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Parceria ajuda a recompor florestas

OESP, Agrícola, p. 6-7
08 de Abr de 2009

Parceria ajuda a recompor florestas
Agricultores formam a área de reserva legal com a ajuda de empresas interessadas em neutralizar carbono

Tânia Rabello

De um lado, paira sobre a cabeça do produtor rural a espada da lei ambiental, que o obriga a preservar ou recompor com árvores nativas no mínimo 20% de sua propriedade - no caso do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste. De outro lado, há produtores que mal têm o dinheiro para investir nas lavouras anuais, o que se dirá no plantio de árvores.

"Uma recomposição de floresta com espécies nativas, seguindo à risca toda a legislação, chega a R$ 15 por muda, por dois anos, com 1.667 mudas por hectare", diz o biólogo Otávio Morais, da empresa Brasil Diverso, especializada em recomposição de florestas. Ou seja, durante dois anos, que é o tempo que se espera que a muda nativa já possa crescer por conta própria, o produtor gastaria no mínimo R$ 12.500 por hectare/ano.
A ONG SOS Mata Atlântica, que também encampa, por meio de parcerias, o plantio de árvores nativas, indica um custo de R$ 12 por muda com 1.700 mudas por hectare, por dois anos, ou seja, R$ 10.200/hectare/ano.
Contra o aquecimento
A boa notícia é que o produtor rural tem, atualmente, possibilidade de recompor áreas com espécies nativas sem gastar nada. Deve apenas, logicamente, ceder a área, numa parceria fechada com empresas interessadas na neutralização de carbono (CO2) - o principal gás responsável pelo aquecimento global - ou aquelas que necessitam, por lei, fazer compensação ambiental com o plantio de árvores nativas.
Funciona assim: com o plantio de determinada quantidade de árvores, empresas ajudam a neutralizar ou a "sequestrar" o carbono lançado à atmosfera a partir de suas atividades ou eventos.
No Sítio Duas Cachoeiras, do produtor orgânico Guaraci Diniz, em Amparo (SP), a Gráfica The Plêiades, de Santo André (SP), financiou o plantio de 5 mil mudas de espécies nativas em 4,8 hectares. "O gasto no primeiro ano de plantio, entre novembro de 2007 e novembro de 2008, foi de R$ 20 mil", diz o proprietário da gráfica, Samuel Lopes de Oliveira. O resultado, para a empresa, será a neutralização de no mínimo 40 toneladas de carbono/ano, levando-se em conta todas as atividades da gráfica.

OS CÁLCULOS
O Laboratório de Engenharia Ecológica e Informática Aplicada da Unicamp fez os cálculos de quantas árvores seriam necessárias: 3.548 árvores em 2,15 hectares. "Como eu consegui as mudas no Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, a economia que o empresário teve em mudas, cerca de R$ 5 mil, aplicou no plantio de uma área maior", conta Diniz, que quer reflorestar 100% do sítio de 30 hectares - dos quais 90% já estão recompostos ou em processo de recomposição -, cujo cultivo é feito no sistema de agrofloresta. "Virei também produtor de água: em apenas um ano de plantio das mudas, surgiram mais quatro nascentes no sítio."

O pecuarista de corte Luis César Cestari, de Iacanga, região de Bauru (SP), também negocia com uma empresa de cerâmica de Bariri (SP) a recomposição da mata ciliar de um córrego que passa na sua propriedade. Na Fazenda São Paulo, de 240 hectares, a empresa deve plantar 2 hectares de mata ciliar, dos 20 hectares a que está sendo obrigada por lei. "Não é neutralização de carbono, mas uma compensação ambiental", diz Cestari.

"Acho que por aqui ninguém fez ainda esse tipo de parceria", diz Cestari, que já dispõe dos 20% da área de reserva legal. "Nos próximos meses o plantio deve começar. Quando a mata crescer, ela vai unir dois trechos de mata ciliar já existentes", finaliza.

3,3 milhões de hectares, ou apenas 14% do território é o que restou de mata nativa em SP, segundo a SMA
1 milhão de hectares é a área que margeia rios, córregos e represas sem cobertura vegetal em SP
10 mil reais por hectare/ano, por 2 anos, é o que o produtor gasta plantando árvores nativas

Produtor se cadastra em projetos de plantio
Secretaria do Meio Ambiente e ONG fazem a ponte entre agricultores e empresários que querem reflorestar

Tânia Rabello

O caminho que o pecuarista Luis César Cestari seguiu para fechar a parceria com a empresa que necessitava fazer compensação ambiental passou pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA). No Projeto Mata Ciliar, que tem como objetivo recuperar as matas ciliares do Estado de São Paulo, o produtor rural pode inscrever suas áreas ciliares para recuperação, desde que estejam livres de pendências jurídicas. Nesse "banco de áreas" empresas e demais interessados em promover a recuperação voluntária de matas ciliares poderão encontrar áreas disponíveis (o link na internet é www.ambiente.sp.gov.br/mataciliar).

Segundo a coordenadora do projeto, a engenheira agrônoma Helena Carrascosa, "nós vemos que o produtor rural tem de recompor mata ciliar, mas não tem dinheiro. E que há empresas que têm de fazer compensação ambiental ou querem neutralizar as emissões de carbono mas não têm onde plantar", diz. "Com o Projeto Mata Ciliar, juntamos a fome com a vontade de comer", define. O projeto, criado em 2007, já tem quase 1.600 hectares de áreas cadastradas, segundo Helena.
Na Mata Atlântica
Na ONG SOS Mata Atlântica também há dois projetos que produtores rurais interessados em recompor áreas de preservação podem procurar, desde que estejam localizados no bioma Mata Atlântica: o projeto Florestas do Futuro e o Clickarvore. A coordenadora de ambos, Ludmila Pugliese, explica que o Florestas do Futuro trabalha em parceria com várias empresas interessadas em recompor áreas dentro do bioma Mata Atlântica. "Eles se responsabilizam pelo plantio e manutenção das áreas por dois anos - no caso, são empresas interessadas em neutralização de carbono ou compensação ambiental, além de projetos socioambientais", diz.

Já o Clickarvore, que existe desde 2000, tem a participação ativa dos internautas: a cada clique no link do programa, no site da SOS Mata Atlântica (www.sosmatatlantica.org.br), uma muda é doada por alguma empresa participante. "Temos mais de mil projetos no Clickarvore, que acompanhamos anualmente", diz Ludmila. "A maior parte das árvores tem sido plantada em áreas particulares, sobretudo nas propriedades rurais", garante.

"O nosso foco são justamente os produtores rurais porque há muita área com necessidade de recomposição, como exige a lei", diz ela, apresentando um balanço do Clickarvore: em nove anos de projeto, foram doados 19 milhões de mudas - ou o equivalente a 13 mil campos de futebol. Já o Florestas do Futuro, desde 2004, já plantou 2 milhões de mudas ou 1.300 campos de futebol.

OESP, 08/04/2009, Agrícola, p. 6-7

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