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Pesquisa sobre conservação na Amazônia 8: recuperação de áreas degradadas versus proteção da floresta

Amazônia Real - http://amazoniareal.com.br/
Autor: FEARNSIDE, Philip M.
18 de Mai de 2015

Convocações para fazer mais pela recuperação de áreas degradadas são comuns nas discussões da Amazônia e dos impactos do desmatamento. Embora as cabeças sempre acenem de acordo quando esta "pedra de toque" é mencionada, uma consideração mais cuidadosa desta opção é necessária no caso da Amazônia.

A maior parte da Amazônia brasileira ainda está de pé, embora uma parte significativa do que sobrou tem sido sujeita a alguma forma de distúrbio recente. A área de floresta desmatada até 2013 totalizou 765.354 km2 [1], ou 19,8% dos 3,87 milhões de km2 originalmente florestados entre os 5 milhões de km2 da Amazônia Legal.

Evitar a destruição, tanto quanto possível da floresta restante, deve ser a primeira prioridade, e as oportunidades para fazer isso por meio da criação de áreas protegidas são altamente dependentes do tempo, aumentando rapidamente a dificuldade de criar essas áreas na medida em que a ocupação avança.

O custo financeiro da recuperação de um hectare de terra degradada é muito maior do que o custo de evitar o desmatamento de um hectare de floresta nativa, e o benefício em termos de biodiversidade, água e carbono é muito menor.

Uma vez que os recursos financeiros disponíveis para ações ambientais são sempre limitados e insuficientes, o dinheiro gasto em recuperar terras degradadas implica em menos para evitar o desmatamento.

A grande vantagem da recuperação de áreas degradadas como uma opção é que todos são a favor, enquanto evitar o desmatamento pode contráriar poderosos interesses econômicos. A criação de áreas protegidas representa o meio mais duradouro e eficaz de evitar o desmatamento e deve ser a prioridade.

A recuperação de terras degradadas pode se tornar uma prioridade sob outras circunstâncias, como é o caso da Mata Atlântica, onde permanecem apenas pequenos fragmentos de floresta original. No entanto, esse dia ainda não chegou para a Amazônia, e é essencial manter o foco na proteção da floresta restante.

A distribuição, a conectividade e o grau de perturbação de fragmentos florestais são importantes em áreas altamente desmatadas, como no norte do Estado de Mato Grosso, e diversas intervenções podem ajudar a minimizar a perda de biodiversidade [2].

As faixas de mata ciliar ao longo das margens dos córregos, tradicionalmente protegidos pelo Código Florestal brasileiro, são particularmente importantes no fornecimento de corredores de migração que interligam fragmentos florestais. Uma vez que as disposições do Código Florestal tinham pouca aplicação, durante muitos anos, essas florestas ribeirinhas foram eliminadas em grande parte de paisagens agrícolas, particularmente aquelas no bioma Mata Atlântica, onde o desmatamento é muito mais avançado do que na Amazônia.

A recuperação dessas conexões é parte de uma estratégia para a manutenção de populações de animais selvagens, especialmente grandes predadores tais como a onça (Panthera onca). Um notável sucesso foi alcançado num programa em andamento na parte ocidental do estado de São Paulo (e.g., [3]).

No cerrado em Mato Grosso, onde a perda de habitat é mais avançada do que na floresta amazônica, a quebra destes corredores de migração de mata ciliar é uma das principais ameaças para a manutenção de populações viáveis de onças [4, 5].

NOTAS

[1] Brasil, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). 2014. Projeto PRODES: Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite. INPE, São José dos Campos, SP. Disponível em: http://www.obt.inpe.br/prodes/
[2] Peres, C.A.; Gardner, T.A.; Barlow, J.; Zuanon, J.; Michalski, F.; Lees, A.; Vieira, I.; Moreira, F. & Feeley, K.J. 2010. Biodiversity conservation in human-modified Amazonian forest landscapes. Biological Conservation 143: 2314-2327.
[3] Cullen Junior, L.; Alger, K. & Rambaldi, D. 2005. Land reform and biodiversity conservation in Brazil in the 1990's: Conflict and the articulation of mutual interests. Conservation Biology 19: 747-755.
[4] Zeilhofer, P.; Cezar, A.; Torres, N.M.; Jácomo, A.T.A. & Silveira, L. 2014. Jaguar Panthera onca habitat modeling in landscapes facing high land-use transformation pressure - Findings from Mato Grosso, Brazil. Biotropica 46(1): 98-105. Doi: 10.1111/btp.12074
[5] Isto é uma tradução parcial atualizado de Fearnside, P.M. 2014. Conservation research in Brazilian Amazonia and its contribution to biodiversity maintenance and sustainable use of tropical forests. p. 12-27. In: first Conference on Biodiversity in the Congo Basin, 6-10 June 2014, Kisangani, Democratic Republic of Congo. Consortium Congo 2010, Université de Kisangani, Kisangani, República Democrática do Congo. 221 p. http://congobiodiversityconference2014.africamuseum.be/themes/bartik/fi…. As pesquisas do autor são financiadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (proc. 304020/2010-9; 573810/2008-7), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) (proc. 708565) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) (PRJ1).

http://amazoniareal.com.br/pesquisa-sobre-conservacao-na-amazonia-8-rec…

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