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Pataxós ocupam cerca de 40 fazendas em Pau Brasil

A Tarde-Salvador-BA
23 de Out de 2001

Índios chegaram a manter procuradora da Funai como refém
O fim de semana no município de Pau Brasil, no sul da Bahia, foi bastante tenso em
conseqüência da reação dos índios pataxós hã-hã-hãe que voltaram a ocupar fazendas
localizadas no território indígena. Os índios - como contou o representante do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) em Itabuna, Haroldo Heleno - estão indignados com a Funai que
paralisou, há um mês, as indenizações pelas benfeitorias de boa-fé erguidas nas fazendas
pelos atuais proprietários. Foram mais de 40 fazendas ocupadas no fim de semana pelos
índios. Só no domingo, os índios ocuparam 30 propriedades na região de Ourinho - uma delas,
com cerca de mil hectares.
Os pataxós chegaram a manter como refém a procuradora da Funai, Ana Maria Carvalho.
Segundo Haroldo Heleno, os índios ficaram indignados depois de serem informados que a
procuradora estava no local para tratar de questões não relacionadas ao processo das
indenizações aos fazendeiros para que estes deixem o território indígena. Ana Maria Carvalho
foi liberada logo após a decisão da Funai de enviar, na tarde de ontem, o grupo de trabalho
(GT) de Brasília com a finalidade de avaliar as fazendas para o passo inicial das indenizações.

Reação - O clima ontem voltou a ficar mais tranqüilo, mas os índios prometem manter as
ocupações, caso a Funai não cumpra o acordo com os fazendeiros referente às indenizações
de benfeitorias. As retomadas estavam acontecendo de forma pacífica entre índios e
fazendeiros. Mas, o processo burocrático e lento da Funai, agravado pela paralisação dos
trabalhos do órgão, levou os índios a reagirem com mais rigor.
O Cimi explica que um levantamento da Funai aponta a existência de 398 fazendas na terra
indígena Caramuru Catarina-Paraguaçu. Destas, apenas 42 tiveram as indenizações pagas.
Informações do Conselho Indigenista dão conta também de que uma lista de 65 fazendeiros
dispuseram em deixar o território indígena após as indenizações e os nomes, inclusive, já
foram encaminhados à presidência da Funai em Brasília. Mas, até ontem, os índios, sob a
liderança do cacique Gerson Melo, não haviam recebido qualquer retorno sobre o assunto.
A morosidade da Funai em resolver o problema tem provocado clima de insegurança na
cidade, pois alguns fazendeiros prometem instigar a população contra os índios. As ameaças
de morte, de acordo com as lideranças indígenas em Pau Brasil, são, principalmente, contra o
vereador indígena Agnaldo Pataxó. Apesar da Polícia Militar mobilizar homens para as áreas de
conflito, os PMs não entraram nas terras indígenas, que são da alçada da Polícia Federal
(PF). Por outro lado, a PF não enviou agentes para as áreas indígenas, o que aumenta mais
ainda o clima de insegurança na cidade.
O processo de indenização das terras indígenas abrange um total de 54,1 mil hectares. As
ocupações foram reiniciadas no dia 18, com a ocupação das terras por 450 índios.

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