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Perigo nos parques ecologicos

CB, Cidades, p. 22
10 de Ago de 2004

Perigo nos parques ecológicos

Entulho e restos de comida em reservas ambientais são ambientes propícios para a proliferação de doenças, como hantavirose e leptospirose. Governo articula operação para remover invasores
Netto Costa
Da equipe do Correio

Os freqüentadores dos parques ecológicos e reservas ambientais do Distrito Federal começam a se perguntar se é seguro fazer trilhas nesses locais. E há lógica nessa dúvida. Se o transmissor do hantavírus é o rato silvestre - próprio de zonas rurais -, as áreas de proteção ambiental e os parques ecológicos são altamente propícios à presença dos roedores.

Se fazer trilhas nesses locais já expõe as pessoas a riscos, o que dizer então das 920 famílias de baixa renda que ocupam irregularmente algumas das 65 áreas de preservação e parques ecológicos do Distrito Federal? As precárias condições dos barracos ocupados pelas famílias, o lixo, o entulho, os restos de comida e ração espalhados ao redor das casas, somados à inexistência de saneamento, formam um ambiente favorável à proliferação dos ratos, sejam eles silvestres ou não.

Para tentar diminuir a possibilidade de contaminação e para avaliar os riscos nas unidades de proteção ambiental, o secretário de Administração de Parques e Unidades de Conservação do DF (Comparques), Enio Dutra Fernandes, em conjunto com a Secretaria de Saúde, trabalha na definição de uma estratégia de ação. Cerca de 60 técnicos da Comparques participam de treinamento específico para vistoriar as unidades de conservação ambiental, com foco na fiscalização de roedores. ''O risco existe e, por isso, estamos agilizando a remoção das famílias que invadiram as reservas'', diz Ênio Dutra.

Acompanhado de técnicos da Comparques, Vigilância Ambiental e Jardim Zoológico, o Correio visitou os parques ecológicos Ezechias Heringuer, no Guará II, e Boca da Mata, em Taguatinga Sul. O objetivo era verificar o grau de riscos à saúde a que estão expostos os adultos e crianças que vivem nesses locais - 275 famílias no parque no Guará e seis famílias no parque Boca da Mata. Resultado: o risco é real. Não só para hantavirose, mas também para leptospirose, raiva, dengue, malária e verminose, entre outras doenças.

Abrigo e alimento
Elaine da Silva Viana mora com outras dez pessoas em três barracos no Parque Ecológico do Guará. O lixo doméstico é depositado no chão a menos de dez metros da casa. A queima do lixo é feita apenas uma vez por semana. ''Tem muito rato por aqui. A gente tem medo, principalmente depois de ver pela TV que muitas pessoas estão morrendo de hantavirose'', revela Elaine. Ela diz que mora no parque há mais de três anos e espera ganhar um lote.

A médica veterinária Deborah Soboll, diretora de Conservação e Pesquisa do Jardim Zoológico, admite que - dentro dos parques ecológicos do DF - o fogo nas matas, por exemplo, pode empurrar os roedores silvestres para perto do homem.

No parque Boca da Mata, em Taguatinga Sul, a situação é ainda mais grave. Às margens do córrego Taguatinga, Lucy Campos, 34 anos, mora com o marido e seis filhos em um barraco. O lugar, muito úmido e coberto de vegetação, favorece a proliferação de vírus e bactérias. ''À noite, isso aqui fica infestado de ratos, tem de todo tamanho'', diz Lucy, apontam para um depósito repleto de restos de espigas de milho, um dos alimentos preferidos pelos roedores.

Ainda no parque Boca da Mata, no curral comunitário, Ivaildes Pereira de Alcântara, 28 anos, vive com seus quatro filhos: ''Durmo no chão porque não tenho cama. À noite, os ratos andam por cima da gente''.

Remoção
''Estamos agilizando o levantamento socioeconômico das famílias que teimam em ocupar irregularmente nossos parques e reservas'', explica o secretário Enio Dutra. ''Nosso objetivo é retirá-los o quanto antes. Os que tiverem direito, serão removidos para assentamentos em Samambaia e Ceilândia''.

Raul Dusi, assessor de Unidades de Conservação da Comparques, pede que os brasilienses não deixem de visitar os parques ecológicos, não toquem fogo no mato e não joguem lixo e entulho dentro ou às margens das áreas de proteção ambiental: ''Além de degradar o meio ambiente, o lixo e o entulho podem servir de alimento e abrigo aos roedores''.

