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Passado e presente do povo Ashaninka: impressões da visita ao Peru

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Isaac Pianko e Maria Luiza Pinedo Ochoa
22 de Jun de 2003

A visita a selva central, região de montanhas: o Gran Pajonal, os rios Ene, Perené e Ucayali

Creio que a nossa aldeia é ligada mais ao Pajonal, do Pshiraski. Eles são dos Andes também. Mas, isso ainda é uma coisa que eu estou pesquisando, estou investigando, porque para meu avô não deu tempo de eu perguntar ainda isso para ele.

Os meus pais nasceram aqui no Brasil, então fica difícil deles entender. Porque eles não perguntaram muito isso, mas eles são dessa região mesmo, do Pajonal, os pais do meu pai que vieram de lá, são dessa região mesmo, que no passado todo mundo vivia lá no Perene, no Tambo. Daquela região das montanhas, foi dali que saíram todos os Ashaninka. Todo mundo era dali da montanha, não tem ninguém, tem uns ali da região mais baixa, mas a área era aquela mesma.

Então os meus avós, pais do meu pai, há muito tempo que estavam nessa região aqui do Sheshea, nessa região das montanhas que a gente visitou agora, tanto os Asheninka como os Nomashigenga que é um outro povo também muito próximo, e também os índios que estavam afastados que davam cobertura aos outros. Eram essas pessoas mais guerreiras, que estavam mais próximas a eles. Então, são histórias que quando começava a ver as montanhas, ou alguma coisa, lembrava muito das histórias dos meus avó. E se eu levar algumas pessoas que viveram mais próximas à história tenho certeza que eles vão lembrar de muitas histórias, aí pode ser uma fonte de partida para se aprofundar mesmo de onde que veio meu povo.

Quando um Ashaninka recebe o outro

Eu me senti assim muito emocionado... é que eles foram muito legais, me receberam como Ashaninka mesmo, então isso esta muito forte lá, de como receber a pessoa. O meu povo também é assim quando um Ashaninka recebe o outro. E no mesmo instante também, a gente teve muito contato com pessoas que estão mais na cidade, não foi Ashaninka, assim tradicional. Porque lá também tem aqueles Ashaninka que não tem contato, então isso não dá para eu tomar uma decisão para falar deles, se o que eles estão fazendo, é de uma maneira tradicional mesmo, e se não é, eu tenho que ir à aldeia também, nessas aldeias que ainda estão muito fortes, mas eles foram muito legais ao receber a gente, por exemplo, o Koshoshko me colocou na família dele.o Napoleon era meu irmão, o pai dele já era meu tio , então fiz parte daquela família como Ashaninka mesmo, então fui muito bem recebido, gostei muito.

O "Sendero Luminoso".

A pressão dos terroristas foi muito forte, tanto que tem um mapa lá, para mostrar onde os Ashaninka foram se deslocando, quando os terroristas chegaram, não estavam preparados para o que aconteceu. O Sendero chegou lá dizendo: "nós viemos pra ajudar vocês", pegaram eles, sem que eles estivessem esperando. Mas eles foram muito fortes, resistiram tanto que venceram os terroristas, mas ficou isso dentro deles. Para não sofrer mais, morreram cinco mil, para um grupo de sessenta mil, morrer cinco mil é muito, agora isso ficou dentro deles, "agora vocês não vão sofrer mais isso".

É por causa disso também que parte desse povo que não tem contato com ninguém, uma faixa de quinhentos ou de mil Ashaninka, estão em cima, numa chapada de uma montanha, e eles estão lá, e seria bom termos contato com eles e através deles a gente estudar, dialogar, e ver como estão vivendo.

Sofrimento e luta do povo Ashaninka

Aquele chefe lá do alto, o cacique, falou que lá na aldeia dele está o grupo dos narcotraficantes, eles estão trabalhando e fica difícil, porque quando vão para o governo, ou pra justiça denunciar, a justiça não faz nada. E estão achando que a justiça também está envolvida. Se ele vier para a cidade denunciar essas pessoas, elas podem mata-lo. Também já não estão plantando mais a coca porque podem ser pressionados pela justiça. Eu perguntei se eles mascavam coca, ele disse que não, não plantavam, nem mascavam, nem nada.. Estão com medo de falar alguma coisa sobre isso.

Então os Ashaninka no Peru é um dos povos que mais está sofrendo.

Eu queria agradar de alguma forma, eles queriam agradar mesmo a minha pessoa como Ashaninka de outra comunidade, para eu fazer parte da família dele, porque se eu fizesse parte da família dele eles, ia ter mais possibilidade de ajudar, de contribuir com eles. Por mais que eles tenham uma organização, eles sentem essa falta, alguém tem que puxar para fazer essa aliança.

Projetos futuros dos Ashaninka do Brasil e Peru

Bom, como faço parte de uma organização, esse trabalho com os Ashaninka do Peru, eu vejo que não é só isso, troca de experiência de organização, eu vejo que é dar a mão para eles, contribuir com aquilo que a gente puder, que nós vamos precisar ter também uma organização Ashaninka forte lá. Nós Ashaninka do Brasil estamos sofrendo também pressão como os próprios Ashaninka do Peru, que são da fronteira não são eles lá da serra, mas que são vizinhos daqui, que estão trazendo tanto narcotraficante e as empresas madeireiras. Então de que maneira a gente vai dar a mão a eles? A gente faz essa força, essa aliança entre o povo Ashaninka das montanhas, porque nós somos a maioria aqui nessa fronteira do Peru, principalmente na Amazônia, e de que maneira que a gente pode chegar até lá, nós do Brasil. Isso aí nós temos várias possibilidades. Através da OPIAC a gente pode mandar três, quatro Ashaninka para lá. Eu estive conversando com o Secretário dos Povos Indígenas aqui do Acre, o Francisco. Ele. falou que vai ser um dos temas dele, assim como prioridade para fazer. Essa aliança com os Ashaninka do Peru e do Brasil a gente vai discutir daqui para frente, e a gente vai buscar outros meios também, independente, de outras organizações do Peru que estiverem trabalhando de trazer Ashaninka do Peru pra cá. A gente vai estar trabalhando para trazer dois, três, quatro, cinco pessoas. Eu preferia trazer primeiro alguns professores de lá, depois podemos ver, como eu(professor) já fui lá, posso mandar duas pessoas, cinco, seis pessoas, antigas daqui, lideranças das comunidades mesmo para ir até lá. Tenho que ver essas possibilidades, quem é que pode nos ajudar, para fortalecer.

Debaixo do Peru tem muita raiz indígena

Debaixo do Peru, acho que tem muita raiz indígena, tem uma cultura muito indígena, não só Ashaninka, mas de outras culturas, ali por debaixo da cara peruana. É um país muito bom por esse sentido de dar valo a, essa coisa tradicional, muito artesanato, embora o artesanato já tenha algumas coisas que não são mesmo tradicionais.

Tem muita cara mesmo indígena no centro da cidade de Lima, ,a capital tem nome Ashaninka, muito nome indígena, apesar de ter aqueles prédios do governo em cima de um templo de um povo indígena.

Acho que temos muitas possibilidades de criar uma política de mais segurança para os povos indígenas, conservar mais aquele espaço, com mais respeito, senão vai ser difícil.

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