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Pesquisador instala fábrica de sabonete de mumuru no Acre

Gazeta Mercantil do Norte-Belém-PA
Autor: Edmilson Ferreira
20 de Mar de 2002

O físico Fábio Fernandes Pinto não pensava em se tornar empresário quando chegou ao Acre, em 1996, para ajudar a Universidade de Campinas (Unicamp) numa pesquisa coordenada por uma organização não-governamental (ong) de São Paulo. Durante os estudos, teve intenso contato com o mumuru, uma palmeira cujo fruto é desprezado pelos índios e demais povos da floresta porque é duro e pouco interessa à alimentação. Terminada a pesquisa, Fernandes Pinto começou a estudar o fruto. Seu feeling lhe dizia que o coquinho poderia produzir um óleo que tivesse alguma utilidade. Destrinchadas quimicamente as propriedades do fruto, ele decidiu então investir pesado para conseguir produzir o óleo em larga escala.
Quase uma década depois dos primeiros estudos, Pinto já investiu R$ 1 milhão em pesquisa, construção de galpões e aquisição de equipamentos para instalar, em Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do Acre, a primeira fábrica de óleo e sabonete de mumuru, o desprezado coquinho das florestas. 'Até hoje o pessoal continua não acreditando que o mumuru tenha algum valor', revela Pinto, que mistura a figura de empresário com a de cientista.
Ele já tem um contrato com a indústria ChemyUnion, que produz uma resina a partir do óleo de mumuru. O sabonete terá preço final de R$ 5 a unidade, valor salgado devido não apenas ao custo da produção mas principalmente pela qualidade.
A empresa de Pinto, a Tawya Comércio de Produtos do Vale do Juruá, realizou diversos testes em cidades dos Estados Unidos e do Brasil, e conseguiu a aprovação dos consumidores por causa da boa quantidade de espuma e pela sensação pós-banho. No Brasil, o sabonete deverá competir com similares de grandes empresas, como a Natura. No exterior, especialmente no mercado norte-americano, onde o produto possui definição de 'sabonete 100% vegetal a frio', a unidade custará ao consumidor US$ 3 ou US$ 4. Além de tudo, o sabonete não leva conservantes. A fábrica produz atualmente 250 mil peças.
A Tawya evita usar o 'apelo ecológico' do produto, destacando apenas o envolvimento de várias famílias no processo. Pinto espera inaugurar oficialmente as unidades no começo do segundo semestre, quando já deverá ter em mãos o alvará da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), único documento que falta para que o sabonete e o óleo cheguem aos mercados brasileiro e mundial.
Já nesta fase inicial a extração do mumuru beneficia cerca de cem famílias que, com a atividade, tiveram a renda ampliada em pelo menos um salário mínimo ao mês, trabalhando apenas um trimestre no ano - período da coleta do coco, apanhado no chão depois de cair maduro. A safra vai de março a junho. Os dados levam em conta a compra experimental efetuada em 1999 com as famílias extratoras do município amazonense de Guajará, quando cada grupo coletou 100 sacas no período.
Pinto comprou a saca a R$ 12, alimentou a esperança da população e a fez buscar organização em cooperativa para assegurar a participação no negócio. 'Só compro de associação ou cooperativa que tenha plano de manejo e forneça nota fiscal', diz o empresário-cientista. Até 2004, o trabalho com o mumuru deverá envolver 500 famílias. Os negócios com o coco representarão, segundo sua estimativa, uma das principais atividades do Vale do Juruá no Acre e no Amazonas. Hoje, são produzidas duas toneladas de óleo ao mês. Em dois anos, a empresa pioneira deverá vender dez toneladas mensais.
Ele acredita na existência de uma grande reserva de mumuru, com mais de um milhão de hectares, entre Guajará e Cruzeiro do Sul. As instalações da Tawya - dois galpões de 700 metros quadrados cada, e um local para a fábrica com cerca de mil metros quadrados, abrigarão equipamentos usados há pelo menos cem anos na produção de óleos vegetais. O processo consiste em coleta, secagem, quebra do coco e separação da amêndoa, este um trabalho lento, que requer paciência. Pinto diz que estuda meios de agilizar essa etapa da produção.
Agência abre negócios on-line com fruto
A Agência de Negócios do Acre (Anac) se prepara para lançar oficialmente a linha de produtos regionais para compras on-line. O site da agência será inaugurado com quatro itens e o mumuru será um dos produtos disponibilizados para venda direta ao consumidor. A Anac apóia o projeto do empresário Fábio Fernandes Pinto, fornecendo a embalagem com a qual o produto vem sendo divulgado no Brasil e no exterior.
A Agência avaliou como 'muito boa' a repercussão da degustação de castanha realizada há dez dias pela Varig nos vôos de Rio Branco para Brasília, São Paulo e na Ponte Aérea. A castanha foi distribuída aos passageiros durante as refeições. 'A repercussão foi boa', disse Dirlei Bersch, coordenadora da entidade.
O Ministério do Meio Ambiente investiu, no ano passado, mais de R$ 100 mil no fomento à extração do mumuru no Vale do Juruá. Além do sabonete, a Anac disponibilizará em sua loja virtual o biscoito de castanha-do-pará, palmito de pupunha e obras e marchetaria (aplicações de madeira sobre madeira).

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