O medo da hantavirose levou o ambientalista Ricardo Montalvão, que coordena a Associação Brasiliense pela Qualidade de Vida (Abravida), a cancelar dois mutirões de limpeza nas nascentes dos parques Olhos D'Água (Asa Norte) e de Múltiplo Uso da Asa Sul. Segundo ele, os voluntários estão receosos de revirar o lixo: ''Acredito que os diferentes modos de vida das várias vítimas de hantavirose no DF apontam para uma maior diversidade de formas de contágio''.

Previna-se

Como evitar o surgimento de focos de hantavirose em propriedades rurais

Em locais fechados
O maior risco em relação à hantavirose está nos locais fechados, pouco arejados e onde há entulho ou restos de comida e ração como paióis, depósitos velhos, galpões e barracões.
Para diminuir riscos em relação à doença, é fundamental limpar esses ambientes. A limpeza deve seguir os seguintes passos:

Antes de entrar no ambiente, deixe as portas abertas por 30 minutos para o ar circular.

Em seguida, abra as janelas do local e deixe o ar circular por mais meia hora. Só então, a higiene do lugar poderá ser feita.

Não varra o ambiente depois de tornar o local arejado. Prepare uma porção de água sanitária para cada nove de água. E limpe o chão com rodo e pano, espalhando bem o material preparado.

Só depois da limpeza, é recomendado varrer o ambiente.

Tampe todos os buracos do paiol, galpão, depósito ou barracão. É por essas frestas que os ratos silvestres podem entrar.

Em toda a propriedade
Não deixe restos de ração ou comida ao alcance dos ratos.
Guarde grãos, como milho e feijão, em paióis elevados a pelo menos 60 centímetros do chão.
Utilize estruturas afuniladas nas bases do paiol ou depósito de grãos. Essas peças evitam que ratos subam até o local.
Não deixe a casa fechada por muito tempo.
Não plante nada a menos de 30 metros da casa do terreno.
Mantenha o mato e a grama bem cortados ao redor da propriedade.
Não deixe pedaços de madeira, lixo, restos de entulho ou frutas caídas das árvores perto da casa.
Evite deixar o lixo espalhado pela propriedade

Fonte: Emater

Palestra em Luziânia

Maria Ferri
Da equipe do Correio

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal fará hoje um workshop para expor ao governo goiano as ações de controle tomadas para conter o avanço da hantavirose. O encontro está marcado para as 10h, na Secretaria de Educação de Luziânia. As informações serão passadas por técnicos da Diretoria da Vigilância Epidemiológica e da Vigilância Ambiental.
A Secretaria de Educação declarou guerra ao vírus e iniciou uma campanha com a meta de atingir 800 mil alunos e 200 mil servidores até sexta-feira, com a distribuição de um milhão de panfletos aliada a orientações em sala de aula. ''Estamos em meio a uma batalha pedagógica'', diz a secretária de Educação, Maristela de Melo Neves. ''A criança passará a mensagem para os pais e ainda para o núcleo de vizinhança. E ainda fiscalizará as ações dos adultos'', acredita Maristela.

Ontem, 700 diretores de escolas públicas receberam treinamento no Colégio Militar. Eles aprenderam como prevenir a hantavirose e repassarão as informações para os professores. No sábado, mil professores também foram orientados por técnicos da secretaria. Na quinta-feira, será a vez de diretores de escolas particulares. ''A educação é a melhor forma de combater esse vírus e é isso o que estamos fazendo, educando a população'', avalia o secretário de Saúde, Arnaldo Bernardino. A rede pública de ensino conta com 645 escolas.

Condomínios
O trabalho do Corpo de Bombeiros também continua. Desde quarta-feira, eles vão de casa em casa distribuir panfletos e tirar dúvidas da população sobre a doença. Nos primeiros três dias de trabalho, os 1,4 mil homens do Corpo de Bombeiros destacados para o combate ao hantavírus visitaram mais de 9,7 mil residências em Sobradinho, Planaltina, Paranoá, Lago Sul, São Sebastião e Brazlândia. Do total, 1.807 (18%) foram consideradas como de risco, pela proximidade de matas e condições de higiene inadequadas.

Boa parte das casas fica dentro de condomínios. Até o último sábado, 126 loteamentos receberam a visita dos soldados da corporação. O trabalho esta semana será realizado em Samambaia e no Lago Norte. Os bombeiros passaram por um treinamento ministrado por técnicos da Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival).

CB, 10/08/2004, Cidades, p. 22

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