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PF liga vazamento atual da Chevron ao de 2011 e vê risco de novo acidente

OESP, Vida, p. A26
17 de Mar de 2012

PF liga vazamento atual da Chevron ao de 2011 e vê risco de novo acidente

SABRINA VALLE, CLARISSA THOMÉ, RIO

O último incidente no bloco operado pela Chevron no Campo do Frade pode estar relacionado ao vazamento de 2,4 mil barris de óleo em novembro de 2011 e representar riscos de um novo e grande vazamento, de acordo com especialistas e técnicos envolvidos nas investigações.
O delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal, Fábio Scliar, dá como certo o vínculo. A petroleira alega não ter encontrado relação entre os dois incidentes. Porém, a hipótese de que o reservatório apresente problemas de pressão e haja risco é uma das mais fortes possibilidades na investigação.
"Essa perfuração deve ter causado uma hecatombe em volta do poço, com uma série de microfissuras. E o óleo está pressionando para sair", disse Scliar. Técnicos da Agência Nacional do Petróleo (ANP), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Petrobrás também investigam a origem do óleo que escapou, mas os relatórios não foram concluídos.
Não está descartada a possibilidade de que as borbulhas de petróleo que surgiram no dia 4 em uma fenda de 800 metros de comprimento, a três quilômetros de onde ocorreu o vazamento de novembro, tenham causas naturais. A Chevron diz ter coletado apenas cinco litros de óleo.
No entanto, ganha força a hipótese de que um erro da empresa americana tenha provocado problemas de pressão no reservatório, com o petróleo procurando agora novos caminhos sob a terra para aflorar. Avaliações preliminares do Ibama também apontaram para um efeito de causa e consequência. Se comprovada essa tese, há possibilidade de condenação criminal pela Justiça, e não apenas autuações e multas por parte do Ibama e da ANP.
"Mas seria necessário provar que houve negligência, imperícia ou imprudência, que são os elementos formadores da culpa ou dolo", disse o advogado especialista em Direito Ambiental Carlos Maurício Ribeiro, sócio do escritório Vieira Rezende. Segundo Scliar, a empresa pode ter falhado ao escolher o local da perfuração. "Não me surpreende (o vazamento). Robustece a tese de que o poço não poderia ter sido perfurado ali, numa formação rochosa mais recente e, portanto, mais frágil", diz Scliar.
Como considera que os vazamentos estejam interligados, a PF manterá o inquérito aberto em novembro, que está no Ministério Público para avaliação. O MP pode posteriormente oferecer uma denúncia, que seguiria para a Justiça. A Chevron também poderá ser autuada por não ter comunicado imediatamente a ANP sobre o incidente, registrado inicialmente no dia 4, mas notificado quase dez dias depois.
As falhas de divulgação podem chegar a detalhes geológicos, como um afundamento do terreno próximo ao poço, que teria sido informado ao Ibama e à ANP depois de ter sido divulgado pela imprensa internacional.
Nova medida. O procurador da República em Campos, Eduardo Santos, responsável pelo inquérito que apura o acidente de novembro, disse que "estuda uma nova medida" de eventual punição à empresa, que seria pedida à Justiça. "A fenda pode ter sido causada ou precipitada pelo excesso de pressão. Não se sabe que quantidade de óleo há nessa rocha." A Chevron não está autorizada a perfurar novos poços nem a injetar água no campo de Frade desde o último acidente. / COLABOROU FELIPE WERNECK

Para lembrar
Óleo cobriu 163 km2

A Chevron começou a operar no Campo de Frade, na Bacia de Campos, em junho de 2009. O primeiro vazamento no local foi registrado em novembro de 2011. O óleo vazou por seis dias e chegou a cobrir 163 km2. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) autorizou a selagem e o abandono da exploração do poço, e a Polícia Federal abriu inquérito para investigar a quantidade de óleo vazado e a causa do problema - chegou-se a suspeitar que a empresa estaria tentando atingir a camada do pré-sal. Na ocasião, a petroleira afirmou que o vazamento fora causado por uma falha geológica, o que foi rechaçado pela ANP. A agência defendeu que havia ocorrido um "erro técnico". O governo federal aplicou multa de R$ 150 milhões por prejuízos ambientais, omissão e negligência. Na época, a operação da Chevron no Brasil chegou a ser suspensa.

OESP, 17/03/2012, Vida, p. A26

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pf-liga-vazamento-atual-da-…
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,oleo-cobriu-163-km2-,849638…

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