VOLTAR

PF transporta agentes para Roraima

Folha de Boa Vista
Autor: Andrezza Trajano
28 de Mar de 2008

A quinta-feira em Boa Vista foi marcada ontem por uma grande movimentação de policiais federais que chegaram ao Estado. Às 18h40 de ontem aterrissou na Base Aérea de Boa Vista um avião de marca Embraer 145, com capacidade para 40 pessoas, pertencente ao Departamento de Polícia Federal (DPF), trazendo agentes.

Vários carros novos, inclusive sem placas, estavam estacionados desde o final da tarde, em frente da sede da PF, no bairro Canarinho. Não se sabe oficialmente se esses policiais e veículos serão utilizados na Operação Upatakon 3 ou em alguma outra operação da Polícia Federal.

Como há um desencontro de informações sobre a suspensão ou não da operação de retirada de não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol, especialmente de produtores de arroz, começou a ser ventilada a possibilidade de uma outra operação ser deflagrada.

Mas, informações de fontes de dentro da própria PF dão conta de que a Operação Upatakon 3 começou definitivamente e que prova disso seria a chegada dos policiais federais ontem à noite e o número de veículos novos entregues na sede da Superintendência da PF.

Há informações de que o grupo de policiais que chegou no vôo da Embraer se dirigiu ainda ontem para a Raposa Serra do Sol nos veículos que estavam na sede da PF. Por volta das 21 horas, os carros não estavam mais estacionados na Superintendência da Polícia Federal.

As mesmas fontes informaram que para hoje de manhã estariam confirmados novos vôos da aeronave Embraer, que iria buscar aproximadamente 500 policiais federais de diversos lugares do país, incluindo 100 policiais da Força Nacional, para atuar na operação.

A aeronave estaria trazendo também equipamentos e armamentos. Já existiriam, inclusive, policiais federais infiltrados no Estado, fazendo um monitoramento sobre a atual problemática indígena. A operação poderia durar até dois meses, conforme orçamento alocado para tal evento.

Outras informações extra-oficiais dão conta de que esta logística não seria para a Operação Upatakon 3, mas uma nova operação que seria desencadeada no Estado a qualquer momento. Oficialmente a PF não confirma, mas também não desmente as especulações criadas ontem.

UPATAKON 3 - Execução da operação causa desencontro nas declarações do Governo Federal

A execução da Operação Upatakon 3, para retirada dos produtores que continuam dentro da terra indígena Raposa Serra do Sol, é motivo de divergência nas declarações prestadas pelos representantes do Governo Federal.

Enquanto a Polícia Federal faz reunião com órgãos federais para ajustar detalhes da retirada, em audiência na última quarta-feira, o ministro da Justiça, Tarso Genro, teria declarado aos deputados federais Márcio Junqueira (DEM) e Maria Helena (PMBD) que a ação estaria "congelada".

Ao sair da reunião, o deputado Junqueira ligou para a Folha dizendo que o ministro garantiu aos parlamentares que a Operação Upatakon 3 não será realizada nos próximos dias, como voltou a ser cogitado. Genro pedira aos parlamentares que elaborassem um documento assinado por toda a bancada na Câmara e no Senado, pedindo que o processo de retirada dos arrozeiros da área seja judicializado, ou seja, que a retirada dos produtores ocorra somente após a decisão da Justiça.

Na passagem por Roraima, o coordenador-geral de Defesa Institucional da Polícia Federal, delegado Fernando Segóvia, deixou claro que o objetivo da sua presença no Estado era ultimar com representantes dos órgãos federais a Operação Upatakon 3. Conforme ele, a ação vai acontecer "o mais rápido possível" e depende apenas de os órgãos estarem prontos.

Tom parecido foi dado pelo coordenador do Comitê Gestor das ações do Governo Federal em Roraima, José Nagib Lima, que confirmou que a reunião com Segóvia e demais órgãos foi para nivelar as estratégias dos procedimentos no "deslocamento" das famílias que continuam dentro da área.

"Para isso, reunimos com várias lideranças indígenas [os que são a favor e os que são contra a permanência dos não-índios da reserva] para deixar claro que, desde 2005, estamos fazendo esse planejamento, e o plano será cumprido, está nas últimas fases", afirmou Lima.

Questionado sobre o prazo para a execução, o coordenador do Comitê comentou que a operação está em curso e "o prazo é imediato para ser cumprido", mas não revelou a provável data ou mês. Ele foi enfático em dizer que não recebeu qualquer orientação para "congelar" a operação e que acha pouco provável que isso aconteça.

Conforme ele, o planejamento dos órgãos significa abordar uma questão complexa, que é a retirada dos arrozeiros e, do outro lado, cumprir a recomendação do Ministério Público Federal para que faça a retirada, sob pena de o Governo Federal ser responsabilizado pelas conseqüências que advenham disso.

Mais uma vez Nagib Lima adotou o tom conciliador quando se fala em diálogo com os arrozeiros, embora saiba publicamente dos próprios produtores que eles vão esperar pela última instância da Justiça, que é o Supremo Tribunal Federal.

Segundo Nagib Lima, o Governo Federal entende que não existe mais nenhum impedimento jurídico que impeça a saída das famílias. O governo vai insistir em colocar a disposição de terras para os produtores.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.