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Pesquisa relaciona fungo imune a remédios ao aquecimento global

OESP - https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral
30 de Jul de 2019

Pesquisa relaciona fungo imune a remédios ao aquecimento global
Identificado em 2009, o organismo resistente se adaptou à temperatura do corpo humano, dizem cientistas americanos

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo
30 de julho de 2019 | 03h00

RIO - O aumento das temperaturas médias do planeta pode ser responsável pela misteriosa disseminação de um fungo resistente a múltiplas drogas. Isso é o que indica novo estudo científico publicado este mês.

O fungo Candida auris ataca pessoas com o sistema imunológico debilitado e pode causar vários tipos de infecção, dos ouvidos ao sistema sanguíneo. Em casos graves, há risco de morte.

O fungo é do mesmo gênero da Candida albicans, um dos principais causadores de candidíase, mas de espécie diferente. Enquanto a primeira afeta a pele, unhas e órgãos genitais e é de fácil tratamento, a C. auris tem resistência extrema.

Até agora, cientistas não sabiam explicar como ela surgiu em mais de 30 países após ter sido descoberta, em 2009. Surtos da infecção fúngica apareceram, simultaneamente, em três continentes, de 2012 a 2015.

O fungo já invadiu uma unidade neonatal na Venezuela e um hospital espanhol e fez com que um centro médico britânico fechasse a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Recentemente, foi identificado nos Estados Unidos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil já teve dez casos suspeitos, mas nenhum foi confirmado. Em 2017, a agência publicou comunicado aos serviços de saúde sobre como prevenir e proceder com o fungo.

O novo estudo publicado na mBio, revista da Sociedade Americana de Microbiologia, sustenta que esse seria o primeiro exemplo de uma nova doença fúngica se espalhando por causa das mudanças climáticas. "Como as temperaturas ficaram mais altas, alguns organismos, entre eles a C. auris, se adaptaram ao clima mais quente e, à medida em que se adaptaram, romperam a barreira da temperatura humana", diz o coautor do estudo, Arturo Casadevall, especialista em Imunologia da Johns Hopkins (EUA).

Infecções fúngicas são relativamente raras em humanos porque, normalmente, fungos não crescem à temperatura média do corpo e por causa de nossos mecanismos naturais de defesa. Estudos já mostraram que, por isso, de milhões de espécies de fungos, só algumas centenas são capazes de causar doenças em humanos. "O que o estudo sugere é que os fungos começam a se adaptar a temperaturas mais altas, e que vamos ter cada vez mais problemas ao longo deste século", diz Casadevall.

Alerta
Estudos mais antigos sustentavam que o uso indiscriminado de drogas antifúngicas seria o motivo. Mas, para muitos especialistas, esse uso, ainda que problemático, não explicaria surtos simultâneos em três continentes. Mudanças do clima, com aumento médio de 1oC na temperatura da Terra, são uma resposta mais factível. O Acordo de Paris, firmado por 195 países, tem como meta conter a alta de temperatura do planeta a menos de 2oC até o fim do século.

Dengue
Em 2017, estudo na revista Lancet mostrou que a capacidade do Aedes aegypti de transmitir dengue cresceu, no planeta, 9,4% desde 1950 como resultado da elevação de temperaturas.

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