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Autor: André Nishizaki
04 de Jul de 2006
Uma equipe multidisciplinar de 21 antropólogos, arqueólogos, historiadores e ecólogos identificou, no final do ano passado, o local exato da terceira dentre as quatro paisagens sagradas da mitologia do Alto Xingu, o Sagihenhu, onde se deu a origem do Kuarup. As pesquisas foram concluídas há três meses e duraram mais de um ano. O local é conhecido como Travessão do Avelino, no rio Culuene, em Mato Grosso, e fica a cerca de 80 quilômetros do Parque Indígena do Xingu. Os estudiosos pedem agora a preservação do sítio sagrado dos indígenas.
O relatório final das pesquisas foi protocolado, em abril, no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que ainda está analisando o documento. O trabalho foi elaborado como parte dos estudos ambientais para implantação da pequena central hidrelétrica (PCH) Paranatinga II, em Campinápolis, a 540 Km de Cuiabá. As obras estão situadas sete quilômetros a montante do local apontado como o Sagihenhu. Os estudos, autorizados pela Portaria Iphan no127/05, também foram apresentados ao Ministério Público Federal e à Funai, além de terem sido entregues a diversas lideranças indígenas do Xingu. Mesmo assim, no último dia 31 de maio, um grupo de 130 índios do Xingu invadiu e saqueou o canteiro da construção sob a alegação de que o sítio sagrado seria no local das obras.
Os pesquisadores foram contratados pela Paranatinga Energia S/A, concessionária da construção, através da empresa Documento, de São Paulo, uma das mais conceituadas do país em estudos de arqueologia e antropologia. No trabalho de prospecção, os pesquisadores percorreram aproximadamente 300 Km na calha do Culuene e mais 105 Km de trilhas perpendiculares ao rio. Nesses percursos, foram cadastrados seis travessões barreiras naturais de rochas formando pequenas quedas de água e 10 sítios arqueológicos.
Mas somente o Travessão do Avelino satisfez os quatro pressupostos para a identificação do sagrado, de acordo com os contadores do Kuarup: presença de uma cachoeira (chamada de ogo); presença de caldeirões no lajedo (os moquéns do sol, onde os peixes eram capturados para a celebração); presença de vestígios de atividades humanas (com vegetação típica descrita pelos contadores); e presença de sítio arqueológico nas duas margens do rio (provando a existência de remota aldeia no local).
O sítio sagrado descrito pela mitologia xinguana pode agora, segundo sugerem os pesquisadores, ser preservado. O relatório final da pesquisa aponta que é fundamental a preservação de 1 quilômetro da calha do rio, com o travessão ficando exatamente no meio, além de faixas de 1 Km de largura ao longo das margens direita e esquerda dessa extensão, onde ficam os sítios arqueológicos.
Nessa reunião, foi formada uma comissão de 12 índios sete contadores do Kuarup, um tradutor e quatro convidados que visitou os pontos mais prováveis de serem o Sagihenhu. O grupo era composto ainda por uma antropóloga, um historiador e um lingüista norte-americano que se encontrava no PIX. No dia 27 de novembro do ano passado, os índios estiveram no Travessão do Avelino e o reconheceram de imediato como sendo o sítio sagrado, lembrando inclusive de visitações feitas com seus pais ainda quando eram crianças.
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