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Pesquisa mostra que escola Sateré-Mawé é espaço de afirmação cultural

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Thaís Brianezi
07 de Mai de 2005

O processo de escolarização, que já foi instrumento de subjugação da cultura indígena Sateré-Mawé, hoje se tornou um meio de luta política pela garantia de direitos e pela conquista da autonomia desse povo. Esta é uma das conclusões da pesquisa de Elciclei Faria dos Santos, cuja dissertação de mestrado foi defendida na Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O título do trabalho é "Contando Histórias de Formação de Professores(as) Sateré-Mawé: um estudo a partir de experiências docentes em áreas indígenas".

Cerca de 3,3 mil Sateré-Mawé vivem na terra indígena Andirá-Marau, uma área homologada em 1986, com 790 mil hectares, que abrange os municípios de Maués, Parintins, Barreirinha (AM) e Itaituba e Aveiro (PA). Izia Maria Albuquerque é professora da comunidade Menino de Deus, no rio Urupadi. Ela conta que em toda Andirá-Marau há 90 escolas municipais de ensino fundamental. "Os alunos da primeira e segundas séries só estudam a língua Sateré. A partir da terceira série, a gente começa a apresentar o Português", explica a professora. Izia foi alfabetizada em uma escola dentro da terra indígena e lembra que na época era proibida de falar Sateré na sala de aula. "Hoje o ensino bilíngüe já é realidade. É importante a gente aprender o Português também", defende.

Já Francisca Nila, que leciona há 19 anos na comunidade Nova Aldeia, no rio Marau, saiu da terra indígena quando ainda era criança para estudar em Manaus (AM) e retornou sem ter concluído a quarta série para ensinar Português. "Eu já estava esquecendo minha língua, tive de reaprender. Começamos a ensinar Sateré nas escolas quando aprendemos a escrever o idioma, que tradicionalmente é apenas falado", revela.

"A maior parte dos professores indígenas se forma assim, como Francisca, na prática", diz Elciclei, autor da pesquisa. Ela destaca a importância da oferta de cursos de formação continuada para esses professores. Segundo ela, os Sateré-Mawé foram os primeiros alunos da política oficial de formação de professores indígenas da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), em 1993, no surgimento do projeto Pira-Yawara (cursos de nível fundamental e magistério para professores indígenas, oferecidos a partir de demanda da comunidade). "Além da política oficial, o movimento indígena possui ainda uma política própria de formação docente, que se dá por meio dos Encontros de Professores", conta a pesquisadora. Desde 1997, os Sateré-Mawé realizam esses encontros.

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