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Parcerias com empresas ajudam o reflorestamento da Amazônia

Valor Econômico, Especial Empresas & Clima, p. G4
03 de Dez de 2018

Parcerias com empresas ajudam o reflorestamento da Amazônia

Sérgio Adeodato
Para o Valor, de Manaus

Na Fazenda Vera Cruz do Xingu, comprada pelo avô há 30 anos com generosos 44 mil hectares em Canarana (Mato Grosso), o produtor rural Henrique Carneiro se vê hoje empenhado em plantar árvores para proteger a água em meio à soja, milho, algodão e grandes extensões de pastagens. Mais de um terço da propriedade já teve a floresta natural colocada abaixo ao longo do tempo e agora, em parceria com o Instituto Socioambiental, a estratégia é achar meios viáveis de recuperar ao menos uma parte do estrago naquele pedaço da Amazônia.
Até o momento foram espalhadas 12,2 mil sementes de 67 espécies nativas, das quais 40% vingaram: "É um trabalho formiguinha que começa a envolver fazendeiros vizinhos", diz Carneiro.
O Brasil assumiu no Acordo de Paris o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de árvores até 2030 como principal contribuição ao esforço global de mitigação. O desafio é enorme. O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), anunciado em novembro de 2017, prevê o plantio de 390 mil hectares de mata no país em quatro anos.
Na Amazônia, a busca de soluções mobiliza ações que unem o fator econômico ao ambiental e ao social. Na Aliança pela Restauração na Amazônia - pacto com mais de 50 organizações da sociedade civil, governo, institutos de pesquisa e empresas - o objetivo é plantar 73 milhões de árvores em 300 mil hectares nesta que se considera a maior iniciativa global de reflorestamento.
"É chave reduzir custos da reposição de floresta e sair dos projetos pontuais para uma maior escala com oportunidades de renda", diz Rodrigo Medeiros, vice-presidente de parcerias estratégicas da Conservação Internacional (CI) uma das ONGs participantes.
Os números do desmatamento seguem na contramão do esforço de restauração. De acordo com o Instituto Imazon, a derrubada da floresta cresceu 40% entre agosto de 2017 e julho de 2018. Em 12 meses, foram perdidos 300 mil hectares - o que se pretende repor no principal projeto de plantio de árvores na Amazônia.
Pelas imagens de satélite, 83% da área desmatada, inclusive em reservas ambientais e terras indígenas, viraram pasto ou lavoura no período. "Os acordos antidesmatamento junto a cadeias produtivas relevantes, como da carne e da soja, afrouxaram", alerta Carlos Souza, coordenador do monitoramento do Imazon.
O controle é tecnicamente viável, como demonstram inovações da empresa Terras, de Belém (PA): um aplicativo que cruza dados ambientais e produtivos das fazendas dá suporte à liberação de crédito rural por bancos que não querem financiar o desmatamento. Ágil na análise, o novo sistema cadastrou 18 mil propriedades na base do Banco da Amazônia, com projeto de atingir um total de 200 mil até 2020 na região.
O aplicativo Alerta Clima Indígena, usado por diferentes etnias para vigilância e melhor uso da floresta, permite controle por celular, com recursos do Google e menor necessidade de internet. Alguns grupos fiscalizam invasões por assentamentos agrícolas, outros monitoram fogo e pesca ilegal e captam pontos geográficos por satélite para demarcação da área.
"O resultado é a maior autonomia sobre as informações do território, sem dependência de órgãos de governo", diz Fernanda Bortolotto, coordenadora do projeto no Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam).
Outras inovações incluem a produção madeireira sustentável. Na Floresta Nacional do Jamari, área pública federal aberta ao uso econômico por meio do manejo sustentável, 46 mil hectares são explorados pela empresa Amata, que usa imagens de satélite para a seleção das árvores que serão cortadas com menor impacto possível.
Para manter a integridade da floresta são cortados de 10 a 15 metros cúbicos de madeira por hectare, metade do permitido por lei.
"Para se combater o desmatamento, a economia precisa estar a favor da floresta e não contra ela", diz Beto Veríssimo, diretor de programas do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, em Belém (PA). Para ele, a combinação de tecnologias é saída para maior valorização das árvores em pé em detrimento de atividades que as derrubam. "Temos 20 milhões de habitantes e não podemos sempre esperar ações de governo."

Valor Econômico, 03/12/2018, Especial Empresas & Clima, p. G4

https://www.valor.com.br/agro/6009443/parcerias-com-empresas-ajudam-o-r…

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