Yoneya

A soja também está sendo preparada para o aquecimento global. "Há duas frentes de trabalho. Uma estuda formas de mitigação dos gases do efeito estufa na lavoura e outra é voltada ao desenvolvimento de materiais adaptados", diz o pesquisador da Embrapa Soja José Renato Farias.

A mitigação está ligada ao manejo sustentável do solo, e a segunda refere-se ao desenvolvimento de variedades mais tolerantes ao calor e ao stress hídrico. "Enquanto as pesquisas continuam - os estudos devem levar de seis a oito anos -, o produtor pode investir no manejo conservacionista do solo, associando plantio direto, rotação de culturas e integração lavoura-pecuária", ensina.

"Essas práticas evitam a compactação do solo, favorecendo a capilaridade da área, melhorando a porosidade e facilitando a infiltração de água no solo. Fisiologicamente, a falta de água pode ter maior impacto na planta do que o aumento da temperatura em si", diz.

As pesquisas com cana-de-açúcar também estão voltadas ao aumento da temperatura, diz o coordenador do Programa Cana do IAC, Marcos Landell. O programa faz a seleção regional de variedades de cana em mais de 400 regiões em 11 Estados. "Esta rede contempla uma gama enorme de regiões e climas, inclusive áreas com déficit hídrico", diz. "Lógico que esse cenário antecipa um aumento de temperatura", diz. "Além disso, a cana tem grande capacidade de se adaptar a climas adversos."

OESP, 27/08/2008, Agrícola, p. 11

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