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Pasto e árvores em harmonia

OESP, Agrícola, p. 6-7
12 de Out de 2011

Pasto e árvores em harmonia
Arborizar pastagens garante bem-estar animal, aumenta a biodiversidade, recicla nutrientes do solo e pode dar renda extra

FERNANDA YONEYA

De olho no bem-estar animal e nas vantagens ambientais proporcionadas pelo plantio de árvores, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), que reúne 18 mil associados, prepara uma campanha para estimular a arborização de pastos. A ideia, segundo o superintendente de Marketing da ABCZ, João Gilberto Bento, é "fazer a cabeça" dos criadores sobre os benefícios que a prática traz para a pecuária. "As árvores garantem conforto térmico, o que pode interferir positivamente na produtividade do gado. Além disso, a árvore melhora as condições do solo, pois promove a ciclagem de nutrientes", diz. "Se o produtor criar esse ambiente favorável no pasto, reduz o stress dos animais."
Bosque. Um dos argumentos da campanha é que a pecuária é uma das atividades que mais podem contribuir com a preservação de florestas. "A pecuária pode transformar o Brasil em um grande bosque." E o pecuarista favorece o retorno da biodiversidade. "As árvores atraem pássaros, aliados no combate à cigarrinha-das-pastagens." Para ele, a adesão à campanha é uma maneira de a pecuária se livrar da fama de atividade desmatadora. "Queremos iniciar um movimento", diz Bento, adiantando o possível slogan: "Ponha o seu boi na sombra."
Considerado um pecuarista modelo na arborização de pastagens, o produtor José Luiz Niemeyer dos Santos, de Guararapes (SP), diz que o investimento é grande e, por isso, deve ser planejado. "Não é só plantar árvores. Tem que seguir um projeto, comprar mudas, cercar a área, definir as espécies, acertar o manejo, ter assistência técnica." Se por um lado não há retorno financeiro para um investimento alto, por outro é compensador, diz. "A sombra dá conforto para o gado, embeleza a paisagem e melhora a biodiversidade", diz Niemeyer.
Com 2 mil hectares de pasto e rebanho de 4 mil a 5 mil cabeças (entre matrizes e gado de cria, recria e engorda), Niemeyer "enriquece" o pasto com árvores há mais de 20 anos. "É empírico, mas já notei que esses pequenos bosques criam uma área de sombra que os animais gostam. Além disso, essas árvores, se plantadas beirando a mata, ajudam a preservá-la." Nesses anos, aprendeu que o plantio de árvores pode ser feito na época de reforma de pasto. "Quem reforma o pasto e cultiva lavoura em sistema de rotação pode aproveitar para também plantar as árvores." Hoje, o plantio chega a 20 mil árvores por ano, de mais de 50 espécies, fora a regeneração espontânea, defendida por ele.
Na reforma. Adepto da causa, o pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro, com fazendas em Rancharia (SP) e Uberaba (MG), planta árvores em pastagem há 25 anos. O plantio é feito com a reforma de pasto, a cada quatro anos, ocasião em que ele cultiva sorgo e amendoim. "Os ruminantes precisam de sombra. A questão é que o zebu é tão eficiente que produz bem mesmo sob intenso stress térmico. Se o pasto for sombreado, essa produtividade pode aumentar 30%, 35%", estima o produtor, que planta, em Uberaba, 300 árvores nativas por ano em áreas de pasto, há dez anos. "Hoje são 4.600 árvores de 90 espécies." Em Rancharia, diz, o plantio de eucalipto se presta, além do conforto animal, para o uso da madeira, aproveitada na própria fazenda. "Nunca precisei comprar madeira, o que até ajuda a tirar a pressão sobre as árvores nativas", diz.
O produtor Cláudio Sabino Carvalho, de Uberaba (MG), planta eucalipto e outras espécies com o objetivo de "dar conforto aos animais e deixar o ambiente saudável e bonito". Com mil bovinos e 400 hectares de pasto, Carvalho pôs em prática o que aprendeu desde que começou a investir em arborização de pastagens, há dez anos. "Já plantei 5 mil árvores, a maioria nativas." O investimento em arborização é de R$ 20 mil a R$ 30 mil por ano. Ele diz que a área sombreada do pasto é chamada de 'área de lazer", por proporcionar conforto aos animais. "É uma área de 1 hectare com espécies frutíferas e ornamentais, e cochos de água e sal mineral. O gado come e descansa no 'ar-condicionado'."

Integração com floresta eleva renda

O pecuarista Leonardo de Oliveira Resende, de Juiz de Fora (MG), diz que, naturalmente, o produtor quer um retorno do investimento e, para isso, o sistema silvipastoril é a melhor alternativa, por aliar renda e preservação ambiental. De um total de 150 hectares de pasto, 75 são ocupados com integração pecuária-floresta. "Tenho uma receita dupla, com boi e eucalipto", diz ele, que, com a mãe, Regina Maria Gama Oliveira, cria 150 bovinos brangus. O metro cúbico da madeira vale R$ 180. "Com custo de produção de R$ 6/R$ 6,50 por árvore e 200 árvores/hectare, a receita anual é de R$ 3.300 a R$ 3.500/hectare."
"Mas a vantagem não é só o melhor aproveitamento de um mesmo espaço. As árvores reciclam nutrientes e criam um ambiente ameno para o gado. Acredito que, nessas condições de maior conforto térmico, o boi pasteja por mais tempo e engorda mais rápido", diz. Segundo ele, na área sombreada, a temperatura é dois graus menor. "As árvores também servem para amortecer o impacto das chuvas no solo, o que evita erosão e lixiviação."
O sistema silvipastoril tem base técnica sólida e vantagens comprovadas, diz o pesquisador da Embrapa Florestas, em Colombo (PR), Vanderley Porfírio-da-Silva. "A integração é mais que uma proposta de mudança no uso da terra, é uma oportunidade de negócios para o produtor, que pode lucrar com boi e madeira, e também uma maneira de agregar à pecuária um apelo ambiental." Segundo ele, a árvore captura carbono, garante bem-estar animal, recicla nutrientes. "Se a finalidade do produtor for outra, o mercado de madeira está aí, em pleno crescimento." Mas alerta: a árvore não faz milagre. Se o rebanho e o pasto não forem bem manejados, não são as árvores que vão resolver." / F.Y.

Embrapa pesquisa arborização com espécies nativas

Segundo João Gilberto Bento, da ABCZ, a campanha tem foco no plantio de espécies de árvores nativas e, a princípio, não está vinculada ao sistema de integração pecuária-floresta, ou silvipastoril. "Estamos pensando em ganhos ambientais, bem-estar animal e na melhora da produtividade do rebanho. De todo modo, o sistema silvipastoril é interessante economicamente." A Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), tem pesquisa iniciada em 2007 sobre arborização de pastagens com espécies nativas, liderado pela pesquisadora Maria Luiza F. Nicodemo. "O objetivo é conhecer o comportamento de espécies nesse tipo de sistema. Poderemos recomendar espécies mais adequadas sob vários aspectos, como a interação entre os animais e pasto", diz o analista de transferência de tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, Carlos Eduardo Santos. / F.Y

OESP, 12-18/10/2011, Agrícola, p. 6-7

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