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PF vasculha Tingua para prender mandante

O Globo, Rio, p.16
26 de Fev de 2005

PF vasculha Tinguá para prender mandante
Morte de Ambientalista: Agentes Federais Apreendem na Casa da Vítima Listas com Nomes, Que Serão Investigados
Funcionário do Ibama que trabalha na reserva biológica é detido porque tinha uma espingarda em casa
Trinta agentes da Polícia Federal vasculharam ontem a Reserva Biológica do Tinguá e áreas próximas à procura do mandante do assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro. O delegado da PF em Nova Iguaçu, Marcelo Bertolucci, disse ter quase certeza de que Leonardo Marques, caçador preso anteontem que confessou o homicídio, foi cooptado por um grupo para praticar o crime.
— O trabalho da polícia continua para chegar aos mandantes deste assassinato e coibir crimes ambientais na região, como caça, extração ilegal de palmito e de areia — disse Bertolucci.
Leonardo nega que haja mandante. Segundo ele, moradores que vivem da caça e da extração do palmito odiavam Dionísio:
— Ele tirava nosso ganha-pão. É preferível tirar o palmito do que roubar. Eu ganhava uns R$15 por dia e ele só vivia denunciando a gente. Não sei por que nos perseguia, a reserva é imensa, tem bastante palmito.
Os policiais cumpriram oito mandados de busca expedidos pela Justiça federal de São João de Meriti. Eles usaram detector de metais para localizar armas. Numa casa vistoriada, foi apreendida uma espingarda calibre 28 (do mesmo tipo usado no assassinato) e detido Paulo Roberto Martins, funcionário do Ibama que trabalha na reserva. Autuado por posse de arma, ele foi liberado mediante fiança.
Segundo Bertolucci, será investigado se Paulo Roberto teve participação na morte de Dionísio. O funcionário do Ibama negou envolvimento com o crime, alegou que a espingarda era resultado de apreensão e que a guardava para se proteger.
Deputado diz que dossiê está guardado com testemunha
A casa de Dionísio também foi vasculhada. Nela foram apreendidas listas com vários nomes que serão investigados. Segundo amigos do ambientalista, ele teria feito um dossiê relatando as ameaças recebidas. O deputado estadual Alessandro Molon (PT) disse que o dossiê está guardado com uma testemunha e será apresentado no momento oportuno.

Novo Alerta

Confirmada as evidências, o assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Júnior, em Nova Iguaçu, acrescenta um ingrediente dramático no já ameaçador cenário de violência da Região Metropolitana do Rio.Não Fosse bastante o alto índice de homicídios por causa do tráfico de drogas, surge agora um assassinato típico das regiões de conflito na Amazônia.O Paralelo com a morte da missionária Dorothy Stang tornou-se inevitável. Pará e Rio assemelharam-se da pior forma possível.Mais uma vez as autoridades são alertadas para a dimensão nacional da crise de segurança pública.

Comerciantes Sob Suspeita
Segundo denúncias, donos de bares teriam feito caixinha para pagar a matador
Deputados estaduais que estiveram em Tinguá ontem conversando com moradores, ambientalistas e policiais suspeitam que o crime tenha sido encomendado por comerciantes da região. Segundo o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, deputado Carlos Minc (PT), donos de bares com piscinas naturais junto à reserva biológica estariam revoltados com a repressão à caça e à extração de palmito e teriam arrecadado dinheiro para pagar a quem matasse Dionísio.
De acordo com informações colhidas pelo deputado e repetidas em denúncias feitas à polícia, o encontro para fazer a caixinha” do assassino teria acontecido há 15 dias num churrasco. Segundo Minc, boa parte dos lucros do comércio vem de turistas que visitam a reserva e encomendam carne de caça e palmito. A atuação de Dionísio e outros ambientalistas atrapalharia o negócio.
Uma reação do caçador Leonardo Marques ao ser preso reforça a tese de que o crime teria sido encomendado. O presidente da Comissão de Segurança da Assembléia Legislativa, coronel Jairo Santos (PSC), disse que o preso estava tranqüilo por achar que cumpriria apenas seis anos de reclusão.
— Quando eu disse que ele poderia ser condenado a 28 anos de prisão, Leonardo desabou, como se tivesse sido enganado — contou o coronel Jairo.
Os delegados à frente do caso evitaram comentar a informação sobre a caixinha”, mas estão em busca de possíveis mandantes do crime.

O Globo, 26/02/2005, p.16

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