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Pistoleiro e preso em Anapu e confessa ter matado a freira a mando de politico

OESP, Nacional, p.A4
21 de Fev de 2005

Pistoleiro é preso em Anapu e confessa ter matado a freira a mando de político
Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, foi preso ontem à noite; outro envolvido, Amair Freijoli da Cunha, o Tato, foi indiciado pelo crime

ALTAMIRA - O pistoleiro Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, confessou na noite de ontem ter assassinado a freira Dorothy Stang. Ele foi preso por volta das 19h, pela Polícia do Pará e uma patrulha do Exército, na localidade de Pau Furado, zona rural de Anapu (PA), onde fica uma das transversais da Transamazônica. Segundo a Polícia Civil do Pará, o criminoso disse que o mandante do homicídio foi um candidato a vice-prefeito derrotado nas últimas eleições municipais.
A prisão aconteceu depois que um morador de Anapu viu o retrato falado de Fogoió na televisão e contou a soldados do Exército que o tinha visto na cidade. Os militares chamaram a Polícia Civil e prenderam o fugitivo, que estava escondido na casa de um conhecido. Fogoió está preso na Delegacia de Anapu e será transferido hoje para Altamira, onde será interrogado.

Além de Fogoió, a Polícia também procura outro pistoleiro suspeito de ter participado do assassinato da missionária, Uilquelano de Souza Pinto, conhecido como Eduardo.

É a segunda prisão do caso, depois que Amair Freijoli da Cunha, o Tato, suspeito de ter contratado os pistoleiros, se entregar no sábado e ser indiciado por homicídio. Fogoió prestava serviços eventuais a Tato, que por sua vez era capataz do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, suspeito de ser o mandante do crime.

INDICIAMENTO

Após um depoimento de três horas, ontem de manhã, em Altamira, Tato foi indiciado pela Polícia Civil do Pará e pela Polícia Federal, em inquéritos paralelos, por homicídio doloso qualificado. Ele vai responder na Justiça por homicídio qualificado e pode ser condenado a penas que vão de 12 a 30 anos de prisão.

O chefe da Polícia Civil paraense, delegado Luís Fernandes, disse que Tato respondeu a mais de 60 perguntas. Nervoso, o acusado caiu em algumas contradições. Ao responder quem seria o mandante do crime, o fazendeiro primeiro disse que não podia falar, porque não tinha nenhum envolvimento com o caso; em seguida afirmou que "não tem mandantes".

Como o delegado insistiu na pergunta, Tato declarou que não tinha mais nada a dizer sobre o assunto - e silenciou. Ele não negou conhecer o fazendeiro Bida, mas respondeu com palavras medidas e pensadas às perguntas sobre o relacionamento dos dois. Acabou dizendo que mantinha com ele um "relacionamento distante". E resumiu: "Não tenho contato com ele faz tempo".

Tato também reconheceu uma relação próxima com Fogoió e Eduardo. Ele admitiu que ambos trabalhavam em sua fazenda como "plantadores de semente". Ao final do depoimento o delegado Valdir Freire, da Polícia Civil do Pará, disse estar convencido de que Tato participou ou do planejamento ou da preparação do assassinato da freira.

Para o delegado, o suspeito teria atuado, no mínimo, como agenciador dos pistoleiros Fogoió e Eduardo. "As contradições dele me dão certeza de que participou do crime", afirmou. A polícia está convencida de que o suspeito agia em conluio com o fazendeiro Bida.

A polícia do Pará já ouviu várias testemunhas do caso e apurou que Tato tinha uma relação muito próxima com Bida, de quem teria comprado terras. Mais tarde ele contratou pequenos colonos para invadir o terreno vizinho, transformando-se em grileiro. Em seguida "esquentou" a documentação dos terrenos invadidos - que eram terra devoluta - para dar-lhes aspecto legal e os transferiu novamente para Bida.

O delegado Valdir Freire contou que, em seu depoimento, Tato rechaçou o relato de testemunhas que presenciaram uma discussão dele com a freira. "Ele mente descaradamente", diz o delegado, "já que as testemunhas ouviram ele usar até palavras de baixo calão." O delegado deu como mentirosa, também, a afirmação de Tato de que teria fugido a pé pela selva, caminhando vários dias: "Ele não tem um arranhão".

O delegado Waldir Freire informou ontem que o advogado de Bida prometeu apresentar seu cliente nos próximos dias, mas não precisou a data.

O promotor de Altamira, Edmilson Leray, contou que no depoimento de ontem Tato revelou já ter sido condenado no Espírito Santo, Estado onde nasceu, por receptação de carga roubada. Por esse crime, ele foi condenado a um ano, com conversão da pena a prestação de serviços comunitários.

Tato foi transferido ontem da Delegacia de Mulheres para a penitenciária de Altamira, por medida de segurança. Ele será ouvido hoje pela Polícia Federal.

Exército leva médicos e remédios para população

PRESENÇA: Para tentar mostrar a presença do poder público no interior do Pará, onde o conflito pela terra é mais acirrado, o Exército começou a montar ontem um hospital de guerra em Anapu, cidade onde há nove dias a missionária Dorothy Stang foi morta por grileiros que agiam na região.
O objetivo é prestar atendimento médico e odontológico aos cerca de 40 mil moradores do município. A equipe é composta por um cirurgião, um ginecologista, um pediatra e um clínico geral, além de dentista, farmacêutico, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. O atendimento será feito no hospital estadual construído há oito anos na cidade, mas subutilizado por falta de médicos.

Além da equipe médica, há 3 dias o Exército montou um acampamento com 110 homens fortemente armados, auxiliados por três modernos helicópteros utilizados no transporte das tropas e nas buscas dos suspeitos da morte da freira. Os equipamentos do hospital de guerra são os mesmos que o governo enviou a Moçambique na década de 90.

A prioridade da equipe médico-militar é realizar exames de laboratórios para detectar casos de leishmaniose, malária, doenças sexualmente transmissíveis e reduzir o índice de diarréia nas crianças.

OESP, 21/02/2005, Nacional, p.A4

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