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Pescadores e indígenas do extremo sul da Bahia são treinados para proteger recursos hídricos

Canal Rural - www.canalrural.com.br
07 de Set de 2008

Os primeiros 50 Agentes Voluntários das Águas - indicados por instituições, povos e comunidades tradicionais do extremo sul da Bahia para atuar na proteção e conservação dos recursos hídricos, na área de atuação da bacia onde vivem - participaram de um curso de capacitação, em Porto Seguro.

O curso é a segunda etapa do programa desenvolvido pelo governo do Estado, por meio do Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), para capacitar pescadores, indígenas e demais integrantes dos povos e comunidades tradicionais. Foram 40 horas de aulas teóricas e prática, algumas delas ministradas pelo cacique Aruã Gerdion Santos do Nascimento, da liderança do Movimento dos Pescadores da Bahia (Mopeba), o professor Marcos Sorrentino, das Universidades de São Paulo e de Brasília, e Carlos Alberto Pinto, da Reserva Extrativista (Resex) do município de Canavieiras.

O coordenador de Políticas para Povos Indígenas, Jerry Matalawê, da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia (SJDH), apresentou o termo de cooperação técnica celebrado com o Ingá para o fortalecimento dos povos indígenas.

Ao final do curso, os participantes assinaram o termo de adesão com o Ingá, que tem prazo de duração de um ano, podendo ser prorrogado por iguais e sucessivos períodos. De acordo com decreto, o serviço voluntário não gera vínculo funcional ou empregatício com a administração pública, nem qualquer obrigação de natureza trabalhista ou previdenciária.

No mês de outubro, o mesmo grupo retorna para a terceira etapa do programa, que é a elaboração de um plano de ação, a ser executado com acompanhamento técnico do Inga e do grupo gestor em um ano, garantindo a implementação, a execução e o acompanhamento do Programa Agentes Voluntários das Águas.

Multiplicadores

Participante do curso, o pescador Eclerizonaldo Borges da Silva, do distrito de Guaiú, no município de Santa Cruz Cabrália, está confiante em poder atuar na sua localidade como agente multiplicador das informações adquiridas no curso.

Guaiú está dentro de uma área de preservação onde os pescadores enfrentam problemas como as cercas que impedem o acesso ao mar e ao rio Santo Antônio, que foram colocadas pelos proprietários das áreas cortadas por esses cursos d'água. Ele diz que os pescadores querem maior fiscalização do Estado para abrir os acessos ao povo, lavadeiras e pescadores.

Outro agente voluntário, André Paulo Santos Silva, que é auxiliar da escola Dom Pedro II, no distrito de Gabiarra, no município de Eunápolis. Ele "está convicto de que a partir do momento em que o agente toma conhecimento de questões como desmatamento e conservação das matas ciliares e dos manguezais, vai atuar como multiplicador do processo na comunidade onde atua, buscando as responsabilidades dos órgãos governamentais".

Santos Silva mora em um distrito cortado pelo Córrego Grande, que já teve água limpa, onde as pessoas mais velhas tomavam banho e lavavam pratos. Hoje, está contaminado com o caramujo que transmite a esquistossomose.

- Uma das minhas primeiras ações vai ser conscientizar os pais das crianças e depois as crianças da minha comunidade - disse a professora Marialva Dias dos Santos, que dá aulas para os indígenas na Escola Indígena Pataxó de Aldeia Velha, no distrito de Arraial D'Ajuda.

Ela quer levar as crianças à beira dos rios e lagos para aulas práticas de conservação das águas. A comunidade onde atua é abastecida por dois poços artesianos, e a professora pretende mostrar a importância de economizar esta água para que não falte.

Membro da comunidade indígena Aldeia Juerana, no distrito de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, o índio Ibiracuri (Carlos Sandro Dias de Souza) diz que o curso "vai lhe dar o conhecimento para um assunto que é global, mas onde precisa agir dentro de sua própria aldeia, na conservação do rio Utinga, que corta o local".

A primeira ação de Ibiracuri será fazer uma reunião com o cacique da sua tribo, para que possa multiplicar para os demais membros o conhecimento adquirido durante o curso. Depois, quer ir em outras aldeias fazer a sensibilização e a conscientização para a preservação das águas.

Segundo a bióloga do Ingá, Maria Henriqueta, coordenadora do programa, "este curso é uma etapa do processo e tem papel fundamental de instrumentalizar essas pessoas, contribuir para a construção do conhecimento a partir de cada realidade e integrando as diferentes localidades no processo de gestão participativa das águas."

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