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PF despeja 300 índios de fazenda invadida em MS

OESP, Nacional, p.A10
21 de Nov de 2003

PF despeja 300 índios de fazenda invadida em MS
Tensão continua, pois outras seis propriedades da região continuam ocupadas pelos terenas

JOÃO NAVES DE OLIVEIRA

CAMPO GRANDE - Cerca de cem agentes da Polícia Federal despejaram ontem 300 índios que ocupavam havia quatro anos a Fazenda Furnas Estrela, em Dois Irmãos do Buriti (MS). Os terenas, pintados para a guerra, prometiam reagir - ameaçavam até cometer suicídio coletivo -, mas deixaram o local sem causar problemas. Em pelo menos outros dois Estados - Paraná e Mato Grosso -, o dia de ontem foi tenso, com risco de conflitos envolvendo tribos indígenas. A situação mais grave é em Alto da Boa Vista (MT), onde o impasse já dura uma semana (ver ao lado).
Outros 50 policiais federais e militares permaneceram de prontidão, para o caso de um grande confronto na fazenda, localizada a 110 quilômetros de Campo Grande. No despejo foram utilizados caminhões, ônibus, utilitários, ambulâncias e um avião. Apesar do sucesso da operação, a situação tensa na região ainda não está resolvida, pois ainda há índios ocupando outras seis propriedades rurais na vizinhança. Eles alegam que as terras foram de seus antepassados e, por isso, são herdeiros.
A força policial foi solicitada pela Justiça Federal porque os indígenas não respeitaram a ordem judicial para a desocupação. A PF denominou a ação de Operação Buriti, que começou por volta de 3 horas e só terminou no fim da tarde de ontem.
Briga antiga - Os índios começaram as invasões em 1999, quando começou uma investigação em busca de vestígios que comprovassem que a tribo sempre viveu na região, entre os municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos, área de 17.500 hectares. Em 2002, os índios intensificaram as ocupações depois que a Fundação Nacional do Índio (Funai) revelou que as análises comprovavam a existência de cemitérios indígenas naquela faixa, o que caracterizava a ocupação irregular por fazendeiros.
Entretanto a Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul, contestou o laudo. Despacho da desembargadora do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, Suzana Camargo, suspendeu os efeitos dos estudos, decisão que resultou nas invasões em série. Neste ano, os terenas ocuparam oito fazendas entre os dois municípios, com atos violentos. Um deles foi em agosto, quando o subtenente da PM Benedito Jitsumory, de 51 anos, e o cabo Airton Julio, de 50 anos, foram amarrados e espancados dentro de um galpão da Fazenda Aparecida. Eles atendiam à queixa de um fazendeiro ameaçado de morte.
Investigação - O Ministério da Justiça informou ontem que o presidente da Funai, Mércio Gomes, decidiu afastar o administrador regional do órgão no Paraná e em Santa Catarina, Getúlio Gomes da Silva, e seu adjunto, Brasílio Priprá, para investigar denúncias de irregularidades. Essa era uma das reivindicações dos 50 índios de cinco etnias que ocuparam anteontem as instalações da Funai em Curitiba. Ontem eram esperados mais índios para reforçar a ocupação.
Ao saber da decisão da Funai, Gilbert Crendô, um dos membros da Comissão das Comunidades Indígenas, disse que eles não deixariam o local. "Queremos que seja feita uma investigação completa." (Colaborou Evandro Fadel)

OESP, 21/11/2003, Nacional, p. A10

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