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Plano contra fome prevê arrendamento de terras dos parecis para soja

24 Horas News-Cuiabá-MT
Autor: Edílson Almeida
31 de Ago de 2003

Quando ainda era considerado o "rei da soja", Olacyr de Moraes esperava o então presidente Fernando Collor de Mello ao lado da pista de pouso particular da Fazenda Itamarati, no caminho entre Tangará da Serra e Campo Novo dos Parecis. Mega-empresário da ocasião, conversava sobre produção agrícola, expansão da fronteira de produção, quando revelou um dos seus sonhos: "Daria um apartamento no Rio para cada família de índios em troca de suas terras". Referia-se a arenosa Reserva Indígena Paresi, de 6 mil quilômetros quadrados, da qual era vizinho.

O tempo passou! PC Farias agiu, vieram os caras-pintadas, Collor de Mello foi cassado em processo de "impeachment", entrou Itamar Franco com o seu topete, veio Fernando Henrique, Olacyr caiu em desgraça financeira, surgiu Blairo Maggi como o homem da soja no mundo, Dante de Oliveira assumiu o Governo, passou, Mato Grosso evoluiu e.. Sim, os Paresi continuaram e avançaram naquele discurso de Olacyr de Moraes. Hoje, os índios querem dar destino a suas terras.

Durante toda a semana que passou, funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Tangará da Serra, alertaram fazendeiros e usuários da rodovia "Nova Fronteira", estrada que corta a reserva, no caminho mais curto e rápido para se chegar a Sapezal - região de forte produção agrícola, erguida por André Maggi, falecido pai de Blairo, hoje governador. A estrada seria fechada porque está travado o plano de lavoura mecanizada apresentado pelos índios, que, em verdade, significa - queiram os índios ou não - o caminho mais curto para arrendamento das terras.

O tal Plano de Lavoura dos Parecis, a rigor, nada mais é que uma tentativa de implantar nas diversas aldeias o "Fome Zero". Os índios se dizem privados de alimento, já que, a despeito do tamanho da reserva, a região é pobre em caça, fruta e peixes - o que não deixa de ser uma verdade histórica: há muito que a miséria se arrasta na reserva. A escassez é tamanha que até mesmo a plumagem - resultado da caça de animais - está se perdendo: o artesanato Pareci está cada vez mais pobre.

No movimento dos parecis estão também os irantxes, nhambiquaras e mykus, grupos indígenas que habitam a região do médio-Norte de Mato Grosso. "Na prática, já aconteceram algumas coisa nesse sentido de forma clandestina" - revela um forte produtor de soja da região, que se diz interessado em plantar soja na terra dos índios. No entanto, se diz longe de querer qualquer embate judicial. "Sabemos que a terra é dos índios. São terras férteis, que poderão produzir muita soja. Não queremos problemas" - acrescentou. Esse produtor lembrou que há anos os fazendeiros ajudam os índios. "Não é só pela estrada, mas sabemos como eles vivem. Pagamos o nosso pedágio normalmente e nossa obrigação pararia ai. Mas não é isso que acontece na prática" - frisou.

A luta dos parecis para arrendar suas terras para os sojicultores não obteve eco nas instâncias superiores. A Associação Waimaré, que chegou a formular um acordo com a Agropecuária Bekafarm Ltda. No entendimento previa o plantio de 500 hectares em locais definidos pela comunidade por um período mínimo de seis anos. Pretensão barrada! Em seu parecer, o procurador César Augusto do Nascimento considerou-o lesivo aos índios. Revolta nas aldeias, estrada fechada.

"Bom, vamos ter que fazer um caminho mais longo, saindo por Comodoro" - diz o produtor, observando que a medida dos índios é prejudicial porque vai encarecer o custo de produção, especialmente de escoamento. Pela estrada passam por dia em torno de 400 veículos. Há duas barreiras de controle de pedágio, que é onde ocorrerá o fechamento da rodovia. "Aumentar o pedágio para R$ 10,00 não seria o maior problema" - diz.

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