VOLTAR

Patrimônio Pataxó

CB, Lugares, p. 8
21 de Abr de 2004

Patrimônio Pataxó

MARLYANA TAVARES

Quem está dando vida nova à aldeia são os jovens. Eles dirigem os buggys que levam os turistas, principalmente estrangeiros, do centro de Caraíva - simpática cidadezinha de ruas de areia, com uma bela praia - até a reserva. Também apresentam aos atentos visitantes músicas e danças que contam, em detalhes, a história de como seus antepassados foram massacrados, por denúncias não confirmadas de roubo.
O dono de um dos buggys é
A canção que fez sucesso na década de 80 parece antever, com 20 anos de antecedência, o que acontece hoje com os índios da aldeia pataxó Barra Velha, a primeira de todas as 14 áreas indígenas dos pataxós, espalhadas pela Bahia e por Minas Gerais. No município de Caraíva, a 120Km de Porto Seguro, que aliás tem parte de seu território cedido pelos índios, eles optaram por superar os problemas, a miséria e a pobreza. Estão
Arakuri, apelidado de Amarildo (isso mesmo, nome de branco para eles é apelido!). Orgulhoso de sua gente, fala com firmeza que os pataxós estão resgatando suas origens, sem perder a modernidade de vista. A aldeia já dispõe de computador, internet, e todos os jovens querem fazer faculdade. No caminho, conversa solta, Arakuri conta que todo mundo vê com bons olhos a chegada dos turistas. Entre os estrangeiros, o choque maior é com os portugueses, que aterrissam em vôos charters em Porto Seguro. "Ainda não esquecemos o que fizeram aos nossos antepassados", resume Arakuri.
Na chegada, os visitantes são levados à casa do pajé, onde se fabrica a farinha de mandioca. Um dos jovens explica, nos mínimos detalhes, ao grupo formado por quatro holandeses, como a mandioca é prensada, seca e separada para fazer o beiju e a tapioca. As crianças acompanham tudo olhando pela janela, e, diferentemente das que são encontradas pelo caminho até a reserva, não pedem esmolas. Pelo contrário, oferecem um graveto com uma gosma na ponta para que os visitantes sintam o cheiro. Querem mostrar que é dessa árvore que se retira a substância base dos expectorantes. 0 cheiro é inconfundível.
Depois da casa de farinha, é hora de uma verdadeira aula de história, quando se fica sabendo a origem do nome pataxó (água que bate nas pedras). A preleção é seguida da apresentação de dança por meninos e meninas vestidos a caráter, que cantam em tupi-guarani e não deixam ninguém - nem que você queira fugir - ficar de fora. Os meninos convidam as mulheres e vice-versa, todos com um imaculado sorriso no rosto. Timidez ou cara fechada, tudo vai embora nessa hora. Para coroar a recepção, a moqueca de peixe, que não tem nada de molhos ou acompanhamentos sofisticados. O peixe é assado na folha e servido com a farinha. Um manjar degustado sob as árvores.
Chega o momento das despedidas. Os visitantes estão mais afáveis e os jovens índios garantiram para a aldeia o dinheiro que vai ajudar na compra dos livros da escola. A reserva de Barra Velha é a mais nova a descobrir os benefícios do turismo sustentável e agora tenta alcançar o sucesso da reserva da Jaqueira, em Santa Cruz Cabrália, criada em 1998, onde a infra estrutura de visitação já é m. Em Coroa Vermelha, onde rezada a primeira missa ap descobrimento, há o Museu e o Centro Comercial Indígena verdadeiro shopping a céu a to, onde se pode comprar artesanato e tirar fotos com os índios, por R$ 1 ou R$ 2.

PREÇOS E ACESSOS
Barra velha
0 passeio de Land-Rover de Arraial da Ajuda até a reserva de Barra Velha custa R$ 125. Almoço à parte. O Arraial da Ajuda Eco Resort organiza este passeio (73) 575-8500/417, em conjunto com a empresa Selvagem, que também atende separadamente. 0 contato é Eduardo. 0 acesso a Caraíva é feito por Trancoso, passando pela guarita do Outeiro das Brisas, por estrada de terra.
DO ESTADO DE MINAS
Para chegar a Caraíva, é preciso atravessar o rio de canoa. Reserve um dia para passeio, que termina com uma pausa para mergulho n praia de Caraíva.
Reserva da Jaquelra Q Para visitar a Reserva da Jaqueira, em Santa Cruz Cabrália, é melhor agendar com antecedência, pelos telefones (73) 9991-5653/99: 4560. A entrada custa R$ 15 por pessoa.

CB, 21/04/2004, Lugares, p. 8

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.