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Parque da Pedra Branca sofre com degradacao

JB, Cidade, p.A16
21 de Jun de 2004

Parque da Pedra Branca sofre com degradação
IEF e vizinhos tentam preservar área

Sabrina Netto
Um luta desigual vem sendo travada pela manutenção de 12,5 mil hectares de flora, fauna e instalações históricas do Parque Estadual da Pedra Branca, na Zona Oeste. De um lado, extrativistas, caçadores, passarinheiros, incendiários e donos de construções irregulares comprometem a preservação da floresta. Sem muitos visitantes e cercada de vizinhos desde Bangu, Realengo, Camorim, Jacarepaguá e Vargem Grande, o parque conta com poucos defensores no trabalho de manutenção da área verde, responsável pelo equilíbrio climático da região.
Os números contra a Pedra Branca - área protegida pela União, de onde foram retiradas espécies de Mata Atlântica para o reflorestamento da Floresta da Tijuca - só fazem crescer. Enquanto em todo o ano passado foram removidas 28 famílias que moravam dentro da mata, só nos cinco primeiros meses deste ano o Instituto Estadual de Florestas (IEF) já demoliu 25 barracos. No entorno da área ambiental foram retiradas 38 construções irregulares. Em 2003, fiscais registraram 213 irregularidades - desmatamento e corte de árvores centenárias.
Segundo dados da Prefeitura do Rio, de 1999, o Parque da Pedra Branca é formado por floresta em 68% de sua extensão. No entanto, 30% da área estão degradados. Num incêndio ano passado, dois balões queimaram 20 mil metros quadrados de área verde.
- É preciso difundir a conscientização ambiental e aumentar a presença humana no parque, que é a maior floresta do mundo. Montamos uma exposição permanente e pretendemos trazer estudantes. O objetivo é chegar a mil visitantes por mês - afirma o presidente do IEF, Maurício Lobo, que aponta a caça como um dos maiores desafios para a preservação da área, onde vivem macacos-prego, bichos-preguiça e pelo menos 180 espécies de árvores.
Antônio Lacerda, 65 anos, presidente da ONG S.O.S. Floresta da Pedra Branca, já encontrou cinco bichos-preguiça mortos com tiros na cabeça. Há 10 anos, ele pôs uma placa de advertência na entrada do parque e recebeu ameaças.
- Ligaram dizendo: ''Vai ver a placa que você colocou, é assim que vamos te deixar'' - lembra, mostrando a tabuleta com 24 furos de bala.
Antônio ajudou a encontrar, cobertos pelo mato, dois quilômetros de uma canaleta feita por escravos da antiga Fazenda do Engenho Novo para levar água até um aqueduto, ainda de pé.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) detém uma área de 500 hectares, onde pretende instalar um campus e laboratórios. Há ainda um plano que compreende o reflorestamento de áreas desmatadas e a instalação de uma farmácia verde, usando a mão-de-obra de moradores da Colônia Juliano Moreira para o cultivo de plantas medicinais.
Do outro lado, em Vargem Grande, a advogada Miriam Teixeira, 40 anos, que se titula ''guardiã da floresta'', garante enfrentar qualquer briga para preservar a mata que a seduziu há 22 anos.
- A expansão imobiliária desordenada vai destruir esse berçário de mata atlântica, que precisa de investimento em ecoturismo - alerta a advogada, que usa mão-de-obra de cooperativas locais em projetos de reflorestamento.
O belga Guido Van de Velde, no país há 41 anos, é outro que cuida do parque. O técnico em eletrônica - que se gaba por ter consertado um aparelho de TV de Getúlio Vargas - há 20 anos mora no meio do mato:
- Sou um só, mas brigo para que não destruam esse verde que me acolheu.
No domingo, uma caminhada ecológica, na trilha da Represa do Açude do Camorim, vai lembrar o aniversário de 30 anos do parque.

JB, 21/06/2004, p. A16

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