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PF investiga se Chevron tentou atingir pré-sal ao perfurar poço que vazou

OESP, Vida, p. A24
19 de Nov de 2011

PF investiga se Chevron tentou atingir pré-sal ao perfurar poço que vazou
Ambiente. Delegado confirma suspeita, também levantada por técnicos da Agência Nacional de Petróleo (ANP), após vazamento do Campo de Frade, em Campos, que já dura 11 dias; empresa também é investigada por empregar estrangeiros sem autorização no País

Sérgio Torres
Alfredo Junqueira / Rio

A Polícia Federal está investigando a possibilidade de a petroleira norte-americana Chevron estar tentando indevidamente alcançar a camada pré-sal do Campo de Frade. Na tentativa, teria ocorrido a ruptura de alguma estrutura do poço perfurado, dando origem ao vazamento de petróleo na Bacia de Campos (RJ), que já dura 11 dias. Técnicos da Agência Nacional do Petróleo (ANP) admitiram ontem que discutem internamente essa possibilidade.
O delegado Fábio Scliar, titular da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF e responsável pelo inquérito, disse que "uma das hipóteses com as quais trabalhamos é a de que o acidente pode ter ocorrido pelo fato da empresa ter perfurado além dos limites permitidos". Os especialistas da ANP suspeitam de que o emprego pela Chevron de uma sonda com capacidade para perfurar a até 7.600 metros, quando o petróleo em Frade aparece a menos da metade dessa profundidade, é um indicativo de que a companhia poderia estar burlando seu plano de prospecção do campo.
Além de investigar a hipótese de que haveria em curso, antes do acidente, uma ação exploratória em direção ao pré-sal, a ANP pretende apurar falhas na construção do poço, o emprego de material inadequado e a falta de realização de testes de segurança antes do início da perfuração.
A Chevron tem quatro poços autorizados no Campo de Frade. O site da ANP informa que um deles está concluído e os outros três (6CHEV4ARJS, 9FR47DRJS e 9FR49DPRJS), em fase de perfuração, em lâminas d'água que variam entre 1.184 metros e 1.276 metros de profundidade.
Ex-presidente da Associação Brasileira dos Geólogos de Petróleo, Nilo Azambuja afirma que as conjecturas que surgem em relação às causas do vazamento na Bacia de Campos, até mesmo as que vêm sendo investigadas pela ANP, não podem ser consideradas definitivas.
Segundo ele, a Chevron poderia estar tentando alcançar o pré-sal, sem que isso represente uma irregularidade. "A área é dela, se quiser pode ir ao Japão", afirmou ele, acrescentando que a empresa deve, com até 20 dias de antecedência, avisar a ANP sobre seus planos de perfuração, com detalhes da profundidade.
Para Azambuja, a hipótese mais provável é que durante o trabalho de injeção de água em um poço tenha havido movimentação de terreno e o petróleo represado no que os especialistas chamam de trapa (armadilha) acabou escapando. "Esse é um fenômeno que pode acontecer. Em reservatórios, o óleo pode ficar preso numa trapa. Quando a trapa rompe, há vazamento."
Estrangeiros. A Polícia Federal também investiga a suspeita de que a Chevron empregue estrangeiros em situação irregular no País. Segundo o delegado Fábio Scliar, há indícios de que até pessoas que não deram entrada oficialmente no Brasil estejam trabalhando em plataformas localizadas no litoral brasileiro.
"Trata-se de um ilícito administrativo. Mas é algo sério. Se isso for comprovado e esses estrangeiros em situação irregular estiverem recebendo salários no exterior, por exemplo, já se configura crime de sonegação fiscal e de sonegação previdenciária", explicou o delegado responsável. Um porta-voz da empresa negou essa possibilidade (mais informações nesta pág.).
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que a prioridade, no momento, é conter o vazamento. "Estamos agindo neste sentido. Depois, vamos passar para a fase de apuração de responsabilidades e penalidades. Teve dano ambiental, tem multa, a legislação é clara. A área técnica vai produzir relatórios e, depois, vamos dar satisfação à sociedade", disse.
Já o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), reforçou sua posição de que os Estados produtores de petróleo têm de receber uma maior parte dos royalties pois são afetados pela operação. "Esse acidente é a demonstração clara do que significa um dano ambiental em um Estado produtor de petróleo. É uma prova de que eles devem receber uma parte maior dos royalties."

