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Parabólicas

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
26 de Mai de 2005

Ontem, por volta das 10h00 da manhã, uma índia Wapixana - aparentando 30 anos-, andava pelas ruas do bairro Caçari, pedindo esmola. Estava acompanhada de três crianças, uma das quais com deficiência de locomoção. A índia, além da esmola para pagar comida, pedia uma cadeira de roda para servir à filha deficiente, na ocasião levada nos braços, por um curumim de sete anos de idade.
Ao falar sobre a vida, a índia disse que veio da região da "Serra da Moça" para morar em Boa Vista, no bairro Nova Cidade, faz pouco mais de dois anos. Explicou que saiu da área rural porque o lugar onde morava pertencia a um fazendeiro, que pediu a sua família para deixar o local. "Para não viver brigando preferimos vir para a cidade tentar a vida de alguma forma", diz conformada. Aqui, mãe de seis filhos e com outro na barriga, a indígena diz viver pedindo ajuda, enquanto o marido, às vezes, consegue alguns trocados juntando latas de alumínio pelas ruas e avenidas da Capital.
Perguntada se não gostaria de voltar a viver numa comunidade indígena, a índia Wapixana diz que sim, "afinal, na cidade tudo é comprado e no interior a gente pode, pelo menos, plantar uma roça para comer mandioca, farinha, feijão e arroz". Disse ter procurado várias vezes a Fundação Nacional do Índio - Funai, na esperança de ser assentada nalguma das inúmeras malocas existentes e que nunca recebeu qualquer promessa de que isso fosse possível.
A situação de miséria e penúria vivida por essa família de índios Wapixanas, é o retrato mais nítido da forma cruel com que o estado brasileiro, representado pela Funai, trata o índio, que constitucionalmente é obrigado a tutelá-lo. Transformada em biombo para a ação de organizações não governamentais, que atuam com objetivos quase sempre escusos, usando os índios como escudo para a consecução de interesses internacionais, a Funai é uma instituição senil e incompetente. De uma agência provedora de serviço públicos voltada às populações indígenas, imaginada pelo Marechal Rondon, quando criou o antigo Serviço de Proteção aos Índios - SPI, aquela autarquia federal foi transformada em instrumento público para abrigar ações políticas de quem usa os índios como massa de manobra.
É inaceitável que a Funai, que jurisdiciona mais de 50% da área geográfica do Estado de Roraima - manda-chuva absoluta em centenas de comunidades indígenas-, não encontre lugar para reassentar uma família indígena, que se arrasta miseravelmente para sobreviver numa cidade, para a qual está inapelavelmente despreparada. Como essa índia Wapixana, milhares de outras vivem em circunstâncias semelhantes na periferia de Boa Vista, desabrigadas de qualquer programa de amparo patrocinado pela instituição que foi criada para administrar os interesses dos indígenas brasileiros.
Está na hora de alguma instituição reagir, para fazer a Funai cumprir suas finalidades e não continuar como uma agência de fomento e prática de políticas, que nada têm de interesse nacional e dos índios que ela tem obrigação de proteger.

DENUDANDO 1
Na terça-feira à noite, o "Jornal da Noite" da Rede Bandeirante, apresentou uma longa matéria feita pelo repórter Roberto Cabrini, sobre a situação das reservas indígenas em Roraima. Embora tenha feito questão de ressalvar a existência de missionários, evangélicos e católicos, que atuam com seriedade nessas áreas, Cabrini mostrou depoimentos que comprovam que a maioria deles tem objetivos escusos.
DENUNDANDO 2
Um dos depoimentos mais fortes mostrados na matéria da Rede Bandeirantes foi o de Davi Kopenawa Ianomâmi, que já recebeu prêmios patrocinados pela ONU, e hoje vive anônimo entre seu povo. O líder indígena fez um apelo ao repórter Roberto Cabrini, para que fosse retirado da reserva um missionário estrangeiro que estaria escravizando o povo ianomâmi. Apesar das denúncias serem muito fortes, é difícil esperar qualquer ação do governo Lula da Silva para mandar apurá-la.

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