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Para reduzir impacto do Rodoanel, plantas vão ser recolhidas

OESP, Metrópole, p. C3
13 de Ago de 2012

Para reduzir impacto do Rodoanel, plantas vão ser recolhidas
Ideia é mapear, replicar e replantar espécies nativas que são encontradas no traçado do futuro Trecho Norte

Bruno Ribeiro

A vegetação da Serra da Cantareira, na zona norte de São Paulo, vai ser campo de pesquisa para um levantamento botânico inédito na região. O estudo vai mapear, recolher, replicar e replantar espécies de plantas nativas e será usado nos trabalhos de redução dos impactos ambientais do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, cujas obras devem começar até março.
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Alex Silva/AE
Área reflorestada na Cantareira será maior, usando poucas mudas de várias espécies diferentes
O estudo é resultado de um contrato firmado entre a empresa estadual Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), responsável pela construção das novas pistas, e o Instituto de Botânica, ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente. O contrato, de R$ 2,5 milhões, foi assinado na quinta-feira e tem validade de três anos.
Projeto parecido, realizado no Trecho Sul do Rodoanel, identificou espécies que eram consideradas extintas pelos estudiosos. A diferença entre os trabalhos, segundo o diretor do Centro de Pesquisa do Instituto, Luiz Mauro Barbosa, é que no Trecho Sul os trabalhos começaram com as obras já em andamento. "Dessa vez, teremos mais tempo para nos planejarmos", afirma. "Brinco dizendo que, no Trecho Sul, não tivemos de subir nas árvores para coletar as orquídeas. Era só esperar as árvores serem derrubadas", exagera Barbosa.
'Para o MP ver'. O diretor explica que esse tipo de levantamento serve para permitir que a vegetação cresça de forma mais consistente nos locais de reflorestamento. "Há alguns anos, o trabalho de reflorestamento era até chamado de 'para o Ministério ver', numa referência ao Ministério Público (que fiscaliza o cumprimento dos serviços mitigadores de impacto). Porque, passados alguns anos, a vegetação replantada não se sustentava", afirma.
Agora, diz ele, com o aprendizado obtido nos estudos do Trecho Sul, a produtividade da área reflorestada é maior. "Anteriormente, o plantio era feito com várias mudas de poucas espécies diferentes. Agora, a orientação é utilizar poucas mudas de várias espécies diferentes", diz o pesquisador.
Serão cerca de 60 pessoas, entre funcionários do instituto e estudantes de botânica, que vão percorrer toda a área do traçado da obra - uma faixa de 43 quilômetros de extensão por cerca de 300 metros de largura. Uma das prioridades é identificar separadamente as chamadas espécies pioneiras - vegetação que tem um ciclo de vida menor e que é responsável por permitir que outras árvores, mais robustas, cresçam com mais força - e as não pioneiras.
"As pioneiras precisam de mais sol. As não pioneiras, de mais sombra nos primeiros anos", diz Barbosa.
Para se ter ideia da diversidade vegetal da área, o diretor diz que cada hectare de mata (10 mil m², ou a área equivalente ao tamanho de um campo de futebol) mantém cerca de 170 espécies diferentes de plantas.
Dersa. Para a Dersa, a escolha do instituto para fazer esse trabalho traz vantagens. Como é um órgão estatal, o contrato não exigiu licitação pública e os ganhos técnicos desse levantamento ficarão para o governo do Estado. Mas o diretor-presidente da Dersa, Laurence Lourenço, afirma que a empresa foi escolhida primeiramente porque já havia realizado o trabalho no Trecho Sul. O mapeamento, diz ele, permite que sejam estabelecidos critérios mais rígidos na hora do poder público definir as ações de compensação ambiental para o licenciamento de obras. "Impactos com certeza sempre vão existir. Mas é possível reduzi-los."

Instituto de Botânica criou viveiro de mudas raras no Trecho Sul

O Instituto de Botânica criou viveiros especializados para receber e reproduzir mudas de espécies vegetais raras colhidas das áreas por onde passou a obra do Trecho Sul do Rodoanel. O viveiro está sendo responsável por reproduzir até espécies consideradas extintas, como um tipo de bromélia chamado Tillandsia linearis - cuja extinção havia sido decretada em 1938.
A proposta é que viveiros parecidos sejam criados para abrigar mudas recolhidas do Trecho Norte. No contrato das empreiteiras que executarão a obra, vão constar exigências para que os trabalhadores ajudem na coleta das espécies mais interessantes.
Exóticas. Outra frente de atuação do instituto na Cantareira será encontrar as plantas consideradas "exóticas". São aquelas que não constam na lista de espécies nativas do Estado e apareceram lá por causa da ação do homem. "Essas espécies precisam ser retiradas da área e não podem ser replantadas", segundo o diretor do instituto, Luiz Miguel Barbosa. Se isso não ocorre, elas podem agir de forma predatória com as outras plantas. / B.R.

Até espécies 'extintas' foram encontradas

Streptochaeta spicata
Espécie encontrada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, natural de áreas como a Mata Atlântica, a Caatinga, o Cerrado e a Amazônia.

Terolepis polygonoides
Tipo de planta de família Melastomataceae, que tem espécies muito valorizadas por suas características ornamentais, encontrada na zona sul da capital.

Zygopetalum maxillare
Espécie de orquídea rara, também considerada extinta antes do trabalho de mapeamento de espécies do Trecho Sul, que agora é replicada.

OESP, 13/08/2012, Metrópole, p. C3

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