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PF se prepara para despejo de índios em MS

O Globo, O País, p. 11
20 de Jan de 2004

PF se prepara para despejo de índios em MS

Paulo Yafusso

Sem acordo à vista entre fazendeiros e índios, a Polícia Federal (PF) começou a elaborar um plano para cumprir a reintegração de posse das 14 áreas invadidas por índios guarani-caiovás em Iguatemi e Japorã, municípios do Sul do Mato Grosso do Sul.

No fim de semana, equipes da PF sobrevoaram a região do conflito, segundo o juiz federal Odilon de Oliveira que, na quinta-feira, concedeu a reintegração de posse aos fazendeiros. A Funai tem de retirar os guarani-caiovás das áreas e, se isso não for feito, a polícia tem ordem de, a partir de amanhã, despejar os invasores. O juiz esclareceu ontem que o prazo para a saída dos índios expira à meia-noite de hoje. Armados com flechas e bordunas, os líderes dos índios anunciaram que vão resistir.

Numa tentativa de ganhar tempo e evitar um conflito, o procurador da República Ramiro Rochenbach pediu ontem no Tribunal Regional Federal (TRF) em São Paulo a suspensão da liminar que deu aos fazendeiros a reintegração de posse das áreas ocupadas.

Segundo o juiz, há índios vindos do Paraguai

A estimativa é que pelo menos três mil índios tenham participado das invasões, muitos deles, segundo o juiz, vindos do Paraguai.

- No dia em que fui conversar com os índios, sobrevoei a aldeia Porto Lindo (em Japorã) e vi muitos indígenas lá, onde, pelos dados que tenho, vivem 2.200 índios. É questão de matemática: se tem muitos índios na aldeia, é sinal que muitos vieram de outros lugares. E entre eles há muitos que não falam português - afirmou Oliveira.

Willian Rodrigues, administrador da Funai em Amambaí, afirmou que os índios ficaram descontentes com o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, que esteve no estado sexta-feira e não conversou com eles. O juiz também reclamou de não ter sido procurado:

- O presidente da Funai, que veio a Mato Grosso do Sul por ordem do presidente Lula para resolver o problema, não foi à área do conflito e sequer me procurou ou telefonou. Considero-me uma pessoa importante no processo, não porque sou juiz, mas como conciliador. Dispensei segurança, me despi da toga de juiz e fui para a área tentar uma solução pacífica. Achei esquisito o comportamento dele.

Os guarani-caiovás começaram a invadir propriedades na região Sul do estado em 22 de dezembro. Eles querem a ampliação da reserva indígena de Porto Lindo dos atuais 1.600 hectares para 9.400 hectares.

Colaborou Flávio Freire

O Globo, 20/01/2004, O País, p. 11

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