VOLTAR

Para MPF, Chevron furou poço com pressão maior de forma premeditada

OESP, Vida, p. A14
20 de Mar de 2012

Para MPF, Chevron furou poço com pressão maior de forma premeditada

FELIPE WERNECK, SABRINA VALLE / RIO

Relatório da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em Campos dos Goytacazes (RJ) sobre o vazamento de 2,4 mil barris de óleo no Campo de Frade, em novembro, e o afloramento divulgado semana passada acusa a Chevron de ter utilizado uma pressão na perfuração do poço superior à tolerada de forma premeditada. O excesso de pressão é apontado como uma das causas do vazamento, que estaria "fora de controle". O MPF não descarta pedir à Justiça a prisão preventiva dos executivos da Chevron. O governo federal avalia prolongar a interrupção da exploração de petróleo no campo.
"Eles assumiram um risco premeditado", afirmou ontem o procurador da República Eduardo Santos, do MPF, que acusou a Chevron de "ter botado uma pressão maior que a suportada e ter cavado além do que foi autorizado". "O vazamento não é mais no poço, é na rocha reservadora, e não tem como ser controlado. Não se sabe a capacidade. É uma cratera no solo marinho", acrescentou o procurador, que pretende formalizar denúncia amanhã, com base na lei de crimes ambientais (9.605).
"O crime está em andamento, por isso eu não descarto (pedir) a prisão", afirmou o procurador. Santos foi o autor do pedido de medida cautelar que resultou na proibição, determinada pela Justiça na noite de sexta-feira, de que 17 funcionários da Chevron e da Transocean, que operava a plataforma na Bacia de Campos, se ausentem do País até o julgamento da ação penal. O presidente da Chevron, George Raymond Buck III, está na lista.
Injeção. O delegado da Polícia Federal Fábio Scliar, responsável pelo inquérito, também afirmou, baseado no depoimento de geólogos, que houve excesso na pressão usada na injeção de fluido de perfuração. "O poço explodiu e depois foi necessário usar mais pressão para abandoná-lo." Segundo ele, uma área de cerca de 7 quilômetros quadrados do Campo de Frade pode estar sob risco de novos vazamentos. "A situação é grave e está fora de controle. Como é inédita, a indústria não está preparada para responder." O novo afloramento ocorreu a 3 quilômetros do poço que vazou em novembro, e a Chevron admitiu um afundamento na área em que se formou uma fissura de 800 metros.
"A empresa vai respeitar a lei brasileira e defender seus empregados com todos os recursos que a lei oferece", disse ontem o diretor de Assuntos Corporativos da Chevron, Rafael Jaen. Segundo ele, a petroleira ainda não foi notificada sobre a decisão que impede funcionários de deixar o País. Em relação ao afloramento de óleo, Jaen afirmou que a situação está sob controle. "São gotas que saem do subsolo. Todos os dias fazemos sobrevoos, e a mancha está diminuindo; fragmentada, concentra dois litros de óleo", afirmou.
Segundo ele, a petroleira interrompeu suas operações no campo de Frade e a intenção é retomar as atividades após a conclusão de um estudo geológico "técnico e profundo", realizado em conjunto com a Petrobrás. "Por enquanto, são especulações, hipóteses e teorias."
A Transocean informou apenas que "vem cooperando com as autoridades, mas continuará defendendo veementemente os seus colaboradores".

Suspensão de exploração pode ser prolongada
Produção no Campo de Frade pode continuar interrompida; amanhã, o governo avalia novo relatório da Chevron

MARTA SALOMON / BRASÍLIA

O governo avalia prolongar a interrupção da exploração de petróleo no Campo de Frade, na Bacia de Campos. A produção está interrompida a pedido da multinacional Chevron desde sexta-feira, por medida de segurança. Novo relatório da operadora será avaliado em reunião, amanhã.
No primeiro vazamento registrado no Campo de Frade, em novembro, a possibilidade de suspender a exploração de petróleo não foi cogitada, porque as informações disponíveis apontavam que a retirada do óleo aliviaria a pressão do reservatório. A continuidade da exploração seria, portanto, oportuna para evitar novos vazamentos.
Diante da fissura de 800 metros encontrada no fundo do oceano, onde foram constatados nove novos pontos de vazamento - e sobretudo por conta da fragilidade do terreno nessa região da Bacia de Campos -, o governo entendeu que a melhor medida, por segurança, seria suspender a produção no Campo de Frade.
As condições de eventual retomada da produção não estão definidas. Até semana passada, o Campo de Frade produzia 61,5 mil barris por dia. E a expectativa da Chevron era explorar o campo até 2025. O Estudo de Impacto Ambiental do empreendimento estimou as reservas totais do campo em 66,8 milhões de metros cúbicos de óleo e 4,2 bilhões de metros cúbicos de gás.
"Não temos todos os elementos por enquanto. Pode ter sido um problema na operação ou um problema maior. O que precisamos é ter convicção do que está acontecendo", disse ontem o secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Marco Antonio Martins Almeida, que participa do debate no governo.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) informou que, por ora, "não há elementos que indiquem tendência de aumento do vazamento no Campo de Frade". A agência coordena um comitê de técnicos formado para estudar os acontecimentos na região. Não foram encontrados indícios de problemas no campo vizinho, de Roncador.
A licença para a exploração de petróleo e gás concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estabeleceu prazo mínimo de 30 dias para o início da desativação do Campo de Frade. A licença foi renovada à Chevron até junho de 2013.
O pedido da Chevron de suspender a exploração foi feito na tarde da quinta-feira passada à ANP e foi acatado pela agência no dia seguinte.
Poços horizontais. Os estudos de impacto ambiental do empreendimento foram feitos pela empresa Ecologus Engenharia Consultiva, contratada pela Chevron. De acordo com o estudo, disponível no endereço eletrônico do Ibama, a empresa optou por perfurar poços horizontais à superfície do mar para aumentar a produção do campo.
A tecnologia dos poços horizontais "tem sido recomendada por aumentar consideravelmente a taxa de produção, uma vez que aumenta a área de contato entre o poço e o reservatório, favorecendo maior penetração do óleo na tubulação do poço", afirma o documento.
A operação licenciada prevê também a reinjeção de água extraída junto com o petróleo no reservatório, no fundo do mar. O estudo afirma que um eventual vazamento poderia ter seus efeitos contidos. Os impactos foram considerados "pouco significativos". A Chevron explora o campo desde 2008, em parceria com a Petrobrás (30%) e a Frade Japão Petróleo Ltda. (18,3%). O campo tem 273 quilômetros de extensão.

OESP, 20/03/2012, Vida, p. A14

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,para-mpf-chevron-furou-poco…
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,suspensao-de-exploracao-pod…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.