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Pesquisadores indígenas discutem justiça climática em encontro em Brasília

FSP, Ambiente, p. B5
21 de Mar de 2024

Pesquisadores indígenas discutem justiça climática em encontro em Brasília
Evento no CNPq reúne representantes do governo federal, professores, estudantes e ativistas

Jorge Abreu

21/03/2024

Indígenas do Brasil, Chile, Bolívia, Colômbia e Equador se reuniram nesta quarta-feira (20) para debater temas relacionados a ciência e justiça climática na sede do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em Brasília.

O 1o Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades segue até sexta (22), com a participação de representantes do governo federal, professores, estudantes (de graduação e pós-graduação), cientistas e personalidades, entre elas o cacique Raoni Metuktire, a ativista Txai Suruí e o escritor Ailton Krenak.

Com foco na crise climática, o primeiro momento do evento teve discussões sobre a valorização do papel dos povos originários na proteção dos biomas -contra desmatamento, poluição dos rios e degradação do solo.

"Eu não aceito que os garimpeiros e os madeireiros continuem destruindo as nossas florestas, nossos territórios e nossos rios. Se eles continuarem com o desmatamento e a degradação, podem acontecer coisas muitos ruins para todos nós. O calor excessivo é um exemplo disso", disse Raoni.

O cacique, em sua fala no evento, enfatizou que as ações humanas são a principal a causa do aquecimento global e lamentou as mortes de indígenas durante conflitos contra garimpeiros, grileiros e madeireiros.

O líder indígena da etnia kayapó recebeu, neste ano, dois títulos de doutor honoris causa, pelas universidades estadual e federal de Mato Grosso. Os reconhecimentos foram dados por sua luta em defesa da amazônia e dos povos originários em diversos fóruns internacionais, como em edições da COP, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas).

Raoni destacou também a usurpação de conhecimentos tradicionais. Ele afirmou que os povos indígenas colaboraram, e ainda colaboram, em estudos da medicina e na confecção de remédios a partir de produtos extraídos da floresta, nos quais não foram dados os devidos créditos.

Arlindo Baré, presidente da Upei (União Plurinacional dos Estudantes Indígenas), entidade organizadora do evento, frisou a importância da representatividade indígena nas universidades, para que conhecimentos tradicionais cheguem à comunidade científica. Isso deve ocorrer, ele defende, sem que seja deixada de lado a relevância da presença dos indígenas nas aldeias, reservas e comunidades.

"Nós, povos indígenas, sempre pautamos a justiça climática, a partir da preservação da natureza. A gente tem esse papel importante. Em relação à área de pesquisa, conseguimos ter dados, informações e índices para dizer também que a ciência concorda com aquilo que a gente já fala há milhares de anos, desde os nossos ancestrais", afirmou Baré.

Representante da amazônia nas COPs de Glasgow e dos Emirados Árabes Unidos, Txai Suruí ressaltou que os povos indígenas já empregavam ciência, matemática, física e química antes da chegada dos portugueses ao Brasil.

Ela, que é estudante de direito da Universidade Federal de Rondônia e colunista da Folha, disse que o papel dos universitários indígenas é unir a ciência e o conhecimento milenar.

"A amazônia não é simplesmente a maior floresta com a maior biodiversidade do mundo porque, simplesmente, ela cresceu assim, mas, sim, porque nós estávamos lá, porque a nossa presença estava lá. Quando a gente comia as frutas, a gente plantava as sementes depois, porque sabia que os nossos filhos iriam sentir fome."

Participaram da mesa de debates também o ministro conselheiro da Bolívia em Brasília, Sebastian Mamani Cuenca, o doutorando Roger Chambi, a antropóloga Luiza Córdoba, da Colômbia, e a socióloga Viviana Alexandra Collaguazo, do Equador.

FSP, 21/03/2024, Ambiente, p. B5

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/03/pesquisadores-indigenas-…

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