Plano Nacional de Contingência não foi finalizado

Discutido desde o acidente no Golfo de México, no primeiro semestre de 2010, o Plano Nacional de Contingência para definir uma forma de atuação no caso de grandes vazamentos de petróleo e gás natural ainda não foi concluído pelo governo federal.
Autoridades classificam o atual vazamento no Rio como de intensidade média e afirmam que ele não seria abarcado pelo plano. Estimativas da ONG SkyTruth, porém, tratam o vazamento como dez vezes maior que o divulgado, o que o colocaria como de grande proporção.
Representantes dos ministérios do Meio Ambiente, Marinha e Minas e Energia farão novas rodada de negociações. Diante do noticiário trabalha-se com a perspectiva de conclusão da proposta para que a minuta de um decreto presidencial chegue às mãos de Dilma Rousseff ainda neste ano.
A criação de um plano nacional está prevista em uma lei de 2000 sobre prevenção, fiscalização e controle da poluição causada por óleo. O plano trará normas de prevenção e mitigação de impactos de grandes acidentes.
A avaliação dentro do próprio governo é que o plano foi menosprezado pelas autoridades desde que o noticiário do vazamento nos Estados Unidos esfriou e que não houve a preocupação de se definir uma política para o tema . / EDUARDO BRESCIANI e MARTA SALOMON

Empresa nega irregularidades em perfurações e analisa falha
Presidente da Chevron Brasil atribui vazamento a erro de cálculo na lama jogada no poço, recurso para aumentar produção

Clarissa Thomé /Rio

O presidente da Chevron Brasil, George Buck, confirmou que o vazamento de petróleo na Bacia de Campos ocorreu numa parte do poço injetor sem revestimento, pouco abaixo da sapata, onde termina a camada de revestimento, localizada a 567 metros de profundidade do subsolo. A extensão do poço a partir do subsolo é de 2.279 metros. A profundidade total, do espelho d'água até o final, é de 3.329 metros.
Em sua primeira entrevista desde o início do acidente, o executivo negou que a Chevron estivesse perfurando em profundidade acima da permissão que tinha na concessão para explorar petróleo na região.
Segundo ele, o vazamento ocorreu porque houve um erro de cálculo na injeção de lama pesada no reservatório para impedir o retorno do óleo pela tubulação. "Nós subestimamos a pressão no reservatório. O peso da lama foi programado para outra pressão", afirmou.
Ele revelou que técnicos da Petrobrás, que sobrevoaram a área de helicóptero no início da semana, perceberam a mancha de óleo e alertaram a Chevron. A empresa brasileira opera plataformas marinhas em áreas próximas, como a do campo gigante de Roncador.
O executivo classificou a segunda-feira como "o pior dia", quando foi identificada uma mancha correspondente a 882 barris de óleo na superfície do mar. Isso ocorreu um dia depois de ter sido introduzida uma quantidade de lama suficiente para interromper o fluxo do óleo e iniciar a cementação do poço.
A lama injetada pela Chevron é um material especial usado no processo de produção. O material é introduzido no reservatório deve facilitar a retirada do petróleo. Segundo Buck, com o peso do material, a pressão do óleo foi muito forte e o produto subiu para a parte aberta do poço, de onde vazou.
Investigação. A empresa está, segundo ele, investigando duas questões centrais: por que foi subestimada a pressão e por que houve o vazamento no poço.
Sete funcionários da Chevron foram intimados a depor à Polícia Federal sobre o vazamento. De acordo com o delegado Fábio Scliar, responsável pelo caso, cinco engenheiros que trabalham embarcados na plataforma deverão prestar esclarecimentos na próxima semana. Outros dois funcionários administrativos também foram intimados.
Os depoimentos estão previstos para ocorrer na quarta e na sexta-feira. O delegado disse que, por enquanto, não há necessidade de se convocar integrantes da direção da empresa para prestar esclarecimentos.

'Já se configura crime ambiental', diz delegado

Rio

Após sobrevoar ontem a Bacia de Campos, no litoral norte, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, afirmou ter avistado três baleias jubarte no campo operado pela americana Chevron, uma delas a 300 metros da mancha de óleo. "Isso já caracteriza dano à biodiversidade marinha. Estamos na época de migração de espécies de baleias e golfinhos na região", disse.
O delegado da Polícia Federal Fábio Scliar, que investiga o caso, concorda com Minc. "A empresa já não nega que o vazamento ocorreu pela rachadura na atividade de perfuração. Já se configurou o crime ambiental. Não importa a extensão", argumentou Scliar.
"Deve sair amanhã (hoje) um dado definitivo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), relativo a quarta-feira, sobre o tamanho da mancha. Eu sei que é muito mais do que a empresa diz, mas não vou me aventurar a dizer se é quatro, cinco ou dez vezes", declarou Minc.
De acordo com o ex-ministro do Meio Ambiente, "tudo indica" que a empresa Chevron sonegou informação, minimizando o acidente.
Para o secretário, foi uma "falha" o fato de o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) prévio não ter detectado a hipótese de fissura. "Eu vi borbulhar (ontem), continuava saindo óleo e não havia navios recolhendo o óleo."
Para Minc, o acidente foi um "sinal vermelho". "Não existe risco zero. O pré-sal vem aí", disse ele, reconhecendo a necessidade de "medidas mais preventivas e rigorosas". / F.W.

OESP, 19/11/2011, Vida, p. A24

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