VOLTAR

Pimentão, morango e pepino são campeões de agrotóxicos

FSP, Cotidiano, p. C1, C4
07 de Dez de 2011

Pimentão, morango e pepino são campeões de agrotóxicos
Produtos químicos em excesso são encontrados em 28% dos vegetais, diz pesquisa
Associação de empresas que fabricam pesticidas critica demora de órgão do governo em aprovar produtos mais modernos

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

Quase um terço dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros apresenta resíduos de agrotóxicos em níveis inaceitáveis, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Das amostras de alimentos analisadas pela agência, referentes ao ano de 2010, 28% apresentaram ou limites acima do recomendável ou substâncias não aprovadas para o produto -um agrotóxico recomendado para o cultivo de eucalipto usado numa lavoura de tomate, por exemplo.
O campeão de irregularidades é o pimentão: 92% das amostras foram consideradas insatisfatórias no relatório do Para (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Anvisa). Há dois anos, eram 65%.
Os outros alimentos mais problemáticos são o morango e o pepino, com 63% e 57% de amostras com agrotóxicos além do permitido ou não autorizados, respectivamente.
Segundo José Agenor Álvares da Silva, diretor da Anvisa, o problema de resíduos em alimentos pode estar relacionado ao custo dos agrotóxicos. Os pequenos produtores, diz, acabam comprando produtos baratos, mas inadequados para certo cultivo.
Agrotóxicos são usados para controlar a incidência de pragas, como insetos e fungos.
PRODUTOS BANIDOS
Dos 50 princípios ativos mais usados em agrotóxicos no Brasil, 20 já foram banidos na União Europeia, segundo o diretor da Anvisa.
O endossulfan, achado no pimentão, já não é usado nos EUA e na China, por exemplo. Ele foi reavaliado pela Anvisa em 2010 e terá que ser banido do país até 2013.
A presença de química não permitida ocorre em 85% das amostras de pimentão.
Para Luiz Carlos Ribeiro, gerente da Andef (associação das fabricantes de agrotóxicos), isso se deve ao fato de os produtores de tomate, que normalmente também cultivam pimentão, usarem o mesmo agrotóxico nas duas culturas.
Para ele, o problema poderia ser amenizado se a Anvisa aprovasse mais rapidamente os novos agrotóxicos lançados no mercado.
Hoje, afirma Ribeiro, esse processo leva cerca de três anos para ser concluído.
CÂNCER
Segundo Ana Claudia de Moraes, coordenadora do centro de controle de intoxicações da Fiocruz, sabe-se que alguns agrotóxicos têm efeito cumulativo e podem, na exposição ao longo dos anos, causar problemas imunológicos, hormonais, neurológicos, efeitos na reprodução e até mesmo câncer.
Em 2010, a Academia Americana de Pediatria fez uma pesquisa com 1.100 crianças e constatou que as 119 que apresentaram transtorno de deficit de atenção tinham resíduo de organofosforado (molécula usada em agrotóxicos) na urina acima da média de outras crianças.

São Paulo faz análise própria, mas avalia apenas três produtos
Grande produtor de morango, Estado paulista não inclui o fruto, considerado problemático, no levantamento
Avaliação estadual inclui somente arroz, feijão e laranja, enquanto a Anvisa analisa 18 alimentos

DE SÃO PAULO

São Paulo foi o único Estado brasileiro que não quis participar do levantamento de resíduos de agrotóxicos conduzido pela Anvisa em 2010 e divulgado ontem.
A avaliação existe desde 2001. O Estado paulista colaborou apenas com a pesquisa feita em 2009 e publicada no ano passado, diz a Anvisa.
A secretaria de Estado da Saúde afirma que não entrou no programa porque já faz suas próprias análises de amostras colhidas no comércio e que esses dados são divulgados em seu site e colocados à disposição da Anvisa.
O programa paulista avalia, no entanto, apenas três produtos -arroz, feijão e laranja-, contra os 18 analisados pela Anvisa.
São Paulo está entre os quatro maiores produtores de morango, um dos alimentos que apresentaram mais problemas no relatório da Anvisa. Em todo o Brasil, são produzidas 133 mil toneladas do produto a cada ano.
Apenas na Ceagesp (entreposto de produtos agrícolas do Estado de São Paulo) são comercializadas 10 mil toneladas de morango. Esse número não inclui, por exemplo, o que é vendido nas grandes redes de supermercados do Estado, já que esses estabelecimentos compram diretamente do produtor.
METODOLOGIA
O estudo da Anvisa é feito com a ajuda da Vigilância Sanitária dos Estados e do DF. A Anvisa paga os custos do envio das amostras e manda o material para ser analisado em laboratórios.
Os Estados colhem seis amostras de cada produto pesquisado, para que as análises sejam padronizadas. O total de amostras coletadas foi de 2.488.
Segundo a Anvisa, a escolha das culturas se baseou nos dados de consumo do IBGE, na disponibilidade desses alimentos nos supermercados nos diferentes Estados e na intensidade do uso de agrotóxicos nessas culturas.
O procedimento é semelhante ao que ocorre nos EUA e em alguns países da Europa. A coleta é feita no mesmo lugar em que as pessoas compram os produtos, para que seja analisado o mesmo alimento que chega até a mesa dos consumidores.
Segundo a Anvisa, essas ações têm caráter de orientação: permitem que os supermercados conheçam a qualidade dos alimentos que adquirem dos fornecedores e orientam ações de fiscalização, que são regionalizadas -os órgãos municipais e estaduais de saúde, meio ambiente e agricultura se dividem para tentar evitar excessos no uso de agrotóxicos nas lavouras.
SUPERMERCADOS
Para o diretor da Anvisa, José Agenor Álvares da Silva, os supermercados têm papel importante no controle do uso de agrotóxicos. "A rede varejista deve dar orientação agronômica a seus fornecedores."
O diretor da Anvisa afirma que, desde 2009, existe um programa de cooperação entre a agência e supermercados que tem como objetivo diminuir os resíduos de agrotóxicos nos alimentos.
"A agricultura é o elo mais fraco dessa cadeia, especialmente as pequenas culturas. É preciso haver uma orientação maior", diz ele.
(VANESSA CORREA)

Faltam fiscais para combater abuso, afirma ministério

DE SÃO PAULO

Faltam fiscais para controlar a venda e o uso dos agrotóxicos, segundo o Ministério da Agricultura e especialistas consultados pela Folha.
Luís Rangel, coordenador da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, afirma que cabe aos Estados fiscalizar o uso e a venda dos agrotóxicos, mas que existe uma "deficiência estrutural" que dificulta essas ações no país.
Em torno de 3.000 fiscais estão responsáveis pela fiscalização das 5 milhões de propriedades rurais do Brasil, o que é insuficiente, diz.
Em 2010, foram feitas cerca de 60 mil ações de fiscalização, segundo Rangel. Em aproximadamente 15% delas havia irregularidades, afirma.
Também para o pesquisador Wanderlei Pignatti, especialista em contaminação por agrotóxicos, a falta de fiscalização é um problema. "Há estabelecimentos em que um agrônomo emite receitas sobre o que já foi vendido."
A lei obriga que a venda de agrotóxicos só seja feita com receita de agrônomo.

FSP, 07/12/2011, Cotidiano, p. C1, C4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/13474-pimentao-morango-e-pepi…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/13497-sao-paulo-faz-analise-p…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/13499-faltam-fiscais-para-com…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.