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Peruanos invadem área indígena no Acre

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Flaviano Schneider
21 de Nov de 2003

Índio foi ameaçado de morte quando fiscalizava derrubada de árvores de cedro e mogno no lado brasileiro

A terra indígena ashaninka do rio Amônia está sendo invadida por madeireiros peruanos em duas frentes na sua parte sul, onde passa a linha seca que delimita a fronteira com o Peru e em várias frentes na parte oeste, onde a fronteira é delimitada pelo divisor de águas entre os subafluentes do rio Amônia e Ucayali. Isso sem contar a retirada ilegal de madeiras pela firma Benal, que, associada aos ashaninkas peruanos, vem invadindo as terras da aldeia apiwtxa desde 1991.

Benke Ashaninka chegou anteontem a Rio Branco, proveniente da aldeia apiwtxa, e conta que uma das frentes invasoras pelo sul é comandada por Tito Perez. A empresa madeireira tem todo um aparato de comunicação por satélite, tratores e máquinas além de apoio de 46 trabalhadores da mata e está retirando diversas madeiras especialmente mogno e cedro. O índio Daniel Ashaninka pôde constatar tudo pessoalmente, quando andava na área em missão de fiscalização.

Tito Perez conversou com Daniel Ashaninka e demonstrou preocupação em saber que poderia estar invadindo terras brasileiras e quer uma demarcação definitiva dos limites para poder evitar conflitos. Depois desse encontro, Daniel Ashaninka descobriu que a área está sendo invadida em outro ponto e no comando dessa frente está o cunhado de Tito Perez, conhecido por "Cabreiro".

Cabreiro não gostou da presença de Daniel e o ameaçou, tendo dito inclusive que se fosse um índio desconhecido o teria matado. O madeireiro lembrou que no ano passado, os ashaninka brasileiros haviam detido peruanos que faziam retiradas de madeiras, disse que não sabia se estava em terras do Brasil ou do Peru, mas onde estivesse não queria ser perturbado por nenhum ashaninka. Finalmente tornou a ameaçar dizendo que se aparecesse outro ashaninka tentando impedi-lo de fazer seu trabalho iria matar.

Daniel verificou os locais onde estão sendo retiradas as madeiras por Cabreiro e constatou que é em território brasileiro.Há 60 homens derrubando cedro e mogno, entre outras madeiras.

Indefinição com o marco 40 preocupa secretário indígena

É grande a apreensão do titular da Secretaria dos Povos Indígenas, Francisco Pinhanta Ashaninka, com o relato trazido por seu irmão Benke, pois teme que a situação possa trazer conflito armado se não houver uma rápida intermediação do Ministério das Relações Exteriores, Polícia Federal, Funai e um engajamento da bancada federal do Acre no Congresso Nacional visando o estabelecimento definitivo da fronteira na região.

Grande parte do problema refere-se à localização do "marco 40". Segundo os Ashaninka brasileiros, a comissão de engenheiros brasileiros e peruanos que afixaram o atual marco 40 em julho de 2002, o localizaram cerca de 300 metros abaixo da linha original, baseando-se somente em informações dos Ashaninka peruanos. Benke revolta-se com o fato de os Ashaninka brasileiros não terem sido convidados a opinar sobre a localização na oportunidade.

Segundo o secretário Francisco no local original havia uma pista de pouso exatamente em cima da linha fronteiriça, uma parte em cada país e com a nova demarcação, a pista ficou bem acima da linha. A linha tem cerca de 25 quilômetros de extensão, sai do Juruá e vai até as nascentes de dois sub-afluentes do Ucayali, os rios Tamaya e Putaya e por este motivo com o recuo da linha, em cerca de 300 metros uma faixa enorme de terra ficaria do lado peruano.

Ao sul da linha, dentro do Peru ficam localizadas aldeias dos Ashaninka peruanos que, aproveitando-se do recuo da linha, estão ocupando a área contestada, com o que não concordam os Ashaninka brasileiros cientes dos limites de sua área. Os peruanos estão formando uma nova aldeia às margens do Rio Amônia (aldeia Sawawil) e existe articulação com a empresa Benal para a continuidade e expansão da retirada de madeiras.

Francisco conta que já existe uma estrada que vai do Ucayali ao Juruá pelo lado peruano, onde é intenso o tráfego de veículos, tratores, motos, etc e as possibilidades de um impacto ambiental negativo na área - que já está acontecendo - é um risco que precisa de soluções urgentes. Segundo ele, todo o meio ambiente pode ser comprometido com a devastação da região das nascentes dos rios, no lado peruano.

Mas não só pelo Sul, pelo Oeste, onde uma linha sinuosa, baseada no divisor de águas separa os dois países, as invasões continuam a ocorrer, até porque é difícl precisar onde é Brasil e onde é Peru.Os Ashaninka vivem percorrendo a região em grupos, mas não conseguem fazer uma fiscalização eficiente devido à enorme extensão. Eles querem uma intervenção imediata do governo brasileiro para evitar situações de conflito na região.

Ashaninka: os guardiões da fronteira

Os Ashaninka pertencem ao grupo linguístico Aruak subandino e constituem uma das maiores populações indígenas da América do Sul, sendo bem mais numerosos no Peru que no Brasil.A presença deles no Acre explica-se pela pressão exercida no século passado pelos caucheiros peruanos que fizeram com que descessem os rios e entrassem em terras brasileiras.

A Terra Indígena Ashaninka do rio Amônia foi demarcada e homologada em 1992. Localiza-se na região do Alto Juruá, no município de Marechal Thaumaturgo, possuindo uma área de 87 mil hectares e população de cerca de 450 habitantes. Além de ser fronteira com o Peru a Sul e Oeste a área é circunvizinha ao Parque Nacional da Serra do Divisor (Norte) da Reserva Extrativista do Alto Juruá (Leste) e de um assentamento do Incra.

Os Ashaninka estão entre os povos indígenas que melhor souberam preservar sua identidade cultural.

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