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As pessoas precisam tomar conhecimento do custo ambiental

O Globo, Ciência, p. 34
Autor: BOER, Yvo de
29 de Mar de 2012

As pessoas precisam tomar conhecimento do custo ambiental

Corpo a Corpo
Yvo de Boer

À frente da Convenção de Mudanças Climáticas da ONU de 2006 a 2010, o austríaco Yvo de Boer é atualmente consultor especial da empresa multinacional de contabilidade KPMG para sustentabilidade e alterações no clima. Especialista no tema desde 1994, De Boer defende a ideia de que causamos tanto dano ao planeta que entramos numa nova era geológica, o antropoceno: "Nada teve um impacto tão destrutivo quanto nós".

O GLOBO. Há pelo menos 20 anos, desde a Rio 92, sabemos que o planeta sofre uma crise ambiental. O conhecimento aumentou muito de lá para cá, mas, basicamente, sabemos que as mudanças climáticas são uma ameaça real. Por que, então, até agora não existe um grande acordo global para deter a elevação das temperaturas? O que houve de errado nessa mensagem?

YVO DE BOER: Os políticos, na maioria dos países, assim como as pessoas em geral, não têm uma visão muito clara de como transformar o conhecimento em práticas reais de crescimento sustentável. Isso é muito claro. Eles acreditam que essas políticas vão tornar as coisas mais caras, tornar as pessoas mais pobres, o que não é de todo mentira no primeiro momento. Há um custo ambiental que não está sendo contabilizado e que, quando passar a ser, tornará as coisas mais custosas. Mas é isso que precisa acontecer, embora seja uma mensagem dura para um político dar.

Em nível individual, o senhor acha que as pessoas têm essa consciência ou continuam achando que o aquecimento global é uma realidade distante de suas vidas cotidianas? Elas estariam dispostas a pagar esse preço a que o senhor se refere?

DE BOER: Há diferenças considerando cada parte do mundo. Dez anos atrás, nos países menos desenvolvidos, acreditava-se que as mudanças climáticas eram algo inventado pelo Ocidente e, portanto, deveria ser resolvido pelo Ocidente. Hoje, claro, há muito mais conhecimento sobre o tema. Por outro lado, certamente muitos adorariam ter o estilo de vida de europeus e americanos e não querem pagar mais por produtos sustentáveis. O problema é muito complexo e ainda parece, de fato, distante da realidade para quase todo mundo. Mas as pessoas precisam tomar conhecimento do custo ambiental. Entender que há um gasto adicionado a seu comportamento. E isso vai mudar nas próximas décadas. Por exemplo: os carros muito grandes, em algum momento, deverão ter um preço muito mais alto, que reflita o dano ambiental que causam. Não precisamos comer e comer cada vez mais e desperdiçar alimento sem consciência.

Novas formas de medir o crescimento dos países, que levem em conta questões sociais e ambientais e sejam mais abrangentes que o PIB, são necessárias?

DE BOER: Acho muito importante porque precisamos definir riqueza de uma forma bem mais ampla do que a atual. Mas, ainda assim, é preciso ver se as pessoas estarão dispostas a arcar com isso.

Em sua opinião, algum país já pratica uma economia verde?

DE BOER: Não, nenhum. Alguns países estão tentando caminhar nessa direção. É o caso da China, por exemplo, que vem investindo muito em novas tecnologias. É o caso da Noruega, que tem como meta não emitir CO2 até 2050. A Dinamarca também tem metas ambiciosas. Há alguns exemplos sérios.

O senhor concorda com essa definição adotada na conferência de que o homem alterou tanto o planeta que acabou criando uma nova era geológica, o antropoceno, ou Era do Homem?

DE BOER: Sim. Fizemos tanto para transformar o planeta e de forma tão profunda que, infelizmente, já se caracteriza uma nova era geológica. Nada teve um impacto tão destrutivo sobre a Terra quanto nós mesmos. (Roberta Jansen)

O Globo, 29/03/2012, Ciência, p. 34

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