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Parecis sofrem pressão de hoteleiros

A Gazeta - Cuiabá - MT
Autor: Najla Passos
21 de Jan de 2001

Índios parecis estão cedendo à pressão do setor hoteleiro de Campo Novo do Parecis e abrindo a Aldeia Seringal para a execução de projetos de ecoturismo. Seduzidos pela rentabilidade do empreendimento, os parecis desafiam o próprio Estatuto do Índio, que proíbe a exploração turística das reservas demarcadas.
O projeto desenvolvido na Aldeia Seringal favorece muito mais à rede hoteleira de Campo Novo do Parecis do que aos próprios habitantes da área. Os índios cobram R$ 5 por visitante, que pode passar o dia na tribo, nadar, conhecer as cachoeiras e aprender sobre a cultura da etnia. A venda de artesanato também é feita diretamente pelos índios. As atividades mais rentáveis, como hospedagem, alimentação e transporte dos turistas, são exploradas pela rede hoteleira.
Na Seringal, vivem 63 índios, de onze famílias distintas. Até então, a única atividade rentável desenvolvida era a confecção de artesanato, baseada principalmente na produção de cocares, arcos, flechas, colares e cestaria.
No total, a Reserva Pareci possui mais de 1,3 milhão de hectares de terra. A população é estimada em 1.600 índIos, divididos em 123 aldeias. Na região, encontram-se também sobreviventes das etnias Nhambikuara, Myky e Iratxe, divididos em 24 outras aldeias.
O cacique Narciso Kazaizase, líder da aldeia, tem fortes argumentos para defender o empreendimento. "0 homem branco pode ter uma fazenda de 50 ha e destinar toda a terra para a produção agrícola. 0 índio, ao contrário, não pode produzir nem mesmo em um décimo da sua terra. Porque tem que preservar o meio ambiente. Não é justo. Estamos cuidando das terras da União gratuitamente", afIrma ele.
Além disso, o cacique lembra que os índios foram abandonados pelo governo federal e estão à mercê da própria sorte. 0 orçamento da Fundação Nacional do índio foi reduzido em 48% nos últimos quatro anos. "Nossa aldeia está cravada em meio aos latifúndios de soja e algodão. A caça e a pesca estão cada vez mais raras. Não podemos mais viver apenas da agricultura de subsistência", defende.

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