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PF prende 15 acusados de grilagem em Tocantins

O Globo, O Pais, p.6
18 de Fev de 2005

PF prende 15 acusados de grilagem em Tocantins

BRASÍLIA. Numa operação batizada de Terra Nostra, a Polícia Federal prendeu ontem 15 pessoas de uma organização de 21 fazendeiros, pistoleiros, servidores públicos e profissionais liberais acusados de invadir e depois vender grandes fazendas em Tocantins.

A PF vai agora investigar se existe relação entre o grupo e os grileiros acusados de envolvimento no assassinato da freira americana Dorothy Stang e de trabalhadores rurais no Pará.

A suspeita é que alguns grupos de grileiros atuam em conjunto nos dois estados, marcados por vastas extensões de terras não fiscalizadas pelo poder público.

— Queremos saber se existem ligações entre estes grileiros e os crimes no Pará — afirmou a chefe da operação, a delegada federal Andréia Cristina de Vasconcelos Canal.

Entre os presos estão Luís Carlos Fagundes, segurança de um ex-candidato a prefeito de Bandeirantes, o advogado Ronaldo de Sousa Assis, os peritos criminais Vamberto dos Santos, João Filho Pereira dos Santos e a tabeliã Lucinete de Souza da Silva.

O grupo é acusado de invadir terras da União, forjar títulos e vender as propriedades para plantadores de soja do Paraná e do Rio Grande do Sul interessados. Em alguns casos, de acordo com as informações obtidas pela polícia, o grupo vendia e depois tomava de volta a propriedade ameaçando de morte compradores e agregados.

Numa dessas transações, a organização criminosa vendeu uma fazenda de aproximadamente mil hectares por R$ 400 mil e, em seguida, obrigou o comprador a assinar um novo contrato desfazendo o negócio. Os criminosos teriam até expulsado da fazenda os empregados do comprador.

A PF nega ter deflagrado a operação como uma resposta ao assassinato da freira e afirma que a ação estava planejada há mais de 15 dias.

Quadrilha é acusada de extorsão e estelionato

BRASÍLIA. A operação começou no início da manhã e, até o final do dia, 15 acusados já estavam presos. Quase todos foram detidos em Colinas do Tocantins, a 280 quilômetros de distância de Palmas, a capital do estado. A PF ainda estava à procura de mais três integrantes da organização que tiveram mandados de prisão decretados pela Justiça. Outros três integrantes foram apenas indiciados. O grupo é suspeito de formação de quadrilha, estelionato, extorsão, corrupção, entre outros crimes. Pelo menos 150 policiais participaram da operação.

A Polícia Federal reuniu um vasto conjunto de indícios contra os supostos grileiros. Entre essas provas estão várias conversas gravadas com autorização judicial, nas quais os acusados mencionam os negócios ilegais com a venda das terras invadidas. As denúncias foram reforçadas nos depoimentos de oitos testemunhas que teriam sido vítimas da quadrilha. A polícia tem informações de que pelo menos cinco fazendas de, em média, mil hectares, foram griladas e vendidas indevidamente.

O segurança Carlos Fagundes é apontado como o chefe da organização. Mas um dos mais ricos do grupo é o advogado Ronaldo de Sousa. Em nome dele, os policiais encontraram cinco carros e uma moto. O advogado é apontado como o financista da organização.

Embora tenha concentrado a operação em Colina do Tocantins, os policiais federais fizeram buscas também em Palmas, Bandeirantes, Presidente Kennedy, Guaranaí e Tupirantins. Em algumas dessas cidades os policiais foram aplaudidos pela população local.

— Muita gente ficou satisfeita principalmente com a prisão dos policiais civis — disse um dos investigadores do caso.

Tabeliã falsificava títulos de propriedade

Com o grupo, a PF apreendeu cinco revólveres calibre 38, uma espingarda, uma carabina e uma pistola. As investigações começaram há um ano. Segundo a PF, os grileiros invadiam as fazendas e falsificavam os títulos com a ajuda da tabeliã Lucinete de Souza.

As terras eram vendidas preferencialmente a fazendeiros de outros estados, para plantar soja. Em geral, o preço da terra em Tocantins é bem mais baixo que na Região Sul.

O Globo, 18/02/2005, O País, p.6

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