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Parque ecológico está abandonado

CB, Cidades, p. 28
14 de Fev de 2007

Parque ecológico está abandonado

As marcas do abandono do Parque Ecológico e de Uso Múltiplo de Águas Claras estão por toda parte. Nos 86 hectares de área verde, o mato alto começa a esconder as trilhas que levam às lagoas e nascentes. Placas, construções e até o asfalto da pista de cooper foram pichados por vândalos. A falta de coleta faz com que as lixeiras transbordem garrafas e sacos plásticos que, com a chuva, escorrem para os leitos dágua poluindo nascentes. Os usuários lamentam que um lugar tão bonito e rico em recursos naturais raros esteja sendo deixado de lado pelas autoridades.

A parte mais distante da sede da Administração do Parque e do posto da Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA/DF) é a mais prejudicada. São raras as pessoas que entram pelo portão principal. A maioria corta caminho pelos buracos nas grades que delimitam a área. Há lugares em que o mato ultrapassa 1m de altura. Ver pessoas caminhando ou admirando a natureza tornou-se algo raro. "Se você visse como era bonito aqui, tudo bem cuidado, limpo. Mas de uns tempos para cá ficou tudo largado", lamenta o estudante Juan Thiago Araújo, 16 anos.

O jovem, morador de um bloco vizinho ao parque, conta que há muito tempo os garis não passam para recolher o lixo, e os seguranças, que costumavam circular de moto e bicicleta, raramente aparecem. "A situação se agrava quando chega a noite. Tem gente que vem beber e fazer bagunça. Aqui também virou ponto para que gangues marquem território pichando as paredes", revelou. Mesmo assim, Juan continua a fazer uma caminhada diária para contemplar a natureza e descansar a mente. "Espero que cuidem melhor do parque. É uma pena perder um lugar belo como este."

Desleixo

Para a presidente do 13o Grupo de Escoteiros Ave Branca do Parque Ecológico de Águas Claras, Pierangele Medeiros, 41, o desleixo começou após a morte do escoteiro Guilherme Pires Ferreira, 16 , em agosto do ano passado. À época, o garoto tentou atravessar a Lagoa dos Patos a nado, para cumprir uma prova do escotismo, mas não resistiu e se afogou. "Logo após o acidente, pediram para a gente sair. Até hoje não sabemos se poderemos voltar." Ela lembra que os 50 membros do grupo realizavam diversas atividade para a preservação da fauna e flora locais. "Tínhamos projetos de adubação e limpeza das nascentes. A fatalidade na Lagoa e a troca de secretários, durante o governo passado, dificultaram as coisas para nós", desabafou.

Objetos furtados, paredes pichadas, janelas e portas quebradas e o entulho em meio ao matagal fazem da sede do Grupo Ave Branca o principal retrato do descaso. Uma das construções virou banheiro público, onde usuários fazem as necessidades ao ar livre. O único segurança da área, que não quis se identificar, conta que "estava de férias e não sabe o que aconteceu ali nos últimos dias".

No outro extremo do Parque, próximo à sede da Administração e da CPMA/DF, a situação melhora. A principal queixa dos usuários é com relação ao mato alto. O casal Liziane Fernades, 35, e Damião Batistuta, 34, moradores da Colônia Agrícola Samambaia, freqüenta o parque com a família há mais de 2 anos. "Aqui é muito bom, mas ficou descuidado ultimamente. Precisa aparar o mato e consertar alguns brinquedos quebrados que oferecem riscos para as crianças", sugeriu Liziane.

A ex-funcionária da Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação e atual responsável pela administração do Parque de Águas Claras, Lucineide Costa, 39, revela que os problemas se devem às mudanças imposas pelo novo governo do DF, e que as dificuldades são contornadas com improvisos. "Os garis não vêm há muito tempo. O caminhão que traz as mudas é que está nos ajudando nessa tarefa", explica Lucineide.

À espera de novas ações

Um dos maiores motivos para o abandono do Parque de Águas Claras é a troca de governo. De acordo com o subsecretário da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Gustavo Souto Maior, com a mudança, todos os administradores dos parques foram exonerados, e o quadro de funcionários da secretaria foi enxugado. Além disso, ele lembra que a reforma administrativa do governo Arruda promoveu a extinção de alguns órgãos. Entre eles, três entidades que eram responsáveis pela manutenção e fiscalização dos parques: Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação (Comparques) , Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh).

Na nova gestão, todas as atribuições relacionadas ao meio ambiente do DF serão subordinadas à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Atualmente, encontra-se em tramitação na Câmara Legislativa um projeto que repassa para o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do DF a responsabilidade pelas adminstrações dos parques brasilienses. A instituição concentrará as funções da Comparques, Semarh e Seduh. "Com a aprovação teremos mais agilidade e facilidade para obter financiamentos e aplicar os futuros projetos ambientais", esclareceu Gustavo. O Instituto deve começar a funcionar somente em março.

Com o objetivo de suprir a falta temporária de administradores, a secretaria formou equipes com três ex-funcionários da Comparques. A medida, que é emergencial, visa diminuir a ocorrência de problemas mais graves, como a falta de segurança e limpeza. "Os problemas só serão definitivamente solucionados quando os novos administradores tomarem posse. Já começamos as nomeações e esperamos que nos próximos dias todos já estejam em seus cargos", declarou o subsecretário.

CB, 14/02/2007, Cidades, p. 28

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