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02 de Ago de 2024
Três organizações indígenas amazônicas, FENAMAD, AIDESEP e COICA, divulgaram uma declaração inédita acusando a FSC (Forest Stewardship Council), um selo de aprovação que pode ser encontrado em milhares de produtos feitos de papel, de deliberadamente atrasar a decisão de retirar ou não a certificação da empresa madeireira Canales Tahuamanu, que opera no território dos indígenas isolados Mashco Piro, na Amazônia peruana. Eles ameaçam se retirar de futuros diálogos com a FSC, que chamaram de "ineficazes".
A empresa, Canales Tahuamanu, já construiu mais de 200 km de estradas para seus caminhões transportarem a madeira extraída do território dos isolados Mashco Piro. Há duas semanas, a Survival divulgou imagens inéditas dos indígenas a poucos quilômetros de áreas destinadas à exploração de madeira.
Há pelo menos oito anos, a Canales Tahuamanu e a FSC possuem conhecimento de que os indígenas Mashco Piro vivem na área da concessão. Mesmo assim, a FSC certifica a madeira da empresa como "sustentável". Pela lei peruana e internacional, a floresta dos Mashco Piro deve ser protegida.
As organizações indígenas FENAMAD (organização regional representante das comunidades indígenas da mesma região dos Mashco Piro), AIDESEP (organização indígena amazônica do Peru) e a COICA (aliança de organizações indígenas dos países amazônicos) acusam a FSC de "endossar a violação sistemática dos direitos dos povos indígenas da Amazônia peruana." e demandam, "queremos ações concretas, não palavras!". Eles também salientam que "o respeito aos direitos dos povos indígenas, e principalmente dos indígenas isolados, não é uma prioridade da FSC."
As imagens dos Mashco Piro divulgadas pela Survival provam que mais de 100 indígenas isolados vivem na área concedida para diversas concessões de madeira, incluindo a da Canales Tahuamanu, certificada pela FSC.
A grande atenção da mídia internacional às imagens divulgadas colocou a FSC sob grande pressão, que se viu obrigada a justificar sua contínua certificação da empresa. Essa pressão é ainda maior considerando que a FSC já estava ciente da presença dos Mashco Piro na área há muitos anos e fazem quatro anos que organizações indígenas vem demandando medidas urgentes e a retirada da certificação.
Na semana passada, a FSC divulgou uma declaração defendendo sua decisão de continuar certificando a madeira da Canales Tahuamanu, e apenas prometeu futuras "investigações". As organizações indígenas pontuaram que a FSC já havia realizado duas "avaliações", em 2022 e 2023. Mesmo assim, eles continuam certificando a madeira extraída do território dos Mashco Piro.
A Survival International publicou uma resposta a declaração da FSC, dizendo que "a resposta da FSC para a crise dos Mashco Piro falha em abordar a realidade que vem sendo pontuado há anos: a exploração madeireira pode ser fatal para os indígenas isolados e a destruição de sua floresta é uma violação de seus direitos humanos e de convenções internacionais."
Fiona Watson, Diretora de Pesquisa e Campanhas da Survival International, disse que a declaração das organizações indígenas deve aumentar a pressão para que a FSC retire a certificação da madeira retirada do território dos Mashco Piro. "A FSC está se escondendo atrás de outra 'investigação'. Eles estão fazendo o que já fizeram antes, tentando ganhar tempo para permitir que a destruição da floresta dos Mashco Piro continue. A exploração madeireira deve acabar agora, caso contrário as consequências para os Mashco Piro serão catastróficas."